Agronegócio

CNA defende ‘revolução na pecuária’ para agregar valor e ampliar exportações de carne

Evento inédito no País reúne, em BH, produtores, técnicos, indústria e especialistas do setor durante dois dias; ex-ministra da Agricultura critica “falta de ação” do governo federal para reverter tarifaço
CNA defende ‘revolução na pecuária’ para agregar valor e ampliar exportações de carne
Foto: Reprodução Site Sistema Faemg Senar

Segundo maior produtor e maior exportador de carne bovina do mundo, o Brasil precisa avançar na disseminação de tecnologias no campo para elevar a produtividade e a qualidade da carne produzida. Durante o Congresso Nacional da Carne (Conacarne), que acontece em Belo Horizonte até esta sexta-feira (19), representantes do setor ressaltaram que ganhos em qualidade são o caminho para continuar a abastecer o mercado atual, chegar a países mais exigentes e receber valores diferenciados. No evento, o setor também mostrou grande preocupação com o tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, que elevou a taxação da carne bovina a mais de 70%.

O Conacarne, evento inédito no Brasil, é organizado pelo Sistema CNA Senar e pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e conta com o apoio da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). O propósito é reunir produtores, técnicos, indústria e especialistas para debater os principais desafios e inovações do setor.

A senadora e ex-ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, ressaltou que há falta de ação do governo federal para reverter o tarifaço junto aos Estados Unidos, o que poderá causar perdas para os produtores de Minas e do Brasil. “Quem está no Executivo é que precisa ter esse canal de conversa. O governo brasileiro nunca deu atenção desde que o presidente Trump chegou ao poder. Essa falta de diálogo, essa falta de interesse em conversar com os EUA, que é a maior potência mundial, eu acho que é querer deixar o Brasil à margem. Com isso, hoje, nós temos aí essas tarifas que estão entre as maiores do mundo, incidindo no Brasil e na Índia. Infelizmente”.

Conforme a ex-ministra, o governo americano fez uma lista de exceções e a expectativa é que aumente o número de produtos incluídos. “Espero que essa lista não diminua por questões políticas e porque o governo brasileiro está pensando em eleição. Ele está olhando as pesquisas e achando que falar sobre soberania dá voto e não está olhando para a economia. E eu tenho dito que é um voo de galinha”, criticou ela.

Tereza Cristina disse também que, em Minas Gerais, o café e as carnes ainda não sentiram impactos, mas se o mercado não se abrir, a situação pode se complicar: “Acho que essas situações vão se ajustar e eu espero que isso ocorra o mais rápido possível. Mas, hoje, o Brasil não é uma prioridade para os Estados Unidos, então isso pode demorar um pouco mais e a gente pode vir a sofrer mais com esse tarifaço que inviabiliza as nossas exportações”.

Tecnologia, genética e gestão no campo são caminhos

Dentre os assuntos abordados no primeiro dia do Conacarne, a necessidade de melhorar ainda mais a qualidade da carne brasileira para alcançar mercados mais nobres e agregar valor foi um dos mais relevantes. O caminho para isso é levar tecnologia, genética e gestão para o campo. O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, explicou que, apesar do Brasil ser o maior exportador de carne do mundo, a carne brasileira não consegue atingir os mesmos valores que as dos Estados Unidos e da Austrália.

“É preciso fazer uma revolução na pecuária, para produzirmos um percentual máximo possível de carne nobre, que tem grande valor no mercado externo. Para isso, é necessário fazer o dever de casa e, assim, teremos carnes melhores inclusive no mercado interno. No dia que nós fizermos isso, nós vamos ter os nossos preços melhores cotados do que são hoje e vamos ter uma pecuária mais uniforme no Brasil”, discursou.

O presidente do Sistema Faemg Senar, Antônio Pitangui de Salvo, destacou que a pecuária de corte é um setor estratégico da economia que precisa da união das lideranças e instituições para impulsionar ainda mais o crescimento. Para Salvo, é necessário avançar no uso das tecnologias no campo, o que pode provocar um salto tanto em produtividade quanto na qualidade da carne.

“O setor precisa romper as práticas do passado. A pecuária de precisão não é mais uma tendência, é uma necessidade. É preciso trazer mais tecnologia e gestão para as fazendas, como já foi feito na agricultura e nas empresas rurais. O mercado externo está, cada vez mais, ávido pela nossa carne, que é de qualidade e com padrão. Vamos conquistar mercados gigantescos com esse zebuíno moderno, produtivo, com carne macia, com marmoreio adequado e com inigualável sabor”, afirmou.

Ainda conforme Salvo, a carne brasileira já é a mais competitiva e produzida com o melhor bem-estar animal do mundo: “Precisamos melhorar a genética e a gestão. Quando isso acontecer, rapidamente vamos dobrar nossa produção. Precisamos virar a chave, provocar e gerar conhecimento, assim, ninguém vai segurar a pecuária brasileira”.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, destacou que o agronegócio é o setor que mais cresce no Estado e, por isso, o governo vem trabalhando em frentes que desburocratizam e estimulam as atividades no campo. Ele citou avanços na legislação para ampliar os barramentos e simplificar as leis ambientais. Além disso, houve a instalação de mais delegacias rurais e aportes da Cemig para atender melhor o setor.

“A agropecuária é solução e deve ser reconhecida e não criminalizada, como, infelizmente, ocorre algumas vezes no Brasil. O setor continuará tendo o apoio do governo mineiro. Nós temos um potencial gigantesco para ampliar a produtividade, temos muitas áreas degradadas que podem ser recuperadas, o que significa que a nossa produção vai avançar muito sem derrubar uma árvore, preservando o meio ambiente”, declarou.

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