Agronegócio

Adubo garantido só para safra atual

Adubo garantido só para safra atual
Brasil está importando mais de 80% de sua necessidade de fertilizantes na atual safra de grãos | Crédito: Divulgação

São Paulo – As importações de fertilizantes pelo Brasil em patamares recordes, com produtores e indústrias acelerando as compras em meio a preocupações com a oferta global, permitirão que agricultores tenham adubos, ainda que mais caros, para aplicar na atual temporada 2021/22, segundo especialistas.

Mas os temores do setor privado e do governo com a oferta de fertilizantes no País, que está importando mais de 80% de sua necessidade neste ano, justificam-se para a próxima temporada de grãos, em 2022/23, que começa a ser plantada em setembro do próximo ano, avaliaram a Agroconsult e a estatal Conab.

Caso essa menor disponibilidade de adubos se acentue – enquanto países produtores de fertilizantes, como a China, restringem a oferta -, o ritmo de expansão da agricultura perderia velocidade, após elevados investimentos do setor para ganhar área e produtividade em 2021/22, avaliou a Agroconsult.

Segundo o sócio-diretor da consultoria André Pessôa, a oferta de fertilizantes será suficiente para a lavoura brasileira de soja 2021/22, cujo plantio caminha para o final, e mesmo a segunda safra de milho e de algodão deverá ter adubos suficientes, apesar dos preços mais altos.

“Para a safrinha (segunda safra milho) de 2022 vamos passar bastante apertado, mais vai chegar adubo, vai ser entregue, tem um line-up (programação de importação) gigantesco de adubo para as próximas semanas para a safrinha brasileira….”, disse ele.

Problemas no futuro – Mas André Pessoavislumbra problema para a safra de verão 2022/23. “Tenho até dito para os produtores que o problema já deixou de ser preço. Hoje é garantia da disponibilidade… Os custos já aumentaram e vão continuar elevados. E isso vai reduzir a velocidade de expansão da agricultura brasileira na safra 22/23”, ressaltou o consultor, durante evento da associação de exportadores de cereais Anec, na quinta-feira.

Segundo ele, em 2022/23 a área plantada com a soja brasileira não deve ter o mesmo crescimento de mais de 1,5 milhão de hectares, ou mais de 4%, verificado em 2021/22, assim como o milho e o algodão vão perder ritmo.

“Vamos diminuir o ritmo de expansão na safra 22/23, ainda com preços internacionais bons, os preços (dos grãos) lá fora não estão tão ruins, combinados com câmbio desvalorizado, deveriam permitir a sequência de três anos muito favoráveis.”

A dependência das importações e restrições de oferta têm movimentado o governo. O presidente Jair Bolsonaro se manifestou sobre o assunto nos últimos dias, após a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ter se encontrado na Rússia com produtores em tentativa de garantir o fornecimento.

Compras são recordes, diz Conab

São Paulo – A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ressaltou que as importações de fertilizantes do Brasil estão em patamares recordes no acumulado do ano de janeiro a outubro, somando 33,8 milhões de toneladas, aumento de cerca de 22% ante o mesmo período de 2020 e já um volume histórico se comparado com anos completos.

E o total importado neste ano poderia se aproximar de 40 milhões de toneladas, concordou o superintendente de Logística da Conab, Thomé Guth, considerando desembarques de 3 milhões de toneladas já registrados este mês, até a terceira semana.

“Em termos de oferta para a safra 2021/22, a situação está equacionada, o custo está bem mais alto, tem elevação significativa, mas em termos de abastecimento, até pelo nível de importação, falta de adubo não teremos”, disse ele.
Guth comentou que produtores estão buscando alternativas para diminuir custos logísticos, como importação pelos portos do Arco Norte do País. Isso acontece pela possibilidade do chamado frete de retorno – sobe o grão e desce o fertilizante.

De janeiro a outubro, a importação pelo Arco Norte aumentou quase quatro vezes ante mesmo período de 2020, para 2,4 milhões de tonelada, com investimentos permitindo a nova logística.

Guth também avaliou que a oferta de adubo para safra que será plantada no ano que vem merece atenção. “É um ponto de alerta, um sinal amarelo no horizonte para o produtor ter a sabedoria de antecipar processos…”.

Um agravante da situação da oferta, frisou ele, decorre do fato de o fertilizante ser um produto que, se armazenado por muito tempo, pega umidade, causando o empedramento e problemas para a qualidade. Isso limitaria uma antecipação ainda maior de aquisições.

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