Agronegócio

Copasa produz fertilizante orgânico com lodo de estações de tratamento

Ainda em testes, produto pode ser uma alternativa para agricultura e pecuária
Copasa produz fertilizante orgânico com lodo de estações de tratamento
Foto: Divulgação Copasa

A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) está produzindo fertilizante orgânico utilizando o lodo gerado pelas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) e resíduos da poda urbana de árvores. Entre as vantagens, além do fertilizante ser uma alternativa sustentável para utilização na produção agrícola e pecuária, o uso do lodo vai contribuir para o aumento da vida útil dos aterros sanitários e também reduzir o custo no transporte de lodo das ETEs até os aterros. 

Conforme os dados da Copasa, a produção do fertilizante – que ainda está em fase de testes – é resultado do projeto Compost Tree “Produção de fertilizante orgânico composto classe B a partir do biossólido gerado nas ETEs”. O objetivo é a produção em escala industrial do fertilizante utilizando o lodo gerado pelas ETEs e resíduos da poda urbana de árvores.

Conforme a estimativa da companhia, a produção do fertilizante a partir do lodo poderá gerar emprego e renda em todo o Estado. Além de contribuir para o aumento da vida útil dos aterros sanitários e reduzir o custo no transporte de lodo das ETEs até os aterros, o fertilizante vai promover a neutralização do carbono existente no lodo dos esgotos. Portanto, vai contribuir para a redução da emissão dos gases de efeito estufa associados. 

Pesquisas

A engenheira sanitarista da Unidade de Serviço de Desenvolvimento Operacional, Qualidade e Energia da Copasa, Frieda Keifer Cardoso, explica que o projeto do fertilizante é parte integrante do Programa de Desenvolvimento e Inovação da Copasa.

“Na primeira etapa, utilizamos 300 toneladas de lodo para a produção do fertilizante. O produto ainda está em fase de teste e para que a gente possa disponibilizar para produtor rural, há uma nova etapa que consiste na avaliação do comportamento do fertilizante no solo e em culturas diferentes. Somente depois desse período de pesquisa – cerca de dois anos de testes -, o produto poderá ser licenciado pelo Mapa e, então, colocado à venda. São etapas ambientais e de licenciamento que faremos para atender às leis”. 

O conselheiro técnico da Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), engenheiro agrônomo e responsável  técnico pela TERA Ambiental Ltda, Fernando Carvalho Oliveira, ressalta que o uso do lodo para a fabricação de fertilizantes, atendendo às normas técnicas, é uma alternativa muito interessante. 

“O tratamento do esgoto gera um excedente de biomassa e, esse excedente, chamamos de lodo de esgoto. Então, esse produto concentra matéria orgânica, macros e micronutrientes. Justificando, assim, o reaproveitamento do lodo como matéria-prima para a produção de fertilizantes orgânicos. O lodo é o resíduo gerado em maior quantidade no processo de tratamento de esgoto. Se fizermos uma análise ampla, esse tipo de trabalho é um exemplo bem característico de economia circular”.

Testes com fertilizante orgânico da Copasa 

Conforme as informações da Copasa, a produção do fertilizante iniciou-se há pouco mais de um ano. O processo de transformação do lodo em fertilizante – compostagem ou compost barn – começa com a colocação de gado sobre um leito de matéria orgânica, com adição de matéria verde e partes lenhosa e fibrosa das podas de árvores.

São formadas leiras com o material retirado do curral que, após um determinado período de compostagem, é misturado com o lodo dos esgotos higienizado (biossólido), transformando-se, então, em fertilizante orgânico composto classe B. 

De acordo com a  engenheira sanitarista da Unidade de Serviço de Desenvolvimento Operacional, Qualidade e Energia da Copasa, Frieda Keifer Cardoso, em breve, a segunda etapa de testes do fertilizante será iniciada.

A nova etapa de testes será realizada na usina de compostagem da Transplantar Tree, em Esmeraldas. A tendência é que os testes sejam feitos utilizando gramíneas ou braquiárias.

“Nós vamos escolher três áreas e três solos diferentes e vamos cultivar três espécies de plantas. Ainda não decidimos quais serão. Assim, estaremos dentro da Instrução Normativa do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) que preconiza o tempo de pesquisa. Precisamos estudar o solo antes, durante e após a aplicação, assim como as plantas. Isso é importante para cumprir as legislações”. 

Crédito: Wellington Pedro/Divulgação/Copasa

Uso do lodo de esgoto para fabricação de fertilizante requer cuidados

Conforme o conselheiro técnico da Abisolo, Fernando Carvalho Oliveira, o uso do lodo para a fabricação de fertilizante é uma alternativa interessante, mas que requer cuidados para garantir a sustentabilidade ambiental.

“O lodo também contém organismos patogênicos e elementos químicos inorgânicos, chamados de metais pesados, que podem ser poluentes se tiverem concentrações elevadas. Por isso, tem que haver um processo de tratamento adicional do lodo para que eventuais elementos de periculosidade sejam atenuados”.

Para garantir que o produto esteja correto e foi fabricado atendendo à legislação, antes de chegar ao mercado, o fertilizante deve ser registrado. 

“A transformação do lodo no fertilizante é uma atividade que está sujeita a um licenciamento ambiental. O produto final estará sujeito às normativas e fiscalização do Mapa. É preciso registro do estabelecimento produtor e do produto. Hoje, nós temos um marco regulatório muito bem segmentado para a temática. Tanto em âmbito das agências ambientais estaduais quanto junto ao Mapa”, explicou Oliveira.

Produção de fertilizante a base de lodo é uma boa alternativa

Para o Brasil, o tratamento do lodo para a produção de fertilizantes e o aproveitamento no campo é uma ótima alternativa. Segundo  o conselheiro técnico da Abisolo, Fernando Carvalho Oliveira, a alternativa tem menor custo e tem ganhos em sustentabilidade.

“Estamos em um País onde a agricultura é pujante, onde temos em torno de 80 milhões de hectares cultivados. A quantidade de lodo que nós temos condições de gerar hoje, se todas as cidades fizessem o tratamento, não seria suficiente nem para 3% da área cultivada. Ou seja, o lodo não vai salvar a lavoura, mas a lavoura vai salvar o saneamento. Então, é uma alternativa sustentável para o aproveitamento e destinação para o lodo”. 

Vantagens agronômicas do fertilizante da Copasa a base de lodo

Do ponto de vista agronômico, Oliveira explica que a partir do tratamento do lodo é possível obter um produto rico em matéria orgânica e que contém macro e micronutrientes que ajudam na nutrição das plantas e no condicionamento físico e biológico dos solos.

“É importante lembrar que a agricultura brasileira é feita, predominante, em solos tropicais, que são altamente responsivos à adição de matéria orgânica. Quando você fornece matéria orgânica para solo em produção, você tem ganhos em produtividade. O lodo de esgoto é uma fonte a mais que o Brasil tem buscado para possibilitar a produção de fertilizantes orgânicos para a agricultura. É também uma alternativa para reduzir a dependência das importações do produto, que hoje responde a cerca de 80% do volume consumido”, finaliza.

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