Agropecuária precisa se adequar à bioeconomia e ser mais sustentável

Com os consumidores cada vez mais exigentes em relação à produção mais sustentável e respeitando as questões sociais e ambientais, as entidades financeiras do mundo já estão direcionando crédito para as empresas que se adequam à bioeconomia.
No agronegócio, a tendência não é diferente, e para acessar os recursos produtores terão que aplicar tecnologias, inovações e investir na educação para que a produção seja sustentável e que ele possa obter maiores volumes de capital a condições diferenciadas. Atendendo às exigências do mercado, a probabilidade é de ter um produto diferenciado e mais competitivo.
Essa tendência, aliás, foi debatida, ontem, durante o 6º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, evento organizado e realizado pelo Transamérica Expo Center.
Durante as discussões sobre o tema “Bioeconomia”, representantes de instituições financeiras do Brasil e dos Estados Unidos ressaltaram que o futuro da produção agrícola e pecuária está ligado à economia sustentável. Tanto investidores como consumidores se interessam mais por empresas sustentáveis, que produzem em equilíbrio com o meio ambiente, com os recursos naturais e a sociedade.
O CEO do Banco XP, José Berenguer, explicou que o acesso ao crédito será cada vez mais difícil para negócios que não forem sustentáveis. A bioeconomia será uma exigência.
“A tendência é não fornecer crédito para empresas que não estejam bem posicionadas em relação à sustentabilidade social, ambiental e financeira. Isso porque estão criando um passivo potencial de risco muito grande. A capacidade de pagamento será afetada pelo passivo que cada vez mais é difícil de mensurar. A sociedade tolera cada vez menos as questões que causam ameaças socioambientais. Dizer não é a melhor forma para o mercado se mover na direção correta. Ele passará a observar fatores e exigir políticas socioambientais. Estamos tomando decisões que terão julgamento daqui cinco anos, então toda cautela e mitigação de risco é superimportante”, explicou.
Para seguir as tendências do mercado, será importante investir em tecnologias, inovação e na educação. “A educação é muito importante porque o mercado muda a todo momento e é preciso acompanhar”, destacou.
O diretor de Agronegócio do Itaú BBA, Pedro Fernandes, também ressaltou que a entidade, que tem o agronegócio como um dos principais setores atendidos, vem trabalhando para que o setor tenha uma produção mais sustentável, desenvolvendo linhas e iniciativas que beneficiem a produção equilibrada ao meio ambiente.
“Queremos fazer um agro mais verde. Temos dedicado energia em busca de linhas, iniciativas e ações para atender ao setor. Montamos produtos verdes, trazemos clientes e criamos linhas para quem tem reserva em pé, que assume o compromisso de eficiência energética e do bem estar animal. A bioeconomia e a sustentabilidade é a continuidade do crédito”.
ODS
O presidente-executivo do Conglomerado Financeiro Alfa, Fábio Amorosino, explicou que o mercado financeiro não está somente preocupado com a produção sustentável, mas também está aliando as ações aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Será importante não só transformar o sistema de produção e sim toda a cadeia e a sociedade.
Segundo Amorosino, não há como fazer negócios hoje sem considerar, ao menos, os 17 ODS. O mercado financeiro, de acordo com ele, está aliando as suas atuações para que isso aconteça não somente nas questões ambientais, mas também nas sociais.
“No campo, o que cabe ao mercado financeiro é trabalhar na condução para frente do processo. Este é o marco para toda a cooperação mundial no sentido de se achar o equilíbrio entre o crescimento econômico e preocupações ambientais e sociais. Um banco responsável precisa ser cada vez mais transparente, possuindo relação muito sólida com todos os stakeholders. O mercado tem que fazer, cada vez mais, o que se fala e fazer o que se prega. Dentro disso, saber dizer ‘não’ será uma grande proeza no processo. Uma linha de crédito verde não vale nada se as políticas daquele banco não estiverem, de fato, aliadas ao processo”, afirmou.
Oportunidades
A Chief Commercial Officer do CME Group, Julie Winkler, disse que o Brasil, assim como os Estados Unidos, tem muitos desafios, mas também muitas oportunidades. Ela ressaltou que o período de transição das práticas traz maior risco, mas que as instituições financeiras serão importantes para auxiliar no processo.
“A transição de práticas de negócios mais sustentáveis causa muitos riscos financeiros que vêm da mudança das políticas, das tecnologias e também dos consumidores que estão mudando as práticas. As instituições financeiras, os produtos financeiros, serviços e tecnologias serão parte da solução para ajudar os participantes do mercado global a fazer a gestão do risco e para canalizar recursos que serão essenciais para esta transição. O CME Group tem sido muito focado em oferecer produtos nas áreas impactadas pelas mudanças climáticas e para ajudar os clientes na gestão”.
Ela explicou ainda que, para atender e entender os clientes, a instituição tem ouvido as demandas. “Queremos entender os gaps do mercado e desenvolver produtos específicos para as necessidades de hoje e do futuro. Já lançamos produtos específicos para biocombustíveis, carbono, água, entre outros”, completou.
Para Julie, o Brasil tem potencial para ser líder na produção sustentável. “O Brasil será um dos líderes no processo de mudança. O produtor se adapta muito às novas tecnologias e o País tem muitos recursos naturais para proteger. Com certeza fará parte do encontro de soluções globais através de inovação e educação. O Brasil será um país muito importante na economia verde”, concluiu.
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