Produção e consumo de cafés especiais se tornam tendência em Minas Gerais

O consumidor de café tanto em Minas Gerais quanto no restante do Brasil tem se tornado um público cada vez mais exigente, em busca de produtos com melhor qualidade. Visando atender essa demanda, muitos produtores estão apostando na produção de cafés especiais, que prometem melhores sabores se comparados aos demais produtos. Para ser classificado como especial, o café precisa marcar, pelo menos, 80 pontos no sistema de avaliação da Specialty Coffee Association (SCA).
A analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Gomes, ressalta que não há estatísticas oficiais que mensuram o mercado dos cafés especiais no País. No entanto, segundo ela, é possível afirmar que Minas é o principal produtor deste tipo de produto do mundo, uma vez que ele é um dos grandes destaques no mercado mundial de café.
“Algumas entidades especializadas no setor de café especial mensuram que entre 10% a 15% da safra brasileira corresponde a cafés especiais. Então, se a gente fizer esse mesmo percentual para safras de Minas Gerais, nós teremos em torno de 3 a 4 milhões de sacas produzidas na última safra”, explica.
Ela afirma que esse é um mercado em crescimento e com grande potência, uma vez que os brasileiros estão conhecendo mais a fundo os diferenciais do café, principalmente aqueles atrelados à qualidade. Ana Carolina ainda revela uma mudança na metodologia de classificação de café de especialidade, que agora considera atributos de boas práticas ambientais e sociais, além da qualidade do produto.
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A analista da Faemg destaca que não apenas os consumidores mineiros, mas todos os brasileiros têm reconhecido a qualidade nos grãos e o consumo tem se concentrado no mercado interno. Ela ainda destaca o surgimento da quarta onda do café, que está diretamente ligada à disseminação das cafeterias e ao costume de frequentar ambientes que oferecem cafés de qualidade. “Muitas dessas cafeterias trabalham com um catálogo de cafés especiais, métodos de preparo diferenciados para potencializar a qualidade daquela xícara”, completa.
De acordo com o produtor de café da Fazenda Santa Bárbara, no município Monte Carmelo, no Alto Paranaíba, Hemerson Bovi, a produção de café especial exige a adoção de técnicas de secagem diferenciadas, de forma mais lenta e cuidadosa. Ele ainda revela que apenas 10% a 15% dos grãos de uma colheita poderão ser aproveitados nesse tipo de produção.
“O café especial provém de uma colheita com os grãos mais maduros e mais uniformes. Então, o produtor não consegue aproveitar aqueles grãos que estão fora desse padrão na produção de cafés especiais”, pontua.
A analista Ana Carolina aponta para o fato do mercado internacional ter iniciado nesse segmento de forma mais antecipada frente ao Brasil. Ela lembra que o País era mais conhecido pela quantidade que era exportada, com pouco destaque para a qualidade do café brasileiro. “No Brasil, começou a se falar de café de especiais tardiamente, mesmo sendo o maior produtor de café, mas isso tem mudado. Hoje, nós exportamos volume e qualidade”, ressalta.

Para ela, esse crescimento do consumo de cafés especiais em Minas Gerais tem se fortalecido há pelo menos 10 anos. De acordo com a analista de agronegócio, um dos fatores determinantes para essa tendência de crescimento dessa cultura no Estado foi a realização da Semana Internacional do Café, que ocorre uma vez por ano em Belo Horizonte. “O principal objetivo do evento é justamente fomentar a produção e a disseminação dos cafés de qualidade e dos cafés especiais”, afirma.
Já Bovi relata que as empresas do setor só passaram a trabalhar esse café especial no Brasil a partir da década de 1990. A partir de então, foi possível observar o potencial que o País tinha para este modelo de produção de café, com capacidade de competir no mercado internacional. “Começaram a aparecer provadores para classificar o café e os concursos de qualidade. Isso aí contribuiu para dar um salto na produção de café”, avalia.
Com esses incentivos, muitos produtores passaram a trabalhar com cafés especiais, seja pela questão financeira – uma vez que esses produtos são comercializados com valores mais elevados – ou pelo simples prazer de produzir um bem muito desejado. Para o produtor da Fazenda Santa Bárbara, uma das grandes vantagens desse mercado é poder trabalhar com algo que será oferecido a um público diferenciado.
“Isso é muito gratificante para o produtor, quando ele chega ao final de seu trabalho e tem um produto que agrada e que se diferencia dos demais pela qualidade e pelo modo que ele é produzido”, afirma.
O produtor ainda ressalta que os métodos de produção adotados também têm se desenvolvido nos últimos anos, assim como as tecnologias empregadas no trato deste tipo de café. “As técnicas vêm mudando e se aperfeiçoando para o produtor obter mais cafés de melhor qualidade. Essa é a ideia que tem reinado”, completa.
A analista da Faemg explica que o fator especial do café surge desde o momento da colheita do fruto, no ponto de maturação correto. No entanto, o trato do café é a parte mais significativa e com potencial de interferir diretamente na qualidade do que chegará à casa do consumidor final. “Então, quanto maior o cuidado e quanto mais especial você trata o café até ele chegar à xícara, melhor a qualidade”, completa.
Para Bovi, o mercado de cafés especiais ainda tem muito espaço para crescer, uma vez que a maioria esmagadora de cafés consumidos não é deste tipo. Bovi acredita que os produtores também têm muito que aprender para conseguir aumentar a quantidade fornecida e quem sabe até comercializá-los a um preço mais acessível.
Ana Carolina também avalia que o mercado de cafés especiais pode avançar ainda mais no País e em Minas. No entanto, ela destaca que para atingir seu ápice, é preciso que os brasileiros tenham mais acesso às informações sobre esse produto e sua diferença frente aos demais.
“A partir do momento que todo mundo tiver informações sobre a diferença do café tradicional para o café especial e criar o hábito do consumo de cafés especiais, nós vamos transformar o mercado. Nós vamos inverter essa lógica e não seremos mais apenas 10% ou 15%, mas seremos 90% ou 80% da produção”, declara.

Quanto às principais dificuldades enfrentadas, o produtor destaca o alto custo de produção na comparação com os outros tipos de cafés e o fato dele ainda não ser um produto acessível para todos os consumidores. “Mesmo tendo muita gente que tem interesse em tomar’ um café de melhor qualidade, às vezes o preço acaba diminuindo a quantidade de consumidores”, relata.
Apesar disso, Bovi ressalta que o segmento vem crescendo ano a ano e tem aumentado seu mercado consumidor e também a oferta de cafés especiais. Ele avalia que as pessoas estão aprendendo a tomar café de boa qualidade e estão cobrando por isso. “Cada vez mais, o produtor tem que estar antenado e ligado para produzir esses cafés de qualidade superior”, pontua.
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