Café do jacu vai bem enquanto outros grãos especiais do Brasil sofrem com taxas dos EUA

O setor cafeeiro do Brasil está passando por um momento desagradável em meio às tarifas punitivas dos Estados Unidos, mas um café especial que passa pelo trato digestivo do exótico pássaro jacu está emergindo da confusão sem sofrimento desnecessário.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros no início de agosto, em meio a uma disputa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi um duro golpe para as marcas de café premium do Brasil, que tinham os norte-americanos como seus consumidores mais ávidos.
Mas enquanto as exportações de café premium do Brasil começaram a cair drasticamente, uma bebida peculiar desafiou a tendência, atraindo consumidores japoneses, britânicos, e cada vez mais brasileiros, dando a entender que o futuro do café especial do país pode ir além de seu maior mercado tradicional.
Os norte-americanos, por outro lado, não têm muito gosto pelo café do jacu, grão arábica de alta qualidade que é comido, digerido e defecado pela ave nativa da Mata Atlântica antes de ser transformado em bebida.
“O americano (…) não tem a visão do japonês, do asiático, do pessoal da Arábia Saudita, do europeu, de olhar para esse tipo de qualidade”, disse Henrique Sloper, produtor do café Jacu Bird, a repórteres. “Então, para nós não afeta nada, no caso específico desse produto.”
O café Jacu Bird é apreciado por seu aroma floral e acidez equilibrada, qualidades que se originam da natureza absorvente dos grãos e do processo digestivo da ave, de acordo com Rogério Lemke, supervisor agrícola da Fazenda Camocim, responsável por sua produção.
“O jacu não só come café, ele come frutas também, e isso dentro do papo dele, o grão de café vai absorvendo as características dessas frutas também para dentro do grão”, disse Lemke enquanto estava diante da secagem do cocô do jacu, cheio de grãos de café.
Outros cafés brasileiros sofrem
Os jacus que perambulam pelos cafezais da Fazenda Camocim são uma espécie de penélope, grandes aves frugívoras encontradas em toda a América Latina. A fazenda teve a ideia de recrutar a ajuda dos jacus depois de observá-los bicando as cerejas maduras do café e lembrando-se do famoso café Kopi Luwak da Indonésia, feito com grãos que passam pelo sistema digestivo das civetas.
No entanto, embora o café Jacu Bird, que pode chegar a cerca de US$ 1.300 o quilo, não tenha tido suas vendas afetadas, o mesmo não acontece com o restante do setor de cafés especiais do Brasil.
Em agosto, as exportações de cafés especiais do Brasil, o maior produtor de café do mundo, para os Estados Unidos, o maior consumidor mundial da bebida, caíram quase 70% em relação a julho, de acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais.
Embora a associação ainda não tenha publicado os números de exportação de setembro, a situação do café especial do Brasil continua desastrosa, disse Marcio Ferreira, presidente do grupo de exportadores de café do Brasil, Cecafe, à Reuters na semana passada.
“A maior queda na importação de café brasileiro foi nos cafés especiais”, disse Ferreira, citando o impacto das tarifas sobre o custo premium dos grãos especiais.
Assim, embora o café do jacu tenha escapado das tarifas de Trump por causa da sua distribuição geográfica, as taxas representam um momento desafiador para os outros cafés da Fazenda Camocim, que constituem a maior parte de sua produção anual, acrescentou Sloper, o executivo-chefe da fazenda.
“A América é o maior mercado do planeta de café, (e) a gente não tá entrando”, disse Sloper. “No curto prazo é muito ruim, mas no médio e longo prazo talvez nos force a abrir outros mercados”, disse ele.
Conteúdo distribuído por Reuters
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