Análise do solo é estratégica contra escassez de fertilizantes
Minas Gerais terá um papel importante na busca pela redução da dependência das importações de fertilizantes através do uso de fontes alternativas, como o uso de fertilizantes orgânicos, organominerais e remineralizadores. O Estado é rico em minerais e possui estrutura capaz de desenvolver pesquisas e levar os resultados ao campo, mas é preciso que sejam criadas políticas públicas que estimulem os estudos e que estejam alinhadas ao Plano Nacional de Fertilizantes (PNF). O assunto foi discutido ontem durante o XI Seminário de Políticas Públicas – Fertilizantes: Política atual, estratégias de utilização -, promovido pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).
Neste ano, com a crise gerada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, principais fornecedores de fertilizantes para o País, e uma possível falta do insumo, as análises de solo e os cuidados foram apontados como essenciais para que a produção ocorra demandando menor volume de fertilizantes e utilizando a fertilidade construída do solo. Além disso, os produtores podem recorrer a fertilizantes orgânicos, organominerais, bioinsumos, inoculantes, entre outros.
A secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ana Valentini, destacou que o Brasil tem se firmado como um grande país produtor de alimentos, e o setor agropecuário de Minas Gerais tem contribuído de forma significativa no cenário. Entretanto, o País ainda é grande dependente da importação dos fertilizantes.
“A Rússia e a Ucrânia, países envolvidos na guerra atualmente, têm grandes reservas de fertilizantes, das quais o Brasil é grande importador. Os embargos à Rússia impõem dificuldades ao mercado mundial de oferta, logística e preços, trazendo incertezas para todo o setor produtivo. A Seapa, no seminário, reúne pesquisadores com o objetivo de apontar estratégias e alternativas para ajudar os produtores na tomada de decisões baseadas em critérios técnicos e científicos”, disse.
O chefe-geral da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, unidade Milho e Sorgo (Embrapa Milho e Sorgo), Frederico Ozanan Machado Durães, destaca que o momento requer luzes sobre a temática dos fertilizantes. Um avanço foi a criação do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF).
“A despeito de se constituir elementos essenciais para o desenvolvimento das culturas e das supersafras brasileiras, os elementos da agenda de suprimentos não são favoráveis para o Brasil. Modernizar e explorar racionalmente as jazidas e minas, ampliar as tecnologias e processo de produção industrial, construir alternativas para agregar valor aos fertilizantes e integrar competências para as interações com insumos biológicos e manejo de uso e eficiência para a adequação das safras brasileiras são focos da estratégia de ação brasileira. Minas Gerais se apresenta como player em potencial para aquecer, sustentar e contribuir com parte significativa dessa agenda”, destacou.
Esforços prioritários
Ele afirmou ainda que a Embrapa está direcionando esforços, priorizando, de imediato, cinco frentes de pesquisas: biofertilizantes, organominerais, fertilizantes não estruturados, agricultura de precisão e condicionadores de solo com pó de rocha.
Para o pesquisador da Embrapa Solos José Carlos Polidoro, no curto prazo, existem oportunidades imensas que podem auxiliar a reduzir a dependência e ser adotadas pelos produtores. Exemplo disso são os fertilizantes orgânicos e organominerais, bioinsumos, remineralizadores e agrominerais, resíduos – como lodos e subprodutos da indústria e atividade humana -, e nanotecnologia. Várias opções já estão sendo registradas no Mapa.
“Temos mais de 250 empresas que produzem fertilizantes orgânicos e organominerais, mais de 30 produtos remineralizadores registrados e um número sem fim de inoculantes tanto para fixação de nitrogênio quanto para a melhoria do aproveitamento do fósforo. São alternativas que podem ser adotadas”, disse.
Ele também destacou que é essencial que o produtor adote boas práticas de manejo do solo para o uso eficiente dos fertilizantes e corretivos. A adoção, correta, de novos fertilizantes e insumos para a nutrição das plantas também será importante. É esperado um aumento significativo na produção de organominerais, remineralizadores, bioinsumos, entre outros.
Com o risco de faltar fertilizantes, uma alternativa é utilizar menos insumos em áreas onde há fertilidade construída do solo, o que é mais frequente em áreas da agricultura empresarial. Mas a análise do solo, o manejo correto e os cuidados são essenciais.
Conservação do solo
O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Álvaro Vilela Resende disse que é extremamente importante que os produtores adotem técnicas para a conservação do solo.
“As práticas para conservação do solo são essenciais, é preciso manter a cobertura para preservar a matéria orgânica. Não adianta investir em fertilizantes sem adotar cuidados para preservar a matéria orgânica, a fisiologia do solo. O uso de corretivos combinados com boas práticas traz bons resultados, assim como a calagem adequada para regular a acidez do solo. A ideia de economizar fertilizante deve ser baseada em análises muito bem feitas para ter consistência na tomada de decisão”, completou.
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