Cultivar de café recém-registrada pelo Governo de Minas se destaca nas lavouras do Vale do Jequitinhonha
Como se adaptar às mudanças climáticas a fim de manter a produção e a qualidade do café, um dos produtos mais fortes de Minas e do Brasil? Uma resposta está na ciência. Originada do cruzamento entre Catuaí Amarelo IAC 30 e Híbrido de Timor UFV 445-46, a cultivar MGS Epamig Amarelão se caracteriza pela produtividade, tolerância à seca e resistência à ferrugem. O registro se deu em novembro deste ano.
Especialmente na região do Vale do Jequitinhonha, a cultivar tem chamado atenção pela precocidade e pela qualidade final da bebida. O café produzido pela Fazenda Sequoia, em Angelândia, inclusive já foi premiado na região da Chapada de Minas e alcançou elevada pontuação em concursos nacionais e internacionais.
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“Os concursos são o nosso termômetro, uma chancela de qualidade. A cultivar surpreende pela qualidade da bebida, que une o frutado, o floral e a acidez. Já conquistamos quatro prêmios com o café Amarelão”, afirma Rodrigo Crimaudo Mendes, gerente da propriedade, que tem como foco a produção sustentável de cafés especiais.
Melhoramento participativo
Resultado de mais de quatro décadas de pesquisas do Programa de Melhoramento do Cafeeiro conduzido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig-MG), em parceria com a Embrapa Café e a Universidade Federal de Viçosa (UFV), a cultivar MGS Epamig Amarelão se destacou pela produtividade em um período de elevado déficit hídrico no Vale do Jequitinhonha.
O processo que começou nos campos da Epamig e da UFV, evoluiu para testes que avaliaram as plantas quanto ao desempenho produtivo, resistência à ferrugem, ao nematoide da espécie Meloidogyne exigua, e para as características dos grãos nas unidades da empresa em São Sebastião do Paraíso, Machado e Patrocínio.
“Após algumas gerações, foi feito um experimento na propriedade do Ismair Alves Campos, em Capelinha. Por volta de 2014, ocorreu uma seca severa na região e as progênies da cultivar Amarelão se mostraram menos afetadas pela restrição hídrica e elevadas temperaturas, mantendo-se vigorosas e produtivas”, detalha o pesquisador da Epamig Vinícius Teixeira Andrade.
Esse fator fez com que outros produtores se interessassem pelo cultivo. “Cabe mencionar que eles fizeram um belo trabalho na seleção dessas plantas, o que é um exemplo de melhoramento participativo, no qual os cafeicultores atuam decisivamente na escolha das progênies que serão plantadas”, avalia.
“As cultivares são uma tecnologia que demoram vários anos para serem desenvolvidas. O melhoramento consiste no acompanhamento e na reprodução das diferentes gerações da linhagem em diferentes condições edafoclimáticas”, prossegue o pesquisador.

“Eu visitei a lavoura no primeiro ano, que foi um ano muito seco. Uma lavoura de terra ácida, que deu uma safra maravilhosa. A informação foi se espalhando por diferentes mídias. Eu, inclusive, plantei e fiquei muito satisfeito. É uma cultivar que vem surpreendendo pela produtividade, qualidade e precocidade”, afirma o cafeicultor Sérgio Meirelles Filho, do município de Aricanduva.
Na Fazenda Sequoia, o plantio da MGS Epamig Amarelão começou em 2021. “O produtor tem necessidade, ansiedade e ao saber de algo que está dando certo, quer testar também”, conta Rodrigo Crimaudo, acrescentando que, atualmente a propriedade tem uma área plantada de, aproximadamente, 17 hectares da cultivar e planos de expandir para 50 hectares.
Novas avaliações
“Apesar de termos a informação de que há mais de 5 milhões de plantas da cultivar no Vale do Jequitinhonha, não temos dados concretos em outras regiões”, informa Vinícius Andrade, ressaltando a importância da avaliação em diferentes condições de solo, clima, altitude, latitude, espaçamento e em sistemas produtivos de sequeiro e irrigados.
“Em ambientes onde já tivemos quatro colheitas a produtividade foi superior a 50 sacas. Agora, as avaliações do desempenho em campo serão expandidas para dar mais robustez e precisão às nossas recomendações”, finaliza o pesquisador.
Conteúdo distribuído por Agência Minas
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