Agronegócio

Alta do trigo deve pressionar preço da farinha, com reflexos no pão, massas e biscoitos

A farinha de trigo, massas e os biscoitos estão entre os produtos mais impactados pela alta do trigo
Alta do trigo deve pressionar preço da farinha, com reflexos no pão,  massas e biscoitos
Foto: REUTERS/Jonathan Barrett

A alta na cotação do dólar, que se mantém acima dos R$ 6,00, já se reflete em um aumento médio de 10% no preço médio da tonelada de trigo no mercado interno. Vale lembrar que o Brasil importa cerca de 40% do trigo consumido no País. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), a manutenção do cenário atual eleva os custos das importações do setor e pode acarretar em um aumento, quase inevitável, no preço da farinha de trigo.

O presidente do Sindicato dos Moinhos de Trigo do Estado de Minas Gerais, Sérgio Fernando de Macedo Moura, explica que o preço da tonelada do cereal no mercado internacional sofreu uma queda, de US$ 260 para US$ 230 no final do ano passado. No entanto, com o câmbio desvalorizado, houve um avanço de 10% a 15% no valor médio da tonelada.

Moura destaca que esse aumento, ainda não repassado, tende a impactar, principalmente, o preço da farinha de trigo, pães, massas e dos biscoitos. “O impacto da alta do trigo no preço da farinha é de cerca de 70%. Ou seja, se o preço do trigo subiu até 15%, a farinha deve aumentar por volta de 10%. Já massas e o biscoitos na faixa de 7% e 8%”, calcula, destacando que até momento, os moinhos têm reduzido suas margens de lucro.

Questões climáticas

O dirigente pontua que, assim como qualquer outra cultura agrícola, o trigo é suscetível aos efeitos do clima. E, em 2024, alguns estados do País, como Minas Gerais, sofreram com uma forte seca que acabou impactando em uma safra inferior que a anterior. “Além dos problemas causados pelas chuvas no sul do Paraná e no Rio Grande do Sul”, completa.

Segundo ele, a expectativa inicial era de colher cerca de 10 milhões de toneladas de trigo no Brasil, mas safra fechou em oito milhões de toneladas. Em Minas, a colheita passou de 430 mil toneladas, em 2023, para 230 mil toneladas de trigo no ano passado.

“Para este ano, como não deve ocorrer ‘La Ninha’ ou ‘El Ninho’, nós acreditamos que haverá uma melhora na produtividade e a colheita volte para as 10 milhões de toneladas”, avalia.

Ele ainda ressalta o fato de que o mercado brasileiro tende a importar uma grande quantidade de trigo no primeiro semestre do ano. “A safra brasileira não é suficiente para atender o Brasil”, diz.

Para Moura, o dólar, que está na casa dos seis reais, deverá apresentar uma leve queda futuramente, mas não a ponto de chegar ao patamar de R$ 5,50. Segundo ele, a tendência é de estabilidade em um nível mais elevado.

Pães na padaria.
Foto: Adobe Stock

Impactos da alta do trigo ainda não atingiram o setor de panificação

O presidente do Sindicato e Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão), Winícius Dantas, relata que, até o momento, não houve reajuste de preços da farinha ou para o consumidor final, mas a perspectiva é de alta.

“Acreditamos que em 2025, no pós-safra, caso o dólar continue alto, isso pode refletir no preço dos produtos. Esse cenário de insegurança impacta o setor, já que nós temos o trigo como principal insumo de fabricação. A panificação está completamente norteada no trigo. Cerca de 90% dos produtos fabricados em uma padaria estão ligados ao trigo”, avalia, lembrando que no período de calor há um aumento na fabricação e venda de pães.

De acordo com Dantas, o trigo responde por cerca de 30% do custo total dos produtos no setor. Os demais são: mão de obra, energia e impostos, dentre outros.

Máquina agrícola faz colheita de trigo.
Foto: Benoit Tessier/Reuters

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