Produtores de algodão do Jequitinhonha alcançam produtividade de cultivo empresarial

O Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalminas) vem garantindo não apenas o salto na produtividade das regiões produtoras em Minas Gerais, mas também o resgate do cultivo no Vale do Jequitinhonha, onde muitos agricultores familiares tinham tradição no plantio de algodão. O programa foi criado há mais de 20 anos.
Coordenado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), em parceria com a Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa) e as indústrias têxteis do Estado, o Proalminas já conseguiu elevar a produtividade dos agricultores familiares do Vale do Jequitinhonha para a média de 318 arrobas por hectare (4,7 toneladas por hectare). O valor é próximo do valor alcançado pelo cultivo empresarial nas grandes regiões produtoras do Estado.
O secretário-adjunto da Seapa, João Ricardo Albanez, relembra que historicamente não só o Vale do Jequitinhonha, mas toda a região Norte de Minas era responsável pela produção do algodão no Estado, mas as pragas, a falta de apoio aos produtores e as dificuldades climáticas, acabaram dizimando o cultivo local.
“Com o desenvolvimento da tecnologia, essa cultura migrou para a região do Alto Paranaíba e para o Noroeste do Estado onde os produtores, com alta tecnologia e em grandes áreas, começaram a plantar. E por lá permaneceu por muito tempo beneficiados pelos incentivos fiscais dados às indústrias têxteis”, relembra Albanez.
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Porém, o próprio programa incumbiu-se de resgatar a produção do Vale do Jequitinhonha como forma de gerar emprego, renda e melhoria nas condições de vida da população. Por meio do Proalminas, três unidades técnicas demonstrativas (de 0,5 hectare cada uma) foram implantadas nos municípios de Berilo, Jenipapo de Minas e Francisco Badaró com o objetivo de adequar e validar as novas tecnologias para o cultivo do algodão na região.
Além delas, foram construídas lagoas para que, em tempo de estiagem e veranicos, os produtores conseguissem irrigar suas plantações. Com baixo volume de chuvas, aliado à distribuição irregular e a presença de veranicos sistemáticos, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro, a estrutura de irrigação é fundamental para garantir a oferta de água nos períodos críticos de seca, evitando o estresse da planta e comprometimento da produtividade.
O produtor João Paulo Esteves é um dos que tiveram a unidade demonstrativa implantada em sua propriedade, no município de Jenipapo de Minas. Por meio dela, ele conseguiu experimentar o cultivo do algodão. “Foi uma experiência nova pra mim e aprendi muito. Plantamos em janeiro, colhemos em julho e a produtividade ficou em torno de 320 arrobas por hectare. Foi uma novidade, mas, se tiver oportunidade, quero plantar de novo”, afirma.
De acordo com o secretário-adjunto, esses incentivos têm permitido aos agricultores locais atingirem patamares elevados de produtividade e despertando o interesse de outros produtores. “Enxergamos isso com uma expectativa muito boa, ou seja, de mais produtores aderirem a essa cultura”, disse Albanez.
O diretor-executivo da Amipa, Lício Pena, conta que há uma demanda pelo cultivo do algodão na região. “Há um apelo pela cultura do algodão. O resgate do cultivo traz um impacto positivo no artesanato da cidade, que já é exportador. Além da questão cultural, dos antepassados já terem sido grandes produtores”, pontuou Pena.
Ivone Machado da Silva é filha de produtor rural e trabalha com o artesanato desde a infância. Morando atualmente em Berilo, onde trabalha com tecelagem, ela vê de forma positiva as ações para ampliar o cultivo da principal matéria-prima do trabalho das artesãs.
“O algodão que a gente trabalha vem do quintal dos amigos. Esse trabalho para produzir mais vai facilitar a fabricação do nosso trabalho de artesãs não só da comunidade, mas de todo o município”, avalia.
Produção de algodão tem crescido no Estado
Criado pela Lei Estadual n°14.559, de 30 de dezembro de 2002 e regulamentado, posteriormente, pelo Decreto Estadual nº 43.508, de 8 de agosto de 2003, que estabeleceu parâmetros para fomentar o retorno do plantio do algodão em Minas, o Proalminas financia diversas ações e projetos como os de combate às pragas, de monitoramento da produção mineira, de apoio ao pequeno produtor, sustentabilidade e boas práticas na produção, de pesquisa, desenvolvimento e biotecnologia, análise da qualidade da pluma e certificação do algodão mineiro, pesquisa e manejos e tantos outros.
Entre os incentivos, há os benefícios fiscais para a indústria que adquirir algodão produzido pelos produtores mineiros. Dessa forma, os próprios empresários do setor se interessam no fomento da produção local. “É um programa para a indústria e para o produtor rural. É uma ação de política pública que contribui com toda a cadeia produtiva”, explicou o secretário.
E a produção tem crescido. De acordo com o 11º Levantamento da Safra de Grãos 2023/24 divulgados esta semana pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o algodão é uma das culturas que mais deve crescer na safra deste ano em Minas Gerais.
De acordo com a companhia, o produto em pluma foi o único item, além do arroz, a registrar alta com relação à temporada anterior. No Estado, a alta foi de 27,5%, passando a produção de 51,7 mil para 65,9 mil toneladas na atual temporada.
O principal motivo apresentado foi o aumento da área plantada, que passou de 25,8 mil hectares para 32 mil hectares. A produtividade se manteve estável em 2 toneladas por hectare.
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