Agronegócio mineiro cresce em valor e bate recorde em exportações
Em 2025, o agronegócio de Minas Gerais caminha para consolidar mais um ano de forte desempenho. Entre os destaques estão o crescimento expressivo do Valor Bruto da Produção (VBP) e o recorde observado nas exportações, que mesmo antes de encerrar o exercício, já superam o valor registrado ao longo de 2024. O desempenho reafirma o protagonismo do Estado no cenário nacional e internacional. Apesar disso, o setor enfrenta desafios, como os juros altos e a maior dificuldade de acessar o crédito rural, o que poderá impactar a produção em 2026.
Conforme os dados do Balanço 2025 do Sistema Faemg Senar, divulgado na manhã desta terça-feira, de janeiro a novembro, o agronegócio mineiro alcançou R$ 171,8 bilhões em VBP e US$ 18,1 bilhões em vendas externas, já superando todo o resultado de 2024 e evidenciando a capacidade do agronegócio mineiro de gerar riqueza, empregos e divisas para a economia.
No período, o VBP da agropecuária mineira avançou 15,2% em relação a 2024. O desempenho foi impulsionado principalmente pelos produtos agrícolas, que registraram crescimento de 17,1%, enquanto a pecuária apresentou alta de 11,9%.
“A alta de 15,2% no faturamento bruto mostra que o agronegócio, realmente, está crescendo em percentuais muito significativos, não é fácil manter este aumento porque no ano passado já havíamos crescido de forma substancial”, explicou o presidente do Sistema Faemg Senar, Antônio Pitangui de Salvo.
Exportações
No comércio exterior, foram embarcadas 15,23 milhões de toneladas de produtos agropecuários mineiros, destinados a 177 países. Houve expansão consistente das vendas para a União Europeia, Ásia, América do Sul e Oriente Médio. A receita cresceu quase 13% mesmo diante de uma redução de 6,6% no volume exportado, evidenciando a valorização dos preços das commodities no mercado internacional.
O montante já supera o total exportado em todo o ano de 2024 e configura recorde para o período. As vendas externas do agronegócio responderam por 43,7% das exportações totais de Minas Gerais entre janeiro e novembro, mantendo o Estado como o terceiro maior exportador do País, com participação de 11,7% no total nacional.
Conforme Salvo, o setor do agronegócio, mais uma vez, exportou mais que o setor da mineração.
“Mesmo enfrentando dificuldades, o setor cresceu e vamos continuar crescendo. Tivemos um recorde nas exportações, com alta de 13% em valor e queda de 6,6% no volume. O café, principal produto do agronegócio mineiro, está em ano de safra baixa e exportou menos volume. Apesar disso, a valorização do grão contribuiu para a alta no valor”.
As exportações do setor poderiam ter sido ainda maiores, se não fosse o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, que impactou os embarques de importantes produtos. Há cerca de três semanas, o governo dos EUA suspendeu as tarifas de 40% sobre café, carne, frutas e outros produtos agrícolas do Brasil. Porém, mel, madeira e tilápia ainda estão taxados.
“Certamente, sem o tarifaço teríamos um fluxo melhor de vendas, mas, buscamos outros mercados e estocamos produtos. O tarifaço ainda atinge produtos em Minas Gerais, como mel, tilápia e madeira. Então, certamente, poderíamos ter registrado exportações ainda maiores. Acho que os Estados Unidos vão derrubar todas as taxas, principalmente, porque precisam controlar a inflação interna”, explicou.
Crise no campo: Crédito Rural tem queda de 16% no Estado
Apesar dos bons resultados das exportações, o setor produtivo mineiro enfrenta um cenário de restrição severa no crédito rural. De julho a outubro de 2025, o valor contratado em Minas Gerais somou R$ 20,41 bilhões, uma retração de 16% em comparação com o mesmo período de 2024.
“A retração no crédito pode significar que o produtor buscou recursos em outra fonte, o que pode encarecer o custo e causar problemas no futuro. É importante destacar que o dinheiro aportado no campo retorna para o brasileiro, dependendo da cultura em até R$ 7 a cada R$ 1 aplicado. O crédito é fundamental para o setor e é importante falar que não há subsídios para o produtor do Brasil, que significa juros abaixo da inflação”.
A redução das contratações do crédito rural também pode significar menos investimentos no campo, o que pode refletir na produção do próximo ano. “A queda na contratação do crédito, não vai afetar agora, pois estamos plantando a safra neste momento, mas poderemos ter problemas futuros. O produtor pode ter reduzido o pacote tecnológico para a próxima safra, o que pode ser sentido no ano que vem. Há falta de dinheiro nas agências e também desestímulo pelos juros altos”.
Em 2026, agronegócio de Minas Gerais continuará em crescimento
As projeções para o agronegócio de Minas Gerais em 2026 apontam para um cenário de crescimento no Valor Bruto da Produção (VBP), impulsionado, principalmente, pelo café e a produção de carnes bovina, suína e de frango.
Conforme Salvo, para 2026, até o momento, as condições climáticas seguem positivas para a produção de café, que terá um ciclo de bienalidade positiva. Com a oferta mundial em baixa, a tendência é de preços estabilizados para o grão. No caso da pecuária, a tendência também é positiva, já que há uma menor produção da proteína. Com isso, é esperada valorização da arroba e do bezerro. O cenário também favorece as produções de frangos e suínos.
“De forma geral, as perspectivas para 2026 são positivas e o agronegócio deverá crescer. No ano que vem, esperamos uma safra de café maior e preços estabilizados. Na pecuária de corte, me refiro à carne bovina, frango e suína, certamente nós vamos ter um crescimento no VBP ano que vem. Quanto aos grãos, talvez não tenhamos crescimento tão significativo de soja e milho, mas não vejo nenhuma tendência de curva para baixo”.
No caso do leite, que enfrenta atualmente uma das piores crises, o cenário ainda é incerto. “Para a pecuária leiteira, no momento, não há nenhuma luz no fim do túnel para a gente ver como vamos sair desse cenário. No que diz respeito ao governo federal, o mesmo deveria ser mais firme, barrando a importação. Esperamos que a situação não piore mais”, explicou Salvo.
Mercosul-União Europeia
O agronegócio de Minas Gerais também poderá ser favorecido com o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (UE), que poderá ser assinado nas próximas semanas. O acordo é visto como benéfico para o agronegócio mineiro pela expectativa de melhorar o fluxo de vendas.
“Todo acordo comercial melhora o fluxo de vendas. Se Minas Gerais já se consolidou como um grande exportador, nós temos vários produtos que poderão ser beneficiados. Nossas frutas são muito exportadas, temos as frutas vermelhas no Sul do Estado e as tropicais – manga, banana, mamão do Jaíba. Minas vai entrar nesse barco que vai seguir para a Europa, fornecendo carne, frutas, café, entre outros. O acordo será muito bom para o Brasil e Minas Gerais”, disse Salvo.
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