De Minas para apreciadores do mundo
As cachaças produzidas no Norte de Minas se diferenciam pela qualidade. O clima da região, aliado ao manejo e cuidados na fabricação são a receita para que as cachaças conquistem prêmios nacionais e internacionais.
Uma das marcas mais tradicionais – a Seleta -, produzida em Salinas, é exemplo disso. Fundada em 1980 em Salinas, no Norte de Minas Gerais, a marca é reconhecida como uma das cachaças de alambique mais tradicionais do País.
O diretor executivo da Seleta, Gilberto Luiz, explica que a cachaçaria, hoje com 43 anos, nasceu com um papel preponderante de levantar e defender a bandeira da cachaça de qualidade.
“Havia muito preconceito em relação a quem bebia a cachaça. O nosso fundador, Antônio Rodrigues, trabalhou a questão da cachaça poder ser um produto premium e de qualidade, um produto que pode ser consumido para comemorações. Esse trabalho vem sendo feito desde a nossa fundação”.
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Ainda segundo Luiz, para estar entre as líderes no segmento de cachaça artesanal no Brasil e no mundo, a fabricação da Seleta atende a uma série de requisitos e tradição, o que confere às bebidas da marca uma qualidade superior.
“Para ser artesanal é preciso atender a uma série de procedimentos ao longo do processo. Toda a nossa produção é feita em alambique de cobre. O processo é mais lento que as cachaças industriais por ter uma fermentação natural, caipira, feita com milho”.
A Seleta domina todo o processo produtivo. A cana-de-açúcar é proveniente de duas fazendas da marca em Salinas (Fazenda Engenho dos Rodrigues e Fazenda Terra Boa), onde são cultivadas variedades diferentes para que o mix de bebidas seja composto. A qualidade é um dos principais pontos trabalhados.
“O clima e o solo de Salinas são favoráveis para a produção da cana. Conseguimos cana de qualidade excelente. Procuramos sempre evoluir para ter qualidade. Tudo influencia desde a introdução de novas espécies de cana, o tempo de crescimento, a forma de colheita, a altura do corte e o tempo que se leva para produzir a bebida”.
Os cuidados vão além do processo de fabricação. “Depois que terminamos de produzir, vem o envelhecimento. É preciso cuidado com as dornas de envelhecimento, tudo interfere para termos uma qualidade ímpar. Nossa cachaça fica dois anos armazenada”.
As cachaças são armazenadas em tonéis de madeira de fabricação própria. Entre as madeiras dos tonéis e barris estão a umburana, bálsamo, jequitibá, ipê-amarelo e carvalho francês.
Antes de chegar ao mercado consumidor, cada lote fabricado na Seleta passa por análises laboratoriais, onde serão avaliados e validados dentro dos padrões legislativos, físicos e químicos, e sensoriais.

Três a quatro medalhas por ano
Todos os cuidados são reconhecidos nos mais diversos concursos que a marca participa. Este ano, a Seleta conquistou a medalha de ouro na 28ª edição do International Spirits Challenge, um dos mais importantes e influentes concursos de bebidas do mundo.
“Por ano, conquistamos entre três e quatro medalhas em concursos nacionais e internacionais”, disse Luiz.
A produção na Seleta gira em torno de 2,5 milhões de litros ao ano. São sete sabores da Seleta e mais um deve ser lançado em junho. A marca também trabalha com garrafas de times de futebol e a cachaça premium, a Antônio Rodrigues, que é envelhecida por sete anos, em carvalho.
Apesar de uma movimentação ainda pequena, correspondendo a cerca de 4% do faturamento, a Seleta é exportada para vários países. São compradores da bebida os Estados Unidos, Japão, Portugal, Inglaterra, Austrália e Itália.
“A cachaça tem um papel muito relevante na economia da região Norte, gerando empregos, renda, desenvolvimento. Mas a bebida também é um produto cultural e turístico. Em Salinas, temos o Festival Mundial da Cachaça, um evento que movimenta toda a cidade e atrai pessoas de várias regiões”, comemora.
Premissa: a caminho de expandir o mix
O tradicional processo de produção da cachaça de alambique no Norte de Minas ainda atrai novos produtores. Foi assim com o produtor da Cachaça Premissa, com fábrica em Salinas e também integrante da Comissão Técnica da Cachaça de Alambique do Sistema Faemg/Senar, Edilson Jardim Viana.
O produtor da cachaça Premissa explica que o interesse em produzir cachaças surgiu durante os estudos no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, quando teve os primeiros contatos com o plantio da cana-de-açúcar e produção de cachaça.
“Foi um período que me marcou e eu gostei muito da área. Me formei no curso técnico de agroindústria e continuei minha formação na área, fiz engenharia de alimentos e estágio em empresas de bebidas. Passei no concurso para professor no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais e, voltando para Salinas, resolvi investir na minha produção de cachaça”.
Viana começou a montar a sua própria cachaçaria em 2009. Com os conhecimentos adquiridos durante os anos de formação, a produção foi se desenvolvendo e, em 2016, Viana conseguiu concretizar o sonho com a regulamentação. A Cachaça Premissa, que já vinha sendo envelhecida e preparada para mercado, passou a ser comercializada
“Depois de vencer muitos desafios, conseguimos colocar a Premissa no mercado. Enfrentamos desafios até hoje, como a concorrência desleal com a produção ilegal, mas estamos em uma crescente. A cada ano, conseguimos ampliar nossa demanda. Hoje, produzimos cerca de 70 mil litros de cachaça ao ano”.

Produzida no Norte de Minas, a Premissa é vendida pela internet, nas redes sociais para distribuidoras, representantes e também é exportada. “Já conseguimos exportar para os Estados Unidos e Portugal”, disse.
A dedicação e a formação de Viana são importantes para a qualidade diferenciada da cachaça Premissa, que vem ganhando diversos prêmios.
“Depois de todo o trabalho desenvolvido e o produto disponibilizado para o mercado, de 2016 para cá, todos os anos, ganhamos prêmios nacional ou internacional. Começamos devagar e com pouco dinheiro, mas com dedicação foi possível realizar o sonho”.
Hoje, a Premissa é vendida envelhecida em bálsamo – madeira clássica de salinas.
“Escolhi essa linha de madeira representando a tradição das melhores cachaças de Salinas. Temos a versão de três anos (Premissa Clássica ) e a seis anos (Premissa Tradicional), que é a premiadíssima”.
A tendência é ampliar o mix da Premissa. “Existe o pedido e a necessidade de ampliar as madeiras, incluindo o jequitibá, a umburana e o carvalho. Pretendemos aumentar a família. Já temos em barris e tonéis, mas ainda não é produto de mercado”, disse Viana.
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