Agronegócio

Aprosoja e governo brasileiro criticam Danone por fala sobre boicote à soja do Brasil

Alto executivo da companhia francesa disse que a multinacional não irá mais comprar a oleaginosa do País
Aprosoja e governo brasileiro criticam Danone por fala sobre boicote à soja do Brasil
Brasil é o maior produtor e exportador global da oleaginosa; legislação da União Europeia antidesmatamento foi adiada para entrar em vigor | Crédito: Diego Vara / Reuters

São Paulo – A Aprosoja Brasil, entidade que representa agricultores do maior produtor e exportador global de soja, afirmou nesta terça-feira (29) que há “motivos de sobra” para produtores rurais brasileiros boicotarem a Danone após um alto executivo da companhia francesa dizer que a multinacional não mais compra a oleaginosa do País.

Já o Ministério da Agricultura do Brasil (Mapa) afirmou, em nota, que o País exige ser tratado com “a mesma justiça e equilíbrio que pautam as relações comerciais internacionais, devendo ser rechaçadas posturas intempestivas e descabidas como anunciadas por empresas europeias, com forte presença de atividade também no mercado brasileiro”.

A gigante francesa de laticínios Danone parou de comprar soja do Brasil e agora compra de países da Ásia, disse na semana passada seu diretor financeiro, Jurgen Esser, à Reuters, enquanto a União Europeia prepara uma lei que exige que as empresas provem que não estão comprando commodities de áreas desmatadas.

Segundo a Aprosoja Brasil, a posição demonstra desconhecimento do processo produtivo no Brasil e “um ato discriminatório contra o País e sua soberania”. “Não é de se duvidar que os produtores rurais brasileiros, cansados de serem injustamente apontados como os vilões, quando, na verdade, são os heróis da sustentabilidade, comecem a ter motivos de sobra para colocar a Danone e outras marcas mundiais na lista de empresas a serem boicotadas no Brasil”, afirmou a Aprosoja.

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Para a entidade, o “boicote adotado pela multinacional francesa já traz prejuízos para o Brasil e para os brasileiros, mesmo que a legislação da União Europeia antidesmatamento ainda não tenha entrado em vigor”.

O Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), que abrange importações de commodities como cacau, café e soja, estava programado para entrar em vigor em 30 de dezembro de 2024, embora a Comissão da UE tenha proposto um adiamento de 12 meses.

Segundo a associação, “a afirmação de que o Brasil lidera a destruição de floresta tropical no mundo” é fala de quem desconhece a dinâmica das florestas no Brasil. “Pior ainda, está discriminando o único produtor de soja no mundo que preserva o meio ambiente e os recursos hídricos dentro das suas propriedades”, disse a entidade, citando a legislação brasileira, que determina que o produtor rural precisa preservar de 20% a 80% de Reserva Legal, dependendo do bioma, e mais as Áreas de Preservação Permanentes (beira de rio, topo de morro e entorno de nascentes).

“Comparativamente, os produtores franceses não preservam quase nada”, completou a Aprosoja Brasil.

Já o ministério afirmou que o Brasil conta com uma das legislações ambientais “mais rigorosas do mundo”, que tem permitido ao País combater o desmatamento ilegal com políticas públicas que abrangem o Cerrado, a Amazônia e outras regiões sensíveis, assegurando que a produção agrícola seja feita de maneira responsável e sustentável”.

Outro lado

Por outro lado, a unidade brasileira da Danone afirmou também em nota nesta terça-feira que “a Danone continua comprando soja brasileira em conformidade com as regulamentações locais e internacionais”. A empresa, porém, não explicou a diferença de seu posicionamento no Brasil versus o comentário de Esser na semana passada quando questionada pela Reuters no País.
A sede da Danone na França não retornou pedidos de comentários após a divulgação do comunicado da Aprosoja criticando a fala do executivo.

A Aprosoja afirmou ainda que “este ato de discriminação contra a produção de grãos do Brasil é passível de reclamação por parte do governo brasileiro nas instâncias que regulam o comércio mundial”, como a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Enquanto os principais comerciantes de grãos seguem acordos como a Moratória da Soja, que proíbe a compra de soja de terras recém-desmatadas na floresta amazônica, o Cerrado brasileiro vê o avanço do cultivo, em momento em que o desmatamento nessa região tem crescido.

Reportagem distribuída pela Reuters

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