Agronegócio

Coruripe capta R$ 193 mi para renovar canavial

Coruripe capta R$ 193 mi para renovar canavial
Coruripe foi uma das primeiras usinas no Brasil a obter a certificação do Renovabio | Crédito: Marcelo Albuquerque de Lima

A Usina Coruripe, com sede em Coruripe (AL) e quatro unidades produtivas localizadas em Minas Gerais, captou R$ 193 milhões em um financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O desembolso será pela linha BNDES Renovabio, que compõe a política do governo de incentivo aos biocombustíveis e apresenta vantagens para quem possui a certificação. O valor captado vai permitir que a Coruripe aplique recursos na renovação e plantio de cana-de-açúcar e alongue o prazo de dívidas.

A linha Renovabio do BNDES foi criada com o objetivo de incentivar os produtores de biocombustíveis a reduzir a pegada de carbono e melhorar a nota de eficiência ambiental e energética.

O diretor-financeiro da Usina Coruripe, Thierry Soret, explica que o recurso faz parte da estratégia da empresa em promover a reestruturação do endividamento. Dentro deste plano da companhia, a Coruripe já realizou a emissão de bonds (US$ 300 milhões), uma emissão de debêntures incentivadas de prazo mais longo (R$ 100 milhões) e agora a captação de R$ 193 milhões através da linha do Renovabio do BNDES.

“Esta linha é de capital de giro, alongada e baseada na certificação Renovabio. Ela trouxe uma melhor estrutura para a dívida da companhia, e aliada às duas outras linhas que tomamos conseguimos alongar sensivelmente o nosso perfil de endividamento. Ela ainda  pode ser aplicada no plantio da cana-de-açúcar; temos renovação todo ano. Vamos trocar algumas dívidas de curto prazo, alongando esse perfil da dívida”, explicou.

Com o alongamento das dívidas, a Coruripe quer ter uma estrutura mais adequada de liquidez, melhorando-a no curto prazo. Além disso, é possível ter um melhor perfil de amortização da dívida, sem a pressão de curto prazo. Também é esperada redução de custo, por ser uma linha diferenciada. 

“A linha, por estar atrelada ao Renovabio, tem um redutor de custo que é baseado na melhoria do percentual da certificação do programa. Isso é muito interessante por incentivar a companhia  a melhorar  a governança na certificação do Renovabio e, assim, ter uma redução do custo do empréstimo”, disse.

CBios

A Coruripe foi uma das primeiras usinas no Brasil a obter a certificação do Renovabio e, há dois anos, gera e comercializa créditos de descarbonização (CBios).

“Comercializamos os CBios das últimas duas safras, o número girou de 450 mil a 500 mil CBios. Na safra que se inicia agora, vamos renovar a certificação e, com certeza, vamos ter uma evolução nela e contar com a comercialização dos CBios novamente”.

De acordo com Soret, no último ano, devido à redução da safra em função do clima, o número de CBios comercializados foi menor. Para a safra atual, a expectativa é de voltar para o patamar de cerca de 500 mil CBios. 

“A certificação está muito atrelada ao volume de moagem e produção de etanol. Como na safra passada tivemos uma seca forte e queda na moagem, a geração de CBios foi menor. Mas, este ano, pretendemos ampliar novamente e ficar em torno de 500 mil CBios. É importante ressaltar que parte da nossa cana vem de outros fornecedores e a receita que obtemos com a venda dos CBios também é repassada a eles”, destacou. 

Etanol é estratégico

Para Soret, o etanol terá um papel importante na matriz de mobilidade, principalmente, no Brasil. O combustível tem pegada verde por reduzir a emissão de carbono. Além disso, o Renovabio veio trazer um selo verde, de qualidade para o etanol. 

“Olhando as montadoras, já temos modelos de carros híbridos a etanol, que acho que é o carro mais sustentável. Já temos montadoras divulgando investimentos  massivos na parte do etanol híbrido e também de segunda geração. De fato, o etanol é o caminho para uma matriz de mobilidade mais limpa e terá o protagonismo que merece, não só no Brasil, mas no mundo”. 

A Coruripe, segundo Soret, tem uma pegada ESG muito forte. A empresa conta com  19 mil hectares de reservas preservadas em Alagoas e Minas Gerais, tem ações sociais, de segurança e programa de reúso de água. 

“A gente quer, cada vez mais, se consolidar com a matriz ESG, e o Renovabio é uma das vias importantes para isso. Nosso objetivo, cada vez mais, é acessar linhas que estão atreladas aos selos verdes”, completou.

Plantio de cana transgênica deve dobrar no País

São Paulo – O Centro de Tecnologia Canavieira estima que a área plantada com cana-de-açúcar transgênica resistente à broca praticamente dobrará na nova safra do Brasil, que começou neste mês no Centro-Sul, à medida que o setor está fortalecido para investir em mais produtividade e vê a biotecnologia mais disponível.

A empresa líder em ciência canavieira, que teve entre 2017 e 2018 a primeira cana geneticamente modificada do mundo aprovada para uso comercial por órgãos reguladores no Brasil e exterior, avalia que as variedades Bt estarão em 70 mil hectares da safra 2022/23, ante 37 mil na temporada recém-encerrada no Centro-Sul.

Considerando a área total de cana do Brasil, de 8,2 milhões de hectares na safra passada (2021/22), a cana geneticamente modificada ainda ocupará uma pequena área relativa, porque a multiplicação das variedades adaptadas aos diferentes tipos de solo não é tão rápida como no caso de sementes de soja e milho transgênicas.

Mas, já com cinco anos desde as primeiras aprovações do uso da cana transgênica resistente ao ataque de inseto, e com quatro variedades comerciais que confirmaram resultados no campo, a expectativa é de avanço mais rápido de agora em diante, segundo avaliação de executivo do CTC, que tem entre os acionistas grupos do setor como Raízen, Copersucar, São Martinho, além do BNDESPar.

“O produtor primeiro quer ver para crer, e precisa ter a disponibilidade de mudas para poder crescer. Agora, tendo mudas e resultados, as duas coisas permitem que ele possa ir alavancando”, afirmou o diretor comercial do CTC, Luiz Paes, em entrevista à Reuters.

Ainda hoje, o CTC é a única empresa no mundo a dispor da tecnologia de cana geneticamente modificada para comercialização em escala comercial.

Paes explicou que a primeira variedade lançada exigia o plantio em uma terra muito boa e que novas canas transgênicas colocadas no mercado já podem ser plantadas em áreas com solos mais “restritivos” ou ruins, o que estimula a adoção.

A cana resistente à broca é considerada um importante aliado do produtor, uma vez que o CTC estima que o inseto gera prejuízos de R$ 5 bilhões por ano à indústria brasileira, considerando perdas de produtividade agrícola e industrial, qualidade do açúcar e custos com inseticidas.

“Nessa área (com a cana transgênica), a perda pela broca vai estar limitada”, ressaltou Paes.

O CTC pesquisa ainda cana transgênica resistente a herbicidas e acredita que o produto poderá estar disponível em breve. “Possivelmente, a cana RR em mais duas safras esteja pronta para lançar”, afirmou Paes, ressaltando que o produto precisaria passar por todo o rito regulatório, como a aprovação do órgão de biossegurança CTNBio.

O executivo comentou que a adoção da tecnologia por usinas brasileiras vai do Paraná até o Nordeste e que o CTC já conta com cerca de 170 clientes, que respondem pela maior parte da moagem do País.

Segundo ele, considerando que o setor de forma geral vive uma situação financeira melhor do que no passado, em meio a bons preços do açúcar e etanol, a expectativa é de mais investimentos na renovação dos canaviais, o que beneficia o CTC, que cobra royalties pela tecnologia. (Reuters)

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