Agronegócio

China flexibiliza embargo à carne bovina brasileira

China flexibiliza embargo à carne bovina brasileira
Os casos de vaca louca são atípicos, sem risco de transmissão ao rebanho | Crédito: REUTERS/Pilar Olivares

A novela da suspensão chinesa de importações da carne bovina brasileira ganhou novo capítulo ontem. Autoridades alfandegárias da China anunciaram que aceitarão pedidos de importação do produto que tenha recebido certificado sanitário antes de 4 de setembro, data em que o Brasil notificou o país asiático sobre dois casos de vaca louca.

Dessa forma, poderão ser liberados carregamentos que já estavam estocados nos portos, em alto-mar ou nos portos chineses, em contêineres, quando a suspensão de exportação brasileira foi anunciada. Produtores de carne bovina em Minas Gerais entendem que essa decisão chinesa foi o primeiro passo para uma solução definitiva do problema.

“Já é um sinal de que podemos ter, muito em breve, a liberação de novas exportações de animais que foram abatidos após essas ocorrências. Já é um sinal de uma negociação feita por nossas embaixadas, por nossos embaixadores”, disse, otimista, o superintendente técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Sistema Faemg), Altino Rodrigues Neto. “Não há razão para as suspensões porque o Brasil nunca teve vaca louca típica”, completou.

O Brasil suspendeu as exportações de carne bovina para a China em 4 de setembro, após detectar dois casos atípicos de doença da vaca louca, um em Minas Gerais e outro em Mato Grosso. Os casos foram considerados atípicos pelas autoridades sanitárias brasileiras por serem de um tipo espontâneo da doença, não transmissível ao rebanho. A Organização Internacional de Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês), entende que os casos atípicos não oferecem riscos à saúde humana e animal e, em geral, são detectados em bovinos mais velhos.

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Mesmo com todos os esclarecimentos das autoridades brasileiras, a China vinha mantendo embargo total à carne bovina brasileira, mesmo àquelas já certificadas anteriormente aos casos, sem muitos argumentos.

Ontem, a alfândega chinesa informou em seu site que está aceitando os pedidos de importação de carne bovina certificada antes da suspensão. No entanto, não ficou claro no comunicado quanto tempo esses procedimentos levariam ou a quantidade de produto brasileiro presa no limbo desde a suspensão. Segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), a decisão libera pouco mais de 100 toneladas de carne bovina brasileira que se enquadram nessa situação.

O Brasil é o principal fornecedor de carne bovina da China, atendendo a cerca de 40% de suas importações. A suspensão, segundo dados da Abrafrigo, causou uma queda de 43% nos embarques totais de carne bovina em outubro.

Minas Gerais é o quarto maior exportador de carne de boi do Brasil. O Estado também tem o quarto maior rebanho bovino, com 2,2 milhões de cabeças, segundo dados do Ministério da Economia e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Ainda segundo dados do Ministério da Economia, complementados pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), de janeiro a outubro de 2021, Minas Gerais embarcou 87 mil toneladas de carne bovina para o país asiático, o que movimentou US$ 480 milhões. Para se ter ideia da importância do mercado chinês para os produtores mineiros, todos os embarques para os 69 países (incluindo a China) que importaram carne de boi oriunda de Minas Gerais nesse período, somam, juntos, US$ 778 milhões. (Com Reuters)

Altino Rodrigues não há casos típicos de vaca louca no Brasil | Crédito: Alisson J. Silva/Arquivo DC

Protecionismo nos EUA

As recentes sinalizações de produtores de gado dos Estados Unidos e do senador americano Jon Tester (Partido Democrata) que intentam a suspensão das importações de carne bovina brasileira para o país da América do Norte demonstram um caráter protecionista.

Essa é a análise do presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antônio Pitangui de Salvo, que destaca, ainda, que, ao mesmo tempo em em que o mercado norte-americano importa pouco em termos de volume de importação, o projeto de lei do senador Jon Tester pode trazer efeitos políticos significativos

“O mercado dos Estados Unidos dá um aval importante da nossa qualidade sanitária para o mundo. Mas nós já provamos que não tivemos casos típicos de vaca louca no País. E essas sinalizações demonstram certo protecionismo, uma defesa de reserva de mercado para o produtor daquele país”, afirma Antônio Pitangui de Salvo, que também preside o Sistema Faemg.

Segundo dados do Ministério da Economia e da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), de janeiro a outubro de 2021 os Estados Unidos importaram 6 mil toneladas de carne bovina produzida no Estado (US$ 38 milhões)

O presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da CNA reforça que as sinalizações políticas dos Estados Unidos por meio do senador Jon Tester e da Associação de Produtores de Carne dos Estados Unidos são desnecessárias, principalmente quando lembrados os aspectos de qualidade e competitividade que o Brasil entrega aos mercados compradores. 

“Nós temos o melhor produto do mercado e o melhor preço. Não existe outro player no mercado que possa substituir o embarque de 600 mil bois por mês”, exemplifica Salvo, que lembra, ainda, a importância do mercado asiático, sobretudo chinês, pelos volumes consideráveis de importação do produto.  

Na quinta-feira, o senador dos EUA Jon Tester apresentou um projeto de lei para suspender as importações da carne bovina brasileira e a revisão de normas de segurança para a entrada do produto nos Estados Unidos. O senador alegou que os relatos de casos atípicos de vaca louca foram comunicados à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) semanas após a descoberta. 

Ministra espera resolver questão chinesa em dezembro

Brasília – A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, disse ontem que a decisão das autoridades alfandegárias da China de liberar a entrada no país de carne bovina brasileira que tenha recebido o aval sanitário chinês antes de 4 de setembro é o “primeiro passo” para a retomada integral das exportações do produto brasileiro.

“O próximo passo é liberarmos a suspensão da carne brasileira daqui para frente. Então, estamos em andamento neste processo e eu espero que isto aconteça ainda no próximo mês”, declarou Tereza a jornalistas que a aguardavam na entrada do ministério, em Brasília.

“Foram casos atípicos. Tanto é que a autoridade mundial (Organização Internacional de Saúde Animal, OIE) concluiu o caso rapidamente, liberando o Brasil. Todos os países-membros da OIE liberaram a carne brasileira, com exceção da China, que tem um protocolo diferente, razão pela qual o Brasil teve que suspender suas exportações. Mas só a China teve este problema, que está sendo superado”, comentou a ministra, garantindo não haver motivos para os consumidores brasileiros ou internacionais se preocuparem.

“(A decisão chinesa) é fruto de um processo técnico que caminhou passo a passo”, acrescentou Tereza Cristina ao admitir que as negociações demoraram mais que ela esperava inicialmente. “Mas isto já alivia um pouco os exportadores brasileiros, pois havia muitos contêineres que já estavam embarcados, em alto-mar, ou já em alguns portos da própria China  (quando o país decidiu interromper as importações)”, comentou a ministra, alegando que a situação gerou contratempos e prejuízos à pecuária brasileira, mas que o setor produtivo foi capaz de encontrar alternativas.

Prejuízos – “Não temos este prejuízo calculado, mas houve sim um prejuízo. O preço da arroba caiu e muitas indústrias tiveram que dar férias (para seus funcionários). Realmente, houve um prejuízo inicial, mas, agora, a arroba do boi já voltou a subir, pois houve aberturas (para outros mercados). O setor se movimentou rapidamente e passou a exportar mais, para outros destinos. As plantas (industriais) que estavam habilitadas a exportar para os EUA, por exemplo, exportaram mais – motivando uma reação (contrária) dos produtores norte-americanos”, disse.

A ministra acrescentou que a Rússia anunciou uma nova cota global de importações. “Não é uma cota só para o Brasil, mas a qual o país poderá ter acesso e, com certeza, será um acesso grande, pois somos um grande exportador e já temos plantas industriais habilitadas para vender para a Rússia. Então, o setor mostrou que é forte e vai continuar exportando”, concluiu a ministra. (ABr)

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