Agropecuária mineira terá recorde em ano atípico

Mesmo com todas as dificuldades impostas pela pandemia de Covid-19, Minas Gerais conseguiu superar os entraves e vai encerrar o ano com crescimento nos principais índices do agronegócio.
De acordo com os dados divulgados nessa quinta-feira (17) pela Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), em 2020, o faturamento do setor foi recorde, com o Valor Bruto da Produção (VBP) alcançando R$ 94,4 bilhões, aumento de 24,3% quando comparado com 2019.
Dentre os fatores que promoveram a alta significativa no faturamento da atividade agropecuária estão os preços mais valorizados das commodities, a safra recorde de grãos e a maior produção de café.
Outro resultado importante foi visto nas exportações do setor. De janeiro a novembro, Minas Gerais movimentou US$ 7,97 bilhões com o embarque de 12 milhões de toneladas, alta de 9,6% em valor e de 24% em volume, se comparado com igual período de 2019. Os produtos mais exportados foram o café, soja em grãos, açúcar e carne suína. O Estado exporta para mais de 160 países.
Em relação à safra de grãos, para o período de 2020/21 é esperada uma produção de 15,8 milhões de toneladas, o que, se alcançado, será recorde e 3% maior que a safra encerrada em 2020, quando foram colhidas 15,4 milhões de toneladas, maior volume já produzido em Minas Gerais.
“Este ano foi de bons resultados para o agronegócio. Tivemos recorde na produção de grãos, aumento nas exportações e elevação do faturamento em 24,3%. São resultados positivos que trazem alento em um ano de tantas dificuldades. No caso do VBP, que foi impulsionado por uma maior produção e aumento dos preços, são mais recursos entrando no nosso Estado e, principalmente, para os produtores rurais”, disse a secretária de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ana Maria Soares Valentini.
Próximo ano – Para 2021, as expectativas são positivas, com a tendência de manutenção das exportações em alta, abertura de novos mercados e com uma maior produção de grãos.
“A demanda externa é muito crescente. E o mundo espera que, até 2050, o Brasil exporte duas vezes e meia o volume exportado atualmente. Para isso, vamos precisar de tecnologia para atender a essa alta que o mundo espera. Quero destacar que o Brasil reúne muitas condições para ter uma produção cada vez mais sustentável”.
Uma das oportunidades que surgem para ampliar o mercado atendido pelo Brasil e Minas Gerais é a saída do Reino Unido da União Europeia, e que passará a ser abastecido por outros mercados.
“Desde o ano passado, temos uma movimentação no governo federal para a criação de um acordo bilateral com o Reino Unido, para que possamos ter o mercado aberto e regular. Com certeza é mais uma negociação a ser feita. Nós somos o País com a maior condição de aumentar a oferta de alimentos para o mundo e vamos trabalhar nisso”.
Ações rápidas reduziram perdas com a Covid-19
Para minimizar os impactos causados pela pandemia de Covid-19, foram necessárias ações rápidas e eficientes para que as produções agrícola e pecuária em Minas Gerais continuassem em pleno funcionamento e garantindo o abastecimento interno e externo.
Em coletiva realizada ontem, em Belo Horizonte, a secretária de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ana Maria Soares Valentini, ressaltou que o trabalho da pasta junto às vinculadas para solucionar os problemas incluiu a criação de protocolos de segurança contra a Covid-19, o monitoramento da oferta de produtos alimentícios e também fiscalizações.
“Com a pandemia, a grande preocupação da Seapa e das vinculadas foi em relação ao abastecimento do mercado. A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) fez um monitoramento para a avaliação de gênero alimentício em todo o Estado. Foram aplicados questionários em 85% dos municípios mineiros, avaliando como estavam a comercialização e o abastecimento, de forma especial na agricultura familiar, que foram os mais afetados e tiveram grandes dificuldades de comercialização”.
Ainda segundo Ana também foram realizadas ações de apoio durante a pandemia, como a criação de material de segurança para a realização das feiras livres, o que ajudou as prefeituras para que as feiras fossem retomadas e produtores pudessem voltar à comercialização.
A agricultura familiar do Estado foi o setor que mais sentiu os efeitos da pandemia. Com o comprometimento de canais de comercialização, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), o setor segue com 63% de comprometimento, entre nível baixo e médio. A plena normalidade foi retomada em apenas 29,3%.
De acordo com as informações da Emater-MG, os agricultores familiares dependem muito da comercialização em feiras e programas como Pnae e PAA, que não estão funcionando totalmente.
Café e frigoríficos – Outros desafios gerados com a pandemia foram as medidas implantadas durante a colheita do café, que tem grande participação de mão de obra, e o maior controle nos frigoríficos.
“Com uma grande safra de café, a colheita era um desafio, que foi vencido com a adoção de protocolos de segurança. O trabalho do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) também foi fundamental, principalmente na fiscalização e inspeção de produtos nos frigoríficos, o que evitou a contaminação, como ocorreu em outros estados”, avaliou a secretária.
Em relação às pesquisas, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) manteve os estudos e pesquisas e avançou no processo virtual para a transferência de tecnologia, resultando em mais de 500 eventos on-line.
Avanços nas leis ampliaram resultados
Em 2020, foram muitos os avanços para estimular a produção em Minas Gerais. Um deles, segundo representantes do setor, foi o decreto que regulamentou da Lei 23.157/18, que delibera sobre a comercialização e produção dos queijos artesanais no Estado. Com a entrada da lei em vigor, muitos produtores que antes não tinham condições de regulamentar a produção poderão ingressar no processo.
A lei é considerada fundamental para o setor, já que permite o registro de produtos fabricados com leite cru, como os queijos de leite de cabra, de búfala, com fungos, entre outros produtos. Também será possível regulamentar entrepostos, afinadores e comerciantes.
A regulamentação da lei gerou resultados em 2020, com a identificação de novas regiões produtoras de queijos artesanais, como a região da Mantiqueira, o município de Alagoa, a região do Vale do Suaçui e a região Serras do Ibitipoca.
“Os queijos artesanais têm uma ampla produção no nosso Estado, mas, infelizmente, contamos com um número muito pequeno de produtores regularizados. Estamos com grande empenho na Seapa para melhorar essa questão. Com o decreto, poderemos regulamentar outros queijos artesanais produzidos no Estado e vamos trabalhar para que muitos produtores se regularizem”, disse a secretária de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ana Maria Soares Valentini.
Regularização fundiária – Outro avanço considerado fundamental é a regularização fundiária. Em 2020, foram entregues 796 títulos de posse das terras. Somente no município de Jaíba, no Norte de Minas, foram entregues 225 títulos.
Ana Valentini destacou que sem a documentação da propriedade rural, produtores não têm acesso às políticas públicas, como o crédito rural, por exemplo. Oportunidades de receber investimentos também são comprometidas, como no caso de empresas que contratam terras para a instalação de equipamento para a produção de energia solar.
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