Agronegócio de Minas Gerais teme desemprego e desestruturação de cadeias com taxação dos EUA

Maior produtor de café do Brasil e produtor de carnes, Minas Gerais pode registrar perdas significativas com a taxação de 50% nas exportações dos produtos para os Estados Unidos (EUA). Dentre os itens do agronegócio mineiro embarcados para o país norte-americano, o café é o principal e foi responsável por uma movimentação de US$ 1,5 bilhão em 2024.
Diante à manutenção da taxação sobre os itens, o setor produtivo teme registrar impactos profundos como desemprego, desestruturação de cadeias produtivas e perda de competitividade no mercado internacional.
A preocupação se deve ao setor de café e carnes não ter entrado na extensa lista de exceções que a Casa Branca estabeleceu às tarifas de 50% aplicadas ao Brasil. Porém, o segmento do café em Minas ainda espera ser incluído em uma relação abrangente que vem sendo elaborada pelo governo norte-americano e escapar da taxa.
Em nota, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg Senar) ressaltou que o momento é de preocupação e a manutenção das taxas sobre produtos agropecuários – como o café e as carnes – pode provocar perdas enormes em Minas Gerais e demais regiões produtoras.
“O Sistema Faemg Senar manifesta preocupação com a taxação de 50% anunciada pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Medidas dessa natureza podem gerar impactos profundos, como desemprego, desestruturação de cadeias produtivas e perda de competitividade no mercado internacional”.
No Estado, a grande preocupação gira em torno do café, que é o principal produto da pauta exportadora. Conforme os dados da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), em 2024, o principal produto do agronegócio embarcado para os Estados Unidos foi o café, com uma movimentação financeira de US$ 1,5 bilhão e 5,9 milhões de sacas de 60 quilos embarcadas. O comércio do grão com o país norte americano seguiu firme em 2025. Nos primeiros cinco meses do ano, a comercialização do café movimentou US$ 846,5 milhões entre janeiro e maio.
“Minas Gerais, maior produtor de café do Brasil e importante exportador para o mercado norte-americano, foi diretamente afetado: o café não foi incluído na lista de produtos isentos da tarifa adicional imposta pelo presidente Donald Trump. Além do café, carnes e outros produtos também serão impactados”, explicou a Faemg em nota.
Assim como para o agronegócio do Brasil, café é importante para a economia dos EUA
Em nota, o presidente do Conselho Deliberativo do Cecafé, Márcio C. Ferreira, ressaltou que a entidade seguirá em tratativas com seus pares dos EUA, como a National Coffee Association (NCA), com o intuito de que o produto passe a integrar a lista de exceções elaborada pelo governo americano.
“Na relação comercial cafeeira entre EUA e Brasil, as nações são imprescindíveis uma à outra, uma vez que os cafés brasileiros representam uma fatia superior a 30% do mercado cafeeiro norte-americano, sendo o principal fornecedor ao país, ao passo que os EUA respondem por 16% das exportações do produto nacional, sendo o principal destino de nossas exportações”.
Ele destacou ainda que além da importância para o Brasil, o café também é de suma relevância aos Estados Unidos. Isso porque 76% do povo norte-americano consome a bebida e a população gasta cerca de US$ 110 bilhões em café e itens relacionados ao ano (US$ 301 milhões por dia). O produto é responsável por mais de 8% do valor de toda a indústria de serviços alimentícios do país.
“Diante da relevância do café aos consumidores e à economia norte-americana, entendemos que se faz necessária a revisão da decisão de taxar os cafés do Brasil – ato que implicará elevação desmedida de preços e inflação, uma vez que esses tributos serão repassados à população americana no ato da compra –, medida pela qual seguiremos trabalhando junto a nossos parceiros nos Estados Unidos, de maneira que consigamos lograr êxito no sentido de, ao menos, o café ser incluído entre os produtos que fiquem isentos da tributação de 50%”.
Em Minas Gerais, o Sistema Faemg Senar também defende uma solução técnica e diplomática, que preserve a segurança jurídica e a estabilidade comercial, garantindo a continuidade das exportações e a proteção de uma cadeia produtiva que gera milhões de empregos no país. “Seguiremos atentos e atuantes em defesa do agro brasileiro”.
Tarifa de de 50% sobre carne pode elevar taxação para 76% e inviabilizar embarques
A imposição da tarifa de 50% por parte dos Estados Unidos também afetará o setor de carnes de Minas Gerais e demais estados que mantêm comercialização com o país. O embarque do setor de carnes de Minas Gerais para os EUA em 2024 movimentou cerca de US$ 145 milhões, com a exportação de 325 toneladas. O país é o segundo maior comprador do produto, perdendo apenas para a China, e já comprou US$ 92,9 milhões entre janeiro e maio de 2025.
Dentre as carnes, a mais exportada por Minas Gerais é a bovina, com um faturamento de US$ 140 milhões movimentados em 2024 com os embarques para os Estados Unidos.
Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) ressaltou que a taxação em 50% inviabiliza a exportação para os Estados Unidos.
“A ABIEC acompanha com atenção o anúncio do presidente Donald Trump sobre a aplicação de uma nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, sem isenção para a carne bovina, a partir de 6 de agosto. Somada à alíquota atual de 26,4%, a carga tributária total ultrapassaria 76%, comprometendo a viabilidade econômica das exportações ao mercado norte-americano, que importou 229 mil toneladas em 2024. Para 2025, a previsão era atingir 400 mil toneladas”.
Ouça a rádio de Minas