Cruzamentos industriais estimulam demanda da raça montana em MG
Com animais altamente adaptados às condições brasileiras, com alta produtividade e qualidade da carne, o uso da raça montana tem crescido em Minas Gerais e no Brasil. Por serem animais compostos e com origem brasileira, tanto os touros quanto as vacas são importantes para cruzamentos industriais, já que geram animais precoces, férteis e resistentes. Com preços acessíveis frente aos resultados que entregam, os touros da raça foram negociados, em média, a R$ 15 mil em 2022.
De acordo com a superintendente técnica da Associação Internacional de Criadores de Montana (AIC-MTN), Gabriela Giacomini, por ser uma raça composta e não fechada, é possível acrescentar novas contribuições positivas de outras raças, tornando os bovinos cada vez mais adaptados, produtivos e precoces.
“O montana é resultado do cruzamento de várias raças. Por ser aberto, quando aparece determinada raça com características interessantes, ela pode ser acrescentada no montana. Mantemos a composição aberta para trazer contribuições positivas”.
No campo, o desempenho é alto, com bovinos adaptados às variações climáticas, com precocidade, pesados e com alta fertilidade.
“As vacas são férteis e pegam prenhes todo ano. Além disso, os bezerros desmamam cedo e pesados, chegando aos frigoríficos ainda novos, o que gera uma carne de melhor qualidade. Existe uma série de benefícios, inclusive, o touro pode ser usado tanto na inseminação como na monta. É um diferencial”.
A demanda pelos animais da raça é crescente e, todo ano, a produção disponibilizada de touros é totalmente vendida.
“Tudo é vendido. Os animais são muito bem aceitos. O pecuarista que compra uma vez volta a comprar mais, porque os montanas realmente entregam resultados positivos. A média de preços do touro montana ficou em torno de R$ 15 mil”, disse Gabriela.
Um dos criadores da raça, em Minas Gerais, é o médico veterinário e proprietário do Montana Campo Belo, Carlos Salgado, que desenvolve a atividade em cerca de 520 hectares em Andrelândia, no Sul do Estado. No último ano, o rebanho da unidade foi de 50 matrizes e 50 receptoras prenhes. Já para 2023, a meta é ter cerca de 120 bovinos de alto índice genético. Por ano, são colocados no mercado cerca de 30 touros, que são vendidos, em média, de R$ 14 mil a 18 mil.
Ele explica que a raça montana foi criada no Brasil há 30 anos com objetivo de produzir o impacto do cruzamento industrial – que sempre é via inseminação – com o uso do touro em monta natural.
“Isso evita o uso da mão de obra com a inseminação e os protocolos de hormônio. Em relação ao resultado econômico, são gerados bezerros com a mesma qualidade dos bezerros europeus nelore em termos de peso. Porém, esses bezerros têm a vantagem de serem mais adaptados. Isso porque o montana é o mix de várias raças, tendo na composição mais de 12, que são avaliados pelo programa de melhoramento, há 30 anos, pela USP. Quem diz se o resultado é bom ou não é o computador e não só o pedigree. É o resultado do desempenho dos animais no campo”.
Ainda segundo Salgado, no caso do Campo Belo, trabalho iniciado há quatro anos, foram buscadas vacas top 1% na raça com os melhores touros. “Com isso, minha produção está saindo top 0,5% na raça. Isso significa que produzimos touros muito diferenciados para clientes de vacas nelore ou de gado leiteiro que usam touro nelore, gerando bezerros pesados e muito dóceis”.
A produtividade também é destaques. Segundo Salgado, usando o montana na desmama com vacas nelore e pasto braquiária – o mais comum – é possível conseguir bezerros de 225 quilos que, ao completarem 18 meses, vão estar com 350 quilos. No nelore puro, teríamos 180 quilos na desmama e 280 quilos aos 18 meses.
“O resultado é muito diferente e com o mesmo custo. Com o montana, não é preciso investir em botijão de sêmen. O preço do touro é o mesmo de um bom touro nelore. Ganham-se qualidade de carne e rapidez”.
Em relação ao mercado, Salgado explica que toda a produção disponibilizada é vendida e há um grande retorno de pecuaristas que já compraram touros da raça. A busca, por parte dos frigoríficos, por carnes de melhor qualidade tende a estimular ainda mais o uso da raça.
“O índice de recompra é muito alto e, isso, mostra que tudo que foi prometido pelo melhoramento genético foi atendido. O montana é um gado rústico, que suporta pastagens comuns, mantendo desempenho acima da média.
Para os próximos anos, com as exigências dos frigoríficos por uma carne de qualidade e a busca pelos pecuaristas por uma melhor taxa de retorno – o que demanda animais com bom acabamento de carcaça – o montana tem raças britânicas na composição que permitem isso. Além disso, há um alto ganho de peso que melhora a rentabilidade. Então, com a demanda cada vez maior por animais jovens, o montana é a ferramenta fundamental para isso”, explicou Salgado.
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