Cerrado mineiro: cultivares refinam qualidade do café

A necessidade de se ter cultivares mais adaptadas ao clima e às características das regiões produtoras de café, o que pode garantir o sucesso da produção, estimula pesquisas em todo o País. Mas a adoção das novas cultivares por parte dos cafeicultores ainda é um desafio. Para levar a tecnologia aos produtores e unir as pesquisas de melhoramento, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) firmou parceria com a Fundação de Desenvolvimento do Café do Cerrado (Fundaccer) e recebeu apoio do Consórcio Pesquisa Café. Os resultados do projeto em comum têm sido o ganho em qualidade da bebida, no aumento de cerca de 30% da produtividade e a descoberta de novos sabores.
Com o projeto, desde 2016, foram implantados campos experimentais na região do Cerrado, onde diversas cultivares foram testadas. Os resultados obtidos são positivos e vêm estimulando a adoção das novas cultivares. De acordo com o pesquisador da Epamig Gladyston Carvalho, o projeto das unidades nasceu em 2016 com o objetivo de unir as pesquisas de melhoramento de café que eram desenvolvidas em várias partes do País, mas que tinham pouca adesão por parte dos produtores se levado em consideração o potencial produtivo.
“Até 2016, a Epamig vinha desenvolvendo ações isoladas. As sementes eram plantadas pelos produtores ou pela Epamig, mas a nossa percepção foi de que, se não organizássemos essa produção, não teríamos o resultado esperado, que é mostrar o potencial. Buscamos produtores através da Federação e fizemos trabalho em conjunto a eles. Instalamos 25 unidades contemplando as principais macrorregiões do Cerrado, incluindo produções irrigadas e de sequeiro, de maneira que pudesse representar as características do Cerrado e poder ser replicada para todos os produtores”, explicou.
Ainda segundo Carvalho, os produtores ficaram responsáveis por custear os cuidados com as lavouras e a Epamig acompanhou todo o processo. Em 2019, primeiro ano de colheita, os resultados já foram positivos.
“Já no primeiro ano de colheita, percebemos que os produtores começaram a notar o potencial das cultivares novas em relação às demais que já eram utilizadas no Cerrado. Neste mesmo ano, já percebemos também uma demanda maior pelas novas cultivares e isso se consolidou em 2020. Fazendo uma avaliação nos viveiros de mudas, percebemos que em torno de 60% a 80% são de novas cultivares. O projeto mudou a visão do agricultor”, disse.
Maior produtividade – Em termos de ganhos, segundo Carvalho, o produtor já percebeu o aumento da produtividade. “Quando o cafeicultor escolhe uma variedade correta para a área e a condição de cultivo, chegamos a índices de até 30% de incremento na produtividade. É muita coisa”, avaliou.
No segundo ano de colheita, também foi possível observar ganho em qualidade da bebida. A região do Cerrado tem um predomínio de 82 a 83 pontos na escala de qualidade internacional. Com as novas cultivares, essa pontuação subiu dois pontos percentuais, passando para 84 e 85 pontos.
“Outra vantagem que registramos foram os novos sabores. O padrão Cerrado é um café caramelo; com a introdução das novas cultivares, novos sabores apareceram, como mais frutado, cítricos”, contou.
O projeto terá duração de mais dois anos na região do Cerrado, o que garante a consolidação dos resultados. “Com essas duas colheitas, já conseguimos identificar as variedades melhores para cada característica, como sequeiro, irrigado, maior altitude, entre outras. Vamos acompanhar por quatro colheitas para ter uma recomendação mais concreta”.
Ao final das colheitas, em 2022, a intenção é desenvolver um aplicativo para que os cafeicultores do Cerrado, através dele e do cadastro das características da produção, escolham as melhores variedades.
Ao todo, foram testadas 12 cultivares, sendo nove do Programa de Melhoramento da Epamig e três que são padrão na região: Catuaí 144, pela produtividade; Bourbon amarelo, pela qualidade; e um material bastante resistente à ferrugem, o IAC 125 RN.
Regiões – Após os primeiros resultados positivos na região do Cerrado, o projeto foi levado também para o Sul de Minas, através de convênio com a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé). No Sul de Minas, são entre 13 e 14 áreas em teste e os resultados são positivos.
“Os resultados mostram que vale a pena investir na melhoria das variedades usadas. O produtor ganha em produtividade e qualidade”, explicou o pesquisador da Epamig Gladyston Carvalho.
Ainda segundo Carvalho, várias outras regiões estão interessadas em participar do projeto. “A ideia é lançar, ainda este ano, um novo projeto-piloto, a unidade três, provavelmente com campos distribuídos no Sul e Cerrado. A ideia também é ampliar para áreas ainda não contempladas, como as Matas de Minas e o Campo das Vertentes, por exemplo. Queremos mostrar o que temos de novo e identificar as melhores opções conforme a demanda dos produtores e as características de cada região”.
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