Carne bovina do Brasil conta com outros mercados enquanto vendas aos EUA caem

A indústria de carne bovina do Brasil, maior exportador global, está expandindo exportações para diversos mercados e conta com a abertura de novos enquanto as vendas para os Estados Unidos deverão ter nova queda em setembro devido ao tarifaço, afirmou o presidente da associação Abiec, nesta quarta-feira (17).
Roberto Perosa destacou que o Brasil tem capacidade de realocar embarques que antes iriam para os EUA, e reafirmou que o país deverá crescer 12% em volumes totais exportados em 2025 em relação ao ano passado, podendo avançar em 14% numa expectativa mais otimista.
Para os EUA, tradicionalmente o segundo maior mercado para a carne brasileira após a China, os embarques em setembro terão nova queda, para 7 mil toneladas, versus 9 mil em agosto e aproximadamente 30 mil mensais antes do tarifaço, disse Perosa.
“A despeito das tarifas e das questões geopolíticas, o brasileiro, principalmente o setor da pecuária, tem muita capacidade de articulação e realocação dos seus produtos”, afirmou Perosa durante o Fórum Pecuária Brasil, promovido pela consultoria Datagro.
No ano passado, o Brasil vendeu 2,89 milhões de toneladas de carne bovina para cerca de 150 países, totalizando US$12,9 bilhões. Em receita, a Abiec prevê que as exportações brasileiras do produto cresçam até 16% em 2025.
Além de contar com firme demanda global pela carne bovina, Perosa destacou ainda que o Brasil é competitivo e consegue manter parte dos embarques aos EUA, apesar das tarifas impostas por Donald Trump. “A perda do nosso segundo maior mercado faz diferença. Mas pasmem, mesmo com a tarifa de 76,4% (dos EUA à carne bovina), ainda existe exportação para os EUA por conta da competitividade que nós conquistamos”, acrescentou.
A jornalistas, ele explicou que existem empresas brasileiras com contratos vigentes que continuam exportando aos EUA, embora em menores volumes. Esses embarques são diversos, incluindo cortes de maior valor agregado, mas também há alguns relacionados a compromissos com o governo dos EUA.
“Existem empresas brasileiras que têm contrato em vigência com o governo dos Estados Unidos para fornecimento de carne para o governo americano, por exemplo, para as prisões… milhares e milhares de dólares, e este contrato não pode ser rompido…”, disse ele, sem mencionar os nomes das companhias.
Ele também comentou sobre um forte aumento de exportações do Brasil para o México –mercado aberto ao final de 2023 e que passou a ser o segundo destino dos embarques brasileiros em agosto–, o que levantou questões se estaria havendo uma triangulação para embarcar carne brasileira aos EUA.
“Está aumentando, mas não significa necessariamente que a carne vai para os EUA…”, afirmou, ponderando que em carne bovina o México tem mais acordos comerciais do que o próprio Brasil.
“Isso faz com que ele (México) possa comprar a carne brasileira, usar no seu consumo interno, e exportar para todo mundo, não exclusivamente para os EUA. Então acho que não há estratégia de triangulação… claro que uma pessoa ou outra pode eventualmente fazer, mas não é o grosso da exportação…”
Para Perosa, no setor de bovinos, as exportações do México para os EUA estão concentradas em bois vivos.
Novos mercados
Perosa disse em sua apresentação que o segmento tem a expectativa de abertura de novos mercados para seguir crescendo.
“Faltam ainda atender três mercados estratégicos, no início do ano faltavam quatro. O Vietnã foi aberto recentemente, e novas habilitações estão a caminho.”
O presidente da Abiec disse que o Brasil ainda trabalha para abrir o Japão, Turquia e Coreia do Sul, “que são mercados altamente rentáveis”.
“Acho que estamos muito próximos da questão do Japão… foi sendo criado um contexto para abertura do Japão e estamos caminhando para isso”, ressaltou ele, dizendo que espera que isso aconteça ainda este ano.
Conforme antecipou a Reuters, inicialmente estão sendo negociadas vendas para o Japão a partir dos Estados do Sul.
Sobre a Turquia, ele disse que há questões técnicas que precisam ser resolvidas, como uma testagem individual de animais exigida pelos turcos, que seria inviável. “Mas o Brasil quer muito entrar e estamos vendo como fazemos para entrar nesse mercado.”
Com relação à Coreia do Sul, Perosa afirmou que “falta um empurrão diplomático do governo brasileiro” para um andamento mais célere do processo.
Ele ressaltou ainda, que com as novas empresas habilitadas a exportar para a Indonésia, já está havendo um grande fluxo comercial de miúdos para aquele país.
Conteúdo distribuído por Reuters
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