Após ano difícil, desempenho do agronegócio surpreende e cresce 2%

Mesmo em um ano desafiador, em que os produtores rurais enfrentaram dificuldades com o clima adverso e o aumento das taxas de juros, o agronegócio segue resiliente e, contrariando as projeções, tende a encerrar 2024 com alta. Conforme a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio deve crescer 2%, ante uma perspectiva de queda de 3%. Para 2025, ano em que o clima deve ser mais favorável para o setor, a expectativa é de alta de 5% no PIB.
Conforme o presidente da CNA, João Martins, 2024 foi desafiador para a produção agropecuária do Brasil, com problemas climáticos graves que interferiram no rendimento das safras. Mesmo diante dos desafios, o setor segue resiliente.
“Estamos encerrando mais um ano de trabalho, um ano difícil, em que tivemos problemas climáticos e frustração na expectativa de safra. Houve seca em diversas regiões produtoras de grãos. Tivemos uma seca nunca vista nas pastagens atingindo os grandes estados produtores da pecuária. Foram cinco meses de seca. Este foi o cenário que vivemos, mas, mesmo assim, o agronegócio brasileiro não esmoreceu”.
Ainda conforme o presidente da CNA, mesmo enfrentando gargalos, o PIB do agronegócio brasileiro vai encerrar o ano com crescimento. A estimativa é avançar 2% frente a 2023, superando a expectativa negativa de cair 3% em 2024. A melhora nos preços de alguns produtos agropecuários, sobretudo da cadeia da bovinocultura de corte, deve reverter a tendência de queda que era observada até alguns meses atrás.
“A estimativa inicial era encerrar o ano com PIB negativo, mas a tendência agora é de um PIB 2% maior. Temos que buscar, cada dia mais, ferramentas e instrumentos necessários para que nosso agro seja mais consistente. Não tenho dúvida de que isso tudo coloca nosso agro em um patamar de grande produtor de alimentos para o consumo interno e também para o mundo”.
Clima prejudica produção do agronegócio em 2024, mas expectativa é positiva para 2025
O diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi, explicou que ao longo de 2024, em função do clima desfavorável, foram registrados resultados negativos na produção e queda de preços em importantes produtos.
Entre os quatro mais importantes produtos do agronegócio nacional – soja, milho, cana-de-açúcar e carne bovina – três tiveram queda de produção. Em 2024, a produção de soja recuou 4,7%, somando 147,7 milhões de toneladas. No período, a oleaginosa apresentou queda de 11,8% nos preços frente a 2023, com a saca cotada, em média, a R$ 133,28.
No milho, houve retração de 12,3% na produção e de 5,1% no valor da saca. Queda também na cana-de-açúcar, com a produção 8,4% menor. Os preços, no entanto, subiram 4,6%, puxados pelo aumento das exportações de açúcar. Já a produção da carne bovina cresceu 6,6% e os preços avançaram 1,9%.
Apesar dos resultados negativos vistos em 2024, para 2025, as perspectivas são melhores. Entre os fatores positivos para que isso se concretize está a expectativa de um clima mais favorável para a produção. Para a soja é esperado avanço de 12,4% na safra com a colheita de 166,1 milhões de toneladas. A produção de milho tende a crescer 3,6%, enquanto a de cana-de-açúcar pode cair 3,2%.
Para a produção de carne bovina a expectativa é de redução de 3,3%, devido à tendência de maior retenção de matrizes, já que em 2024 houve aumento do abate de fêmeas.
Importante produto de Minas Gerais, o café, que fica entre as 10 principais culturas do País, enfrentou um ano desafiador em 2024. A produção foi afetada pela estiagem severa e o volume colhido ficou 0,5% menor, em 59,1 milhões de sacas. Com demanda alta, os preços do arábica subiram 36,7%, chegando, assim, a R$ 1,7 mil por saca de 60 quilos.
“Em 2024, tivemos uma safra de grãos menor que a estimada inicialmente, há expectativa de recuperar em 2025 chegando, portanto, a 322 milhões de toneladas. Esperamos um clima mais favorável. Já para a carne bovina, estimamos uma produção menor, pelo maior abate de matrizes ao longo de 2024”, explicou Lucchi.
Desafios para 2025
Apesar de uma estimativa de clima mais favorável para o agronegócio em 2025, o diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi, destaca alguns desafios para o setor, que vão desde a desvalorização do real frente ao dólar – que apesar de favorecer as exportações impacta no encarecimento de insumos -, passando pela inflação acima da meta no Brasil, aumento das taxas de juros até as barreiras comerciais impostas pelo mercado mundial.
“Os fatores de oferta e demanda pelo clima mais favorável já estão precificados e serão melhores que em 2024. Porém, há fatores ligados à economia do País e à geopolítica mundial que podem impactar diretamente”.
Lucchi explica que um dos principais desafios será a questão ambiental, que vem sendo recorrentemente utilizada como barreira comercial, como a lei anti-desmatamento da União Europeia.
Há ainda demanda por mais recursos do Plano Safra voltados para o seguro da safra, que hoje estão em torno de R$ 1,7 bilhão e o setor solicita algo em torno de R$ 4 bilhões.
Ouça a rádio de Minas