Agronegócio

Produtores de algodão do Jequitinhonha alcançam produtividade de cultivo empresarial

Agricultores familiares da região já produzem uma média de 4,7 toneladas por hectare; montante é próximo ao alcançado pelo cultivo nas grandes regiões produtoras de Minas Gerais
Produtores de algodão do Jequitinhonha alcançam produtividade de cultivo empresarial
Algodão vem garantindo não somente salto na produtividade, mas também resgate do cultivo no Vale do Jequitinhonha | Crédito: Divulgação Paulo Deniz Oliveira

O  Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalminas) vem garantindo não apenas o salto na produtividade das regiões produtoras em Minas Gerais, mas também o resgate do cultivo no Vale do Jequitinhonha, onde muitos agricultores familiares tinham tradição no plantio de algodão. O programa foi criado há mais de 20 anos.

Coordenado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), em parceria com a Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa) e as indústrias têxteis do Estado, o Proalminas já conseguiu elevar a produtividade dos agricultores familiares do Vale do Jequitinhonha para a média de 318 arrobas por hectare (4,7 toneladas por hectare). O valor é próximo do valor alcançado pelo cultivo empresarial nas grandes regiões produtoras do Estado.

O secretário-adjunto da Seapa, João Ricardo Albanez, relembra que historicamente não só o Vale do Jequitinhonha, mas toda a região Norte de Minas era responsável pela produção do algodão no Estado, mas as pragas, a falta de apoio aos produtores e as dificuldades climáticas, acabaram dizimando o cultivo local.

“Com o desenvolvimento da tecnologia, essa cultura migrou para a região do Alto Paranaíba e para o Noroeste do Estado onde os produtores, com alta tecnologia e em grandes áreas, começaram a plantar. E por lá permaneceu por muito tempo beneficiados pelos incentivos fiscais dados às indústrias têxteis”, relembra Albanez.

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Porém, o próprio programa incumbiu-se de resgatar a produção do Vale do Jequitinhonha como forma de gerar emprego, renda e melhoria nas condições de vida da população. Por meio do Proalminas, três unidades técnicas demonstrativas (de 0,5 hectare cada uma) foram implantadas nos municípios de Berilo, Jenipapo de Minas e Francisco Badaró com o objetivo de adequar e validar as novas tecnologias para o cultivo do algodão na região.

Além delas, foram construídas lagoas para que, em tempo de estiagem e veranicos, os produtores conseguissem irrigar suas plantações. Com baixo volume de chuvas, aliado à distribuição irregular e a presença de veranicos sistemáticos, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro, a estrutura de irrigação é fundamental para garantir a oferta de água nos períodos críticos de seca, evitando o estresse da planta e comprometimento da produtividade.

O produtor João Paulo Esteves é um dos que tiveram a unidade demonstrativa implantada em sua propriedade, no município de Jenipapo de Minas. Por meio dela, ele conseguiu experimentar o cultivo do algodão. “Foi uma experiência nova pra mim e aprendi muito. Plantamos em janeiro, colhemos em julho e a produtividade ficou em torno de 320 arrobas por hectare. Foi uma novidade, mas, se tiver oportunidade, quero plantar de novo”, afirma.  

De acordo com o secretário-adjunto, esses incentivos têm permitido aos agricultores locais atingirem patamares elevados de produtividade e despertando o interesse de outros produtores. “Enxergamos isso com uma expectativa muito boa, ou seja, de mais produtores aderirem a essa cultura”, disse Albanez.

O diretor-executivo da Amipa, Lício Pena, conta que há uma demanda pelo cultivo do algodão na região. “Há um apelo pela cultura do algodão. O resgate do cultivo traz um impacto positivo no artesanato da cidade, que já é exportador. Além da questão cultural, dos antepassados já terem sido grandes produtores”, pontuou Pena.

Ivone Machado da Silva é filha de produtor rural e trabalha com o artesanato desde a infância. Morando atualmente em Berilo, onde trabalha com tecelagem, ela vê de forma positiva as ações para ampliar o cultivo da principal matéria-prima do trabalho das artesãs.

“O algodão que a gente trabalha vem do quintal dos amigos. Esse trabalho para produzir mais vai facilitar a fabricação do nosso trabalho de artesãs não só da comunidade, mas de todo o município”, avalia.

Produção de algodão tem crescido no Estado

Criado pela Lei Estadual n°14.559, de 30 de dezembro de 2002 e regulamentado, posteriormente, pelo Decreto Estadual nº 43.508, de 8 de agosto de 2003, que estabeleceu parâmetros para fomentar o retorno do plantio do algodão em Minas, o Proalminas financia diversas ações e projetos como os de combate às pragas, de monitoramento da produção mineira, de apoio ao pequeno produtor, sustentabilidade e boas práticas na produção, de pesquisa, desenvolvimento e biotecnologia, análise da qualidade da pluma e certificação do algodão mineiro, pesquisa e manejos e tantos outros.

Entre os incentivos, há os benefícios fiscais para a indústria que adquirir algodão produzido pelos produtores mineiros. Dessa forma, os próprios empresários do setor se interessam no fomento da produção local. “É um programa para a indústria e para o produtor rural. É uma ação de política pública que contribui com toda a cadeia produtiva”, explicou o secretário.

E a produção tem crescido. De acordo com o 11º Levantamento da Safra de Grãos 2023/24 divulgados esta semana pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o algodão é uma das culturas que mais deve crescer na safra deste ano em Minas Gerais. 

De acordo com a companhia, o produto em pluma foi o único item, além do arroz, a registrar alta com relação à temporada anterior. No Estado, a alta foi de 27,5%, passando a produção de 51,7 mil para 65,9 mil toneladas na atual temporada.

O principal motivo apresentado foi o aumento da área plantada, que passou de 25,8 mil hectares para 32 mil hectares. A produtividade se manteve estável em 2 toneladas por hectare. 

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