Agronegócio

Clima e bienalidade negativa derrubam safra de café em Minas Gerais

Estado deve colher 25,2 milhões de sacas, enquanto produção nacional tem leve alta
Atualizado em 4 de setembro de 2025 • 17:09
Clima e bienalidade negativa derrubam safra de café em Minas Gerais
Foto: Divulgação Abisolo

As altas temperaturas, somadas à restrição hídrica e ao período de bienalidade negativa do café, provocaram uma queda de 10% na safra 2025 do grão em Minas Gerais, maior produtor do País. Com a colheita praticamente encerrada, o Estado deve responder por 25,2 milhões de sacas de 60 quilos. Os dados são do 3º levantamento da cultura, divulgado nesta quinta-feira (4) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Ao contrário de Minas Gerais, no Brasil, a safra 2025 de café foi estimada em 55,2 milhões de sacas beneficiadas. Apesar de este ano ser caracterizado como um ciclo de baixa bienalidade, o volume é 1,8% superior ao registrado em 2024.

Do total projetado de 25,2 milhões de sacas em Minas Gerais, a maior parte corresponde ao café arábica. Segundo a Conab, a produção do grão será de 24,7 milhões de sacas, uma queda de 10,8% em relação a 2024. Neste ano, a produtividade das lavouras de arábica recuou 8,7%, alcançando 23,2 sacas por hectare. Já a área em produção, de 1,06 milhão de hectares, foi 2,3% menor.

Já a produção de café conilon em Minas Gerais cresceu expressivos 49,2%, alcançando 580 mil sacas de 60 quilos. A produtividade chegou a 32,7 sacas por hectare, alta de 58%, enquanto a área plantada, de 11,2 mil hectares, recuou 6,5%.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Segundo o gerente de Acompanhamento de Safras da Conab, Fabiano Vasconcellos, com a colheita praticamente encerrada já é possível confirmar a queda de produção provocada pelo clima e pela bienalidade negativa.

“O café, especialmente o arábica, apresenta a particularidade da bienalidade: em um ano produz bastante e, no seguinte, menos. Em 2024, as variações climáticas — como o aumento das temperaturas e a restrição hídrica — impactaram o ciclo fenológico da cultura e trouxeram reflexos para a safra atual. Já havia expectativa de redução pela bienalidade negativa e, com a colheita praticamente encerrada, essa queda se confirma”, explicou.

Queda na produção do café acontece em todas as regiões de Minas Gerais

Conforme os dados da Conab, houve queda na produção de café em todas as regiões de Minas Gerais. A região do Cerrado Mineiro concentra a maior retração. A previsão é colher 13,8% a menos de café em 2025, totalizando 4,6 milhões de sacas. A região, ao longo da safra, registrou temperaturas elevadas, períodos de estiagem, chuvas com menores volumes e mais concentradas, comprometendo assim, a produção local. 

Vasconcellos destaca que a região do Cerrado também enfrentou, entre o final de julho e início de agosto, geadas, o que pode comprometer parte da safra de 2026.

“Houve registro de geadas no Cerrado Mineiro, algo que para essa safra não trouxe danos uma vez que a maior parte das lavouras já estavam colhidas. Mas, isso pode ter afetado lavouras que estavam em recuperação vegetativa e pode impactar o para o próximo ciclo”.

No Sul de Minas, maior região produtora do Estado, as lavouras também sofreram com as oscilações climáticas. Assim, a previsão é colher 11,9 milhões de sacas, representando, assim, uma retração de 11,3%.

Na Zona da Mata e Rio Doce a produção total de café está estimada em 7,8 milhões de toneladas. O volume, caso confirmado, ficará 6,4% menor que o registrado em 2024. O clima desfavorável e a bienalidade negativa também prejudicaram a safra de cana no Norte de Minas, Jequitinhonha e Mucuri. Conforme a Conab, a queda esperada no volume da região é de 1,5%, somando 882,2 mil sacas de 60 quilos. 

Confirmação de safra menor e estoques mundiais baixos alavancam preços do café  

Quanto ao mercado do café, o diretor do Departamento de Análise Econômica e Políticas Públicas do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Silvio Farnese, explicou que, em agosto, os preços do grãos dispararam diante dos estoques baixos no mundo e da queda da produção no Brasil. Ele também ressaltou que o tarifaço imposto pelos Estados Unidos desorganizou o mercado internacional de café, que foi sobretaxado em 50%.

“No mercado tivemos surpresas em agosto com as cotações mundiais apresentando altas expressivas em Nova Iorque e Londres. O mercado está nervoso e olhando as altas em função do padrão climático do Brasil – chuvas irregulares, geadas e granizo. Isso causou um repique de preços. O mercado está procurando se ajustar, mas com as cotações ainda altas, influenciadas pela baixa oferta de café e estoques mundiais limitados”. 

Conforme Farnesi, a saca de 60 quilos do café arábica, bebida boa, está cotada entre R$ R$ 2,2 mil e R$ 2,5 mil, valor que supera em 60% o preço registrado no ano passado”.

“No cenário do café percebemos bastante indefinições, aguardando decisões políticas, econômicas e o clima. O mercado está olhando para a safra que vem e, isso, já está refletindo nas cotações”.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas