Agronegócio

Cenário global pode afetar vendas de carnes e grãos do Brasil

Complexo carnes deve ter demanda impactada tanto pelos chineses quanto os europeus, enquanto soja e milho podem ver a procura da UE cair
Cenário global pode afetar vendas de carnes e grãos do Brasil
Crédito: Paulo Whitaker / Reuters

São Paulo – Um cenário econômico global marcado por inflação alta e riscos geopolíticos persistentes deve limitar o crescimento de alguns dos principais importadores de produtos agropecuários neste ano, como a China e países da União Europeia (UE), o que pode afetar as exportações do Brasil seja em volume ou em preço, avaliou a consultoria Céleres nesta terça-feira.

O complexo carnes deve ter a demanda impactada tanto por parte dos chineses quanto dos europeus, enquanto produtos como soja, milho e farelo de soja têm chance de ver a procura de países da UE diminuir, disse, nesta terça-feira, à Reuters o analista da consultoria Céleres Enilson Nogueira.

Com base em informações do Fundo Monetário Internacional (FMI), a consultoria destacou em análise que o Produto Interno Bruto (PIB) da China deve crescer cerca de 4% em 2023, ante média de 6,6% ao ano entre 2013 e 2021; e o país asiático tem participação como destino de quase 40% da pauta de exportações do agronegócio brasileiro.

“A carne bovina, por exemplo, é um produto consumido pela população de renda um pouco maior na China. Se eles crescem menos, a demanda fica prejudicada”, afirmou o analista.

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No ano passado, o Brasil avançou 42% em receita com a exportação de carne bovina, para US$ 13,1 bilhões, tendo o mercado chinês como responsável por 60,9% deste resultado, conforme dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) divulgados na véspera.

A entidade alertou, no entanto, que este cenário tende a mudar em 2023 por possível pressão dos importadores chineses sobre os preços da proteína.

“Vemos suínos e aves também impactados, mas em proporção menor do que a carne bovina”, afirmou Nogueira sobre a demanda da China para as demais proteínas de origem animal.

Para Nogueira, as exportações de aves e suínos do Brasil devem ter estabilidade ou queda neste ano, por influência tanto do desempenho econômico chinês quanto europeu.

Embarques de frango avançam em 2022

Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) divulgados nesta terça-feira indicam que o País bateu recorde em embarques de frango em 2022, com 4,6 milhões de toneladas, mas a China – principal compradora – reduziu em 15,6% o volume adquirido. A UE, por sua vez, avançou em quase 23%.

Em 2023, porém, o analista da Céleres acredita que o apetite de compras dos países europeus pode ficar mais prejudicado. No levantamento da consultoria baseado em informações do FMI, a expectativa é que o crescimento do PIB da UE não supere 1%.

“A Europa talvez seja a região que mais preocupa em relação à demanda como um todo. Os respingos da guerra na Ucrânia devem gerar mais inflação, limitando a demanda por produtos agrícolas”, disse Nogueira.

Ele também acredita em uma recuperação nos volumes de produção de grãos da Rússia e Ucrânia, o que impacta sobre o “efeito substituição” que vinha acontecendo no mercado. Em 2022, a diminuição de produtos do Leste europeu levou importadores da UE à busca por suprimentos no Brasil, algo que pode diminuir neste ano.

“Este fator de importadores saindo da Rússia e Ucrânia e vindo para Brasil, talvez não venham na mesma intensidade”, acrescentou.

Por outro lado, o que pode estar preservado na avaliação da Céleres é a demanda chinesa para grãos do Brasil, uma vez que o controle da peste suína africana tem elevado a produção de suínos do país e, por consequência, demandado insumos para ração animal.

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