Agronegócio

Azeites mineiros: produtores rurais abrem novas fronteiras

Concentrada na Serra da Mantiqueira, a olivicultura tem maior número de produtores em Minas Gerais | Crédito: Fazenda Ararema/Divulgação
DIÁRIO DO COMÉRCIO inicia, a partir de hoje, série com produtos e culturas valorizados nas várias regiões de Minas Gerais

O agronegócio em Minas Gerais é muito diversificado. O Estado se destaca nas produções tradicionais como café e  pecuária leiteira, mas os produtores rurais também encaram novos desafios e abrem novas fronteiras. Nem só de café vive o Sul de Minas. Exemplo disso é a produção de azeites na região.

Com apenas 15 anos da primeira extração, realizada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em 29 de fevereiro de 2008, os azeites mineiros já são reconhecidos pela alta qualidade e frescor. Esse diferencial foi importante para a conquista de prêmios internacionais.

Desde a primeira extração do produto, a atividade expandiu-se pela Serra da Mantiqueira e tem atraído novos produtores. O mercado é promissor, uma vez que o Brasil está entre os maiores importadores de azeite do mundo.  Com uma produção ainda pequena – que neste ano deve chegar a 60 mil litros na Serra da Mantiqueira – o produto é destinado a mercados especiais e tem alto valor agregado. 

De acordo com o coordenador do Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da Epamig, Luiz Fernando de Oliveira, a produção de azeite na Serra da Mantiqueira é feita por cerca de 200 olivicultores, número que é crescente. O estímulo para os investimentos na cultura e ingresso de novos produtores vêm de um mercado altamente promissor.

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“O Brasil é um dos maiores consumidores de azeite do mundo e a grande maioria desse azeite é importada. Para se ter ideia, em 2022, o Brasil importou mais de 100 milhões de litros. No mesmo ano no País, a produção interna ficou próxima a 450 mil litros, somando o volume da Serra da Mantiqueira e do Sul do Brasil. O consumo ainda é muito maior que nossa produção”.

Ainda segundo Oliveira, o azeite produzido em Minas é bastante diferente do importado. Um dos principais diferenciais é o frescor. O produto normalmente encontrado nas prateleiras de supermercados e delicatessen é produzido em outros países e chega ao mercado brasileiro meses após a colheita.

“Já o azeite mineiro chega ao mercado logo após a colheita. Essa rapidez garante ao produto maior frescor. Quanto mais novo, melhor é o azeite”.

Em franca expansão, a produção no Estado dá sinais de que tem muito potencial e vai continuar em crescimento. O número de produtores que ingressam na atividade  está em alta. Ao ano, esse salto gira em torno de 20% na região Sudeste.

“Hoje, temos em torno de 200 produtores na região Sudeste. Minas Gerais concentra o maior número, respondendo por cerca de 65%”.

A maior parte dos olivicultores é de empresários ligados a outros negócios e não somente à agricultura. Mas o plantio de oliveiras também tem sido adotado como forma de diversificar a produção. 

“Temos empresários de vários ramos produzindo azeite, mas temos também agricultores que buscam diversificar. Eles já têm áreas de café e passam a cultivar as oliveiras. Por ser uma cultura nova, ainda existe uma certa insegurança de migrar de um cultivo estável para apenas a olivicultura”.

Cultura requer manejo diferenciado e também produção de mudas adaptadas para região | Crédito: Fazenda Irarema/Divulgação

Mercado para o azeite 

Na produção de azeite, o crescimento de 20% ao ano no número de produtores é estimulado pelos bons resultados alcançados e pela atividade ter grande potencial de exploração da região. Além disso, o preço do azeite mineiro ainda é atrativo e garante rentabilidade.

Enquanto os azeites de prateleira são negociados a preços próximos a R$ 30 por garrafa de 500 ml, o azeite da Serra da Mantiqueira supera os R$ 70.

“O azeite produzido aqui tem valor agregado muito alto. O mercado consumidor é diferenciado e, geralmente, são pessoas apaixonadas por azeite, como acontece com o vinho e outros produtos gourmet”, explica o coordenador do Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da Epamig, Luiz Fernando de Oliveira.

Epamig desenvolve pesquisas e tecnologias que são responsáveis pelo avanço da qualidade | Crédito: Erasmo Pereira / Ascom EPAMIG

Ainda segundo ele, o histórico do azeite de oliva, a notoriedade de que faz bem para a saúde, a busca por uma  alimentação saudável também são fatores que garantem um mercado promissor em Minas. Além disso, o produto é  fonte até para a produção de cosméticos, como cremes e xampus.

Para ter um retorno financeiro, Oliveira explica que o produtor tem que saber trabalhar o mercado e buscar por espaços que valorizam o azeite mineiro. Também é necessário fazer um trabalho junto aos consumidores, evidenciando a qualidade, o frescor e as vantagens do produto. 

“Um trabalho que ainda temos que fazer com maior intensidade é juntamente aos consumidores. Cada vez mais, precisamos mostrar as diferenças do azeite e o frescor. Trabalhar o mercado é fundamental, o produtor tem que saber onde colocar o produto”.

Pesquisas

Em Minas Gerais, todo o avanço registrado na produção de azeite é resultado das  diversas pesquisas realizadas – trabalho que não para. O coordenador do Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da Epamig, Luiz Fernando de Oliveira, explica que a continuidade dos estudos é fundamental para que a produção siga gerando bons resultados.

“A pesquisa é fundamental, principalmente, pela introdução de uma espécie que é nova na nossa região e não tínhamos histórico. O trabalho da Epamig, que é a  pioneira, segue abrangendo a adaptação das oliveiras ao sistema, no manejo da cultura, nas condições climáticas que são diferentes do mediterrâneo. É preciso desenvolver as técnicas e não podemos pegar a tecnologia usada fora e aplicar aqui. São condições muito diferentes”.

Todas as tecnologias desenvolvidas pela Epamig e outras entidades são importantes para o sucesso da produção local. Os estudos vão desde a produção de mudas adaptadas, passando pelo aprimoramento do manejo e, por fim, todo o trabalho para a agroindústria, com a extração.

“Precisamos fazer muitas pesquisas ainda para tornar a produção cada vez mais sustentável tanto de forma social como ambiental e econômica. Isso é importante para a atividade ser competitiva, principalmente, pelo preço do azeite importado, que é muito baixo”.

Entre os desafios, Oliveira explica que as pesquisas têm avançado em relação às doenças e nutrição. Mas ainda é preciso estudar sobre o comportamento das plantas para conhecer o real potencial produtivo e avançar em técnicas para amenizar os impactos das condições climáticas. 

O clima, em 2023, foi um fator relevante para a produção. Com as chuvas registradas na época da florada, houve quebra da produtividade. Com isso, a produção está estimada em cerca de 60 mil litros de azeite na Serra da Mantiqueira, metade da produção de 2022, que foi de 120 mil litros. As oliveiras também vêm apresentando bienalidade, ou seja, um ano de alta produção e o seguinte de queda.

Na Fazenda Irarema, olivicultor aliou produção do azeite ao turismo e vem colhendo ótimos resultados no faturamento | crédito: Fazenda Irarema/ Divulgação

Produtos de Minas têm status internacional

Com cuidados especiais e dedicação dos produtores, os azeites produzidos em Minas estão conquistando diversos prêmios internacionais. A olivicultora  Rosana Chiavassa cultiva as oliveiras ao som de músicas clássicas e já coleciona muitas premiações. 

Ela iniciou a produção em 2019, após adquirir um olival já pronto. A fazenda Santa Helena, em Maria da Fé, conta com as oliveiras mais antigas do Estado – hoje com 20 a 21 anos, em média.

“Quando comprei a fazenda, já tinha um olival com oliveiras prontas em tamanho, mas estavam muito judiadas. A olivicultura tem uma colheita e uma produção extremamente difíceis e onerosas. Por não ser uma cultura nativa, precisa de muita atenção e cuidados com o manejo. Foi um trabalho bem puxado e que demandou muito investimento para recuperar as oliveiras”.

A primeira colheita da produtora foi em fevereiro e março de 2020. Com as oliveiras ainda debilitadas, ela resolveu colocar música clássica na área e o resultado foi surpreendente. Em novembro do mesmo ano, ela teve uma minisafra, enquanto os vizinhos foram colher apenas em janeiro de 2021.

“Coloquei a música em março de 2020 e, em novembro, tive uma minicolheita. Foi inédito e há um agradecimento pela música. Tenho certeza que a música ajudou. Foi o primeiro azeite produzido ao som de música clássica, mas já temos no mundo, vinhedos”.

O cuidado diferenciado e a minicolheita renderam à produtora o primeiro prêmio em um dos mais importantes concursos do mundo, o Concurso Mundial de Azeites de Nova York (NYIOOC). Em 2021, a segunda colheita rendeu mais prêmios no NYIOOC, em Paris e na Grécia. Já em 2022, a safra também foi muito boa e o Monasto conquistou medalhas de ouro em Israel, Istambul, NY e Itália.

“O azeite Monasto é um dos oito melhores azeites do Brasil e foi reconhecido pela central de concurso do mundo. Este ano, a colheita é tardia pela temperatura que não foi favorável. Teremos uma colheita limitada e vamos, novamente, mandar para concursos diferentes”, explicou. 

Para ela, os azeites produzidos em Minas Gerais são diferenciados e únicos.  “A grande diferença é o frescor. Podemos falar que o nosso azeite é o melhor do mundo. Já o azeite que vem para o Brasil não é o top e, por isso, tem preços bem menores”.

O azeite produzido na Serra da Mantiqueira, além de atrair os consumidores pelo frescor e qualidade, também se tornou um atrativo turístico. O olivicultor Moacir Carvalho Dias produz o Azeite Irarema, em Poços de Caldas e, em 2018, abriu as portas da fazenda para visitação.  

“Nós iniciamos o plantio das oliveiras em 2016 e já havia produtores na região. Decidimos apostar no azeite pelos resultados positivos já alcançados por outros. Quando criamos nosso projeto de azeite, o tempo inteiro pensamos no turismo juntamente a ele. Foi muito assertivo agregar o turismo com o produto. Hoje, a visitação turística corresponde a maior parte do nosso faturamento. Poços de Caldas é uma cidade turística e aproveitamos esse movimento. Por final de semana, temos uma visitação média de 500 pessoas na fazenda”.

Azeite Monasto, produzido em Maria da Fé, tem vários prêmios | Crédito: monasto/Divulgação

Aliar o turismo à produção do azeite também é interessante por permitir que os consumidores conheçam os processos, o que agrega valor ao azeite que é comercializado sem atravessadores, gerando maior retorno ao produtor.

“Há cinco anos estamos abertos ao público. Nós já fizemos tour para mais 12 mil pessoas neste período. Nesse passeio, explicamos todo o processo de produção do azeite e estes visitantes aprendem a escolher um azeite diferenciado, as qualidades importantes que devem ser analisadas”. 

Com tanta dedicação, o Azeite Irarema, em 2018, foi o primeiro do País a conquistar a premiação máxima do concurso de Nova York, o prêmio Best in Class.

“Nós abrimos a porteira dos grandes prêmios para os azeites brasileiros. Depois disso, todos os anos nossos azeites ganham medalhas de ouro. Temos conseguido 100% de aproveitamento nos concursos que participamos”.

A conquista dos certames também é atribuída às características exclusivas da Serra da Mantiqueira. Segundo Dias, os azeites da região têm uma diferença sensorial muito grande frente aos demais do mundo e também frente aos azeites gaúchos. Além disso, há uma grande capacidade para produzir da melhor forma possível e são fabricados pequenos volumes, priorizando a qualidade. 

“A diferença é nítida tanto no aroma como no sabor do azeite. Os azeites da Serra da Mantiqueira são mais frutados. Isso é único da região, do clima, das montanhas de Minas”. 

Além dos blends suave e intenso e líquido aromatizado, o Irarema tem uma série especial de 700 garrafas por ano, chamado Azeite Duas Horas. O diferencial é o frescor ainda maior.

“A gente cronometra. Entre a colheita da azeitona e o envase são gastas menos de duas horas. A garrafa de 500 ml é vendida a R$ 149,90 e o mercado aceita bem. É um azeite que demanda muito trabalho e agilidade, mas temos retorno. Todas as garrafas são vendidas rapidamente”.

Azeiotonas são selecionadas e propiciam frescor ao azeite mineiro | Crédito: FAzenda Irarema

História do Azeite de Minas Gerais

De acordo com os dados da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), as primeiras mudas de oliveira chegaram a Maria da Fé em 1935 e já na década de 1940, servidores ligados ao governo de Minas Gerais começaram a estudar a cultura.

Em 1975, com a chegada da Epamig ao município, a empresa passou a conduzir os trabalhos com foco na avaliação da viabilidade do plantio de oliveiras na região Sul de Minas Gerais.

Em fevereiro de 2008, a Epamig realizou a extração do primeiro azeite de oliva extra virgem brasileiro e foram 40 litros produzidos.

Dos 40 litros produzidos em 2008, passou-se a 120 mil em 2022 – a maior produção já registrada na região. 

Cerca de 200 produtores atuam na Mantiqueira e a estimativa é que haja 90 marcas de azeite na região. 

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