Agricultura promete alavancar VBP de Minas nesta temporada

Minas Gerais caminha para mais uma alta no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP). A previsão é de que, neste ano, o faturamento, dentro da porteira, com base nos dados até março, alcance R$ 143,6 bilhões, aumento de 16,78%. O resultado positivo vem de importantes produtos como o café, soja e milho. Já o leite, suínos e frangos tendem a encerrar o ano com resultados negativos. Os dados são do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
De acordo com a coordenadora da Assistência Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, o resultado positivo no VBP para 2022 frente a 2021, estimado pelo Mapa, é resultado da produção maior de alguns itens – como milho e café – e também pelos preços valorizados das commodities agrícolas.
“Houve valorização de preços no comparativo. Os preços dos grãos e do café vêm apresentando oscilações muito influenciados pelo mercado internacional. Pelos dados do Mapa, Minas Gerais está como o terceiro maior VBP do ranking entre os estados. Isso é muito importante”, disse.
Conforme os dados do Mapa, o VBP das lavouras mineiras está projetado em R$ 101,7 bilhões, representando um avanço de 30,5% sobre os R$ 77,9 bilhões registrados em 2021.
Dentre os produtos, a maior alta é vista na produção de café. O faturamento dentro da porteira foi estimado em R$ 39,1 bilhões e está 63,3% maior que o registrado anteriormente. A forte elevação é resultado dos maiores preços no mercado, após a quebra de safra em 2021 e uma estimativa de crescimento na produção de 2022, porém, menor que o esperado pelo setor.
Em Minas Gerais, a safra total de café em 2022 deve alcançar 26,9 milhões de sacas de 60 quilos, segundo estimou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A primeira previsão para a cultura no ano, indica uma alta de 21,9% sobre a safra 2021.
Dentre as espécies, para o café arábica, a tendência é de avanço de 63,4% no VBP, que foi estimado em R$ 38,9 bilhões. No café conilon, o VBP projetado para 2022 é de R$ 251,05 milhões, valor 45,6% superior.
“Vamos ter uma safra de café maior que no ano anterior, mas menor que o esperado. Há uma variação de preços grandes pela oferta menor do grão e temos muitos cafeicultores com perdas produtivas importantes no Estado”, explicou Aline.
Resultado positivo também é esperado no VBP da produção de soja. Com preços altos e demanda elevada nos mercados internos e externos, a produção foi ampliada em Minas e pode chegar a 7,6 milhões de toneladas, 8,5% maior. Estes fatores contribuíram para um aumento de 3,34% no VBP da oleaginosa, estimado em R$ 21,8 bilhões.
Para o milho, que também terá uma produção maior e segue com preços valorizados, o VBP foi estimado em R$ 12,5 bilhões, superando em 15,8% o valor registrado em 2021. Conforme os dados da Conab, ao todo, a produção de milho em Minas Gerais pode somar 8,6 milhões de toneladas, 23,3% maior que em 2020/21.
Para a cultura da cana-de-açúcar, a previsão é de um faturamento em torno de R$ 13,8 bilhões, superando em 34% o registrado em 2021. “No caso da cana, a gente vê influências no mercado dos derivados de cana, em especial, para o açúcar, que está bastante demandado no mercado internacional”.
Destaque também para o VBP da batata inglesa, que pode chegar a R$ 3,4 bilhões, variação positiva de 18,6%. Na produção de banana, cujo VBP foi estimado em R$ 3,2 bilhões, a estimativa é de um aumento de 56,8%. O algodão segue com tendência de um faturamento bruto 13,12% maior e somando R$ 690 milhões.
Pecuária
Ao contrário da agricultura, o Valor Bruto da Produção Agropecuária para a pecuária está negativo. Com aumento significativo de custo e preços aquém do necessário, o produtor tem sentido os efeitos e freado a produção. A estimativa é de uma queda de 7% e um faturamento de R$ 41,8 bilhões.
Dentre os produtos, apenas bovinos seguem com resultado positivo, porém, bem pequeno. A estimativa é de uma alta de apenas 0,46% em 2022, com o faturamento bruto da atividade chegando a R$ 15 bilhões.
Os demais setores estão em queda. No caso dos suínos, a retração esperada é de 17,6% e VBP de R$ 3,28 bilhões. Redução também no faturamento da produção de frangos, -17,28%, chegando a R$ 7,3 bilhões.
O faturamento bruto do leite tende a cair 6,35%, com a produção avaliada em R$ 14,5 bilhões. Em ovos, o Mapa aponta para uma queda de 1,99% e faturamento de R$ 1,6 bilhão.
De acordo com a coordenadora da Assistência Técnica da Faemg, o aumento dos custos tem impactado a pecuária de Minas.
“A queda no VBP da pecuária é resultado das influências também relacionadas às oscilações de preços dos produtos e à alta dos insumos, como ração, por exemplo. A pecuária está sendo muito afetada pelo aumento dos insumos ao longo dos últimos tempos, pela queda nas exportações e, mais recentemente, pela alta dos fertilizantes. Isso impacta o produtor e a nossa produção”, avaliou.
Demanda por café terá 1ª queda em mais de 10 anos
São Paulo – A demanda do brasileiro por café deverá fechar o ano fiscal 2021/22, em junho, com a primeira queda anual em mais de dez anos, pelo menos, com um quadro de desaceleração econômica e disparada nos preços reduzindo o consumo do tradicional cafezinho no País que é o segundo consumidor global, avaliou um estudo da hEDGEpoint Global Markets.
“Em um ano que combina perdas substanciais no salário mínimo devido a altas taxas da inflação, juntamente com atividade econômica lenta e aumento dos preços ao consumidor final, a demanda deve registrar impactos negativos”, disse a analista Natália Gandolphi, em estudo obtido com exclusividade pela Reuters.
A especialista na empresa de gestão de risco e hedge de commodities agrícolas e energéticas estimou uma queda de 4% na demanda interna do Brasil, para 21,5 milhões de sacas de 60 kg, no ano entre julho de 2021 a junho de 2022.
A pesquisa foi divulgada após a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) ter publicado uma estimativa de crescimento no consumo de café no País de 1,7% no período entre novembro de 2020 e outubro de 2021, na semana passada.
Mas a analista da hEDGEpoint ressaltou que no período avaliado pela Abic os consumidores mais carentes contaram com auxílio emergencial do governo, o que foi importante para que a população mantivesse o padrão de consumo.
A especialista notou que o auxílio está sendo considerado para 2022, com novo layout, mas ainda não foi lançado.
“Assim, nossa projeção está em linha com esse cenário: menor crescimento econômico, salário mínimo prejudicado pela inflação e ausência de assistência governamental que sustente o poder de compra – tudo isso com preços em alta”.
Embora a Abic tenha apresentado um quadro de consumo mais resiliente, a própria associação admitiu uma situação desafiadora, com a indústria reajustando o preço em 52% entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021. Foi repassada apenas parte da alta da matéria-prima, que disparou 155% após uma colheita menor pela seca em 2021 e geadas, que reduziram o potencial de safra de 2022.
Para o novo ano fiscal, entre julho de 2022 e junho de 2023, a hEDGEpoint espera uma recuperação no nível de consumo do Brasil – que fica atrás dos EUA entre os maiores consumidores globais -, ainda que para níveis inferiores aos vistos em 2020/21 (22,4 milhões de sacas), caso a situação econômica continue a se deteriorar em 2023. (Reuters)
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