Alysson Paolinelli: visionário do agro no País
Reconhecido como o pai da agricultura moderna brasileira, o mineiro Alysson Paolinelli deixa um grande legado. O ex-ministro da agricultura teve papel fundamental no desenvolvimento do agronegócio brasileiro, transformando as terras do Cerrado, consideradas inférteis, em novas fronteiras produtivas.
Presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e do Fórum do Futuro, Alysson Paolinelli faleceu ontem, aos 86 anos. Ele estava internado no Hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte.
Defensor das pesquisas e do uso da tecnologia na produção sustentável de alimentos, Paolinelli foi responsável por revolucionar e modernizar a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na década de 70.
Com investimentos em pesquisas e tecnologias, o trabalho de Paolinelli fez com que o Brasil deixasse de ser um importador de alimentos para se tornar uma das maiores potências mundiais em produção e exportação.
Décadas após a Revolução Verde no Brasil, Paolinelli defendia um novo salto na produção brasileira: o salto da inteligência.
Nos últimos anos, diante da ameaça de falta de fertilizantes, insumo que o Brasil é grande importador, o ex-ministro ressaltava a importância de se investir em alternativas para reduzir a dependência dos produtos importados e tornar a produção ainda mais sustentável.
Grande defensor da pesquisa, da inovação e da sustentabilidade, Paolinelli continuava pensando no futuro e acreditava que o uso racional dos recursos naturais brasileiros – como o basalto, o pó de rocha – e a biotecnologia eram um dos caminhos para atender à demanda da agricultura nacional e provocar um novo salto da produção.
No ano passado, em uma entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO sobre o potencial do uso do pó de rocha na produção, Alysson Paolinelli destacava que o Brasil com o uso racional dos recursos naturais, pesquisa e inteligência é capaz de avançar ainda mais.
“Precisamos ser inteligentes e usar bem este recurso. O Brasil é rico em recursos naturais, é um privilegiado por Deus. Que se use a inteligência, os estudos, a ciência e a tecnologia para explorar racionalmente os recursos naturais. Temos um segundo grande salto, o da inteligência. É preciso trabalho em conjunto, pesquisa, defesa, fiscalização para que a gente não erre. Quero ver o Brasil realizando a agricultura mais sustentável e tranquila que o homem desejou. Que o consumidor do futuro sinta-se como Adão e Eva, comendo o alimento mais natural que a terra já deu”, disse.
Em reconhecimento à importância do trabalho desenvolvido por Alysson Paolinelli, líder no processo de implantação da agricultura tropical sustentável no País, o mineiro de Bambuí foi indicado duas vezes consecutivas, em 2021 e 2022, ao Prêmio Nobel da Paz.
A presidente e diretora editorial do DIÁRIO DO COMÉRCIO, Adriana Muls, lamentou o falecimento do ex-ministro da Agricultura. Para ela, Paolinelli foi fundamental no estímulo às pesquisas e ao uso da tecnologia na produção de alimentos, o que impulsionou o crescimento do setor agropecuário mineiro e brasileiro. O trabalho do ex-ministro também foi fundamental para garantir a segurança alimentar de milhões de pessoas.
Mesmo com o relevante trabalho desenvolvido ao longo de décadas, Paolinelli continuava pensando no futuro, um exemplo de líder que deve servir de inspiração para as lideranças atuais.
“O mais relevante na história do ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli, é o exemplo de liderança que ele foi. A importância para a agricultura sustentável do Brasil todo mundo conhece. Mas ele foi um líder e precisamos nos inspirar nele. Mesmo depois de ter contribuído tanto para a agricultura e para a segurança alimentar, ele continuava pensando no futuro. Tinha uma visão de futuro e de articulação que precisa servir de inspiração para as lideranças atuais. Ele é um exemplo que a gente precisa. Precisamos mirar nele para absorvermos um pouco dessa capacidade de olhar para o futuro, de articular pensando em um projeto maior. É um exemplo de liderança que falta nos dias atuais. Podemos tirar dele muito aprendizado para a construção de um projeto de nação, de estado, de País. Não bastasse toda a contribuição que ele deu, ainda presidia o Instituto Fórum do Futuro”.
De acordo com o presidente do Conselho Gestor do DIÁRIO DO COMÉRCIO, Luiz Carlos Motta Costa, Alysson Paolinelli é um exemplo de dedicação e compromisso:
“São conhecidas e são decantadas as realizações dele no campo do agronegócio. As iniciativas, realmente, viraram a agricultura brasileira com a incorporação do Cerrado às áreas produtivas do País, sob a criação da Embrapa. A partir daí, a agricultura brasileira passou a ter competitividade, a ganhar escala. Um fator muito significativo é que o aumento da produção foi absolutamente desproporcional ao aumento da área plantada, ou seja, foi através do ganho de eficiência, do ganho de tecnologia. Isso acabou virando algo de padrão mundial, mudou a agricultura no mundo, pelo menos no mundo tropical”.
Costa ressalta as qualidades de Alysson Paolinelli como cidadão. “Nessa hora, o que é importante lembrar é o cidadão e o servidor público. Não há o que comparar de compromisso, de dedicação, de entrega absolutamente generosa. Esse lado é o exemplo mais forte, o exemplo que deve ficar e deve ser observado. O sucesso dele vem dessa dedicação, desse compromisso”.

Embrapa: potência na pesquisa
A presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Silvia Massruhá, destacou que Alysson Paolinelli foi um dos grandes revolucionários e visionários da agricultura tropical no País e no mundo todo. “Doutor Alysson vislumbrou que precisávamos trazer as tecnologias do clima temperado e adaptar para o nosso tipo de clima e de solo. Ele foi um dos grandes responsáveis pela estruturação da Embrapa, por toda essa revolução que aconteceu na agropecuária brasileira”, lamentou.
O trabalho desenvolvido pelo ex-ministro, segundo Silvia, teve um papel muito importante na ciência e tecnologia para a agropecuária brasileira. “No início dos anos 70, quando a Embrapa foi criada, ele como ministro da Agricultura e Pecuária proporcionou que muitos pesquisadores da Embrapa, centenas de pesquisadores, de agrônomos e de veterinários fossem capacitados. Eles puderam fazer seus cursos de pós-graduação, de mestrado e doutorado através de bolsas de estudo do Brasil. Foram estudar no exterior, na América do Norte, na Europa e, isso, foi uma grande revolução para a Embrapa”.
O investimento na capacitação dos pesquisadores transformou a história da empresa, da agricultura nacional e do País: “Esses estudantes são as lideranças que assumiram, criaram e estruturaram a nossa Embrapa. Nós, da Embrapa, aproximadamente 8.000 empregados hoje, somos muito gratos por tudo que o Dr. Alysson Paolinelli fez pela ciência e pela Embrapa durante esses 50 anos. É um dia muito triste para todos nós. É uma perda irreparável, mas ele deixou um legado muito grande. É uma referência e ele sempre será o nosso líder na agropecuária brasileira”.
“A contribuição de Paolinelli para a agropecuária e para o Brasil eternizam sua existência e fazem renascer a cada dia seu espírito inovador”.
Carlos Fávaro
Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
“Engenheiro agrônomo, Paolinelli foi uma das pessoas mais importantes para o agro brasileiro, como promotor do modelo de agricultura tropical sustentável que transformou o país em uma potência agroalimentar mundial. O Brasil perde um grande brasileiro, indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2021 e 2022. Aos familiares, amigos e colegas da Associação Brasileira Produtores de Milho (Abramilho), os nossos sinceros sentimentos”.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho
Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag)
“Hoje é um dia de intensa tristeza para o agro, para o País, e também para amigos e familiares deste homem que deixou seu nome na história da produção de alimentos do Brasil e do mundo. Sua dedicação ao campo e a crença no Brasil como um grande produtor de alimentos e tecnologias que incentivem a produção é uma das suas maiores marcas.”
Paulo Sousa
Presidente da Cargill/Brasil
De professor a candidato ao Nobel da Paz
Alysson Paolinelli nasceu no dia 10 de julho de 1936, em Bambuí, na região Centro-Oeste de Minas Gerais. Aos 15 anos, deixou a cidade natal para cursar o ensino médio em Lavras, no Sul de Minas. Formou-se engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura de Lavras (Esal), em 1959, e se tornou professor de Hidráulica, Irrigação e Drenagem na instituição, onde mais tarde ocuparia o cargo de Diretor, até 1970.
Paolinelli foi secretário da Agricultura de Minas Gerais em três oportunidades (1971-1974/1991-1994/1995-1998). Na primeira gestão, idealizou e coordenou a implementação de uma nova matriz produtiva baseada em um modelo sustentável, unindo novas tecnologias a incentivos de políticas de crédito para estimular a modernização da agricultura mineira.
Com essa política, Paolinelli transformou Minas Gerais no maior produtor de café do País, ao alavancar o desenvolvimento de plantações no Cerrado mineiro, por meio de novas técnicas de plantio desenvolvidas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em parceria com as Universidades Federais de Lavras e Viçosa.

Revolução Verde e Brasília
Entre 1974 e 1979, como ministro da Agricultura, realizou a chamada Revolução Verde no Brasil, ao levar a experiência em Minas para outras regiões do País, transformando a até então improdutiva área do bioma do Cerrado em um dos principais polos de produção de alimentos do País. Com a política, conquistou a premiação do World Food Prize (2006), a maior condecoração da agricultura no mundo.
Paolinelli também ficou conhecido por defender a rotação de culturas, sistema que fortalece a manutenção nutritiva dos solos a longo prazo.
Na vida legislativa, foi eleito para o mandato de deputado federal constituinte, em Brasília, entre 1987 e 1991.
Em 2012, Paolinelli fundou o Instituto Fórum do Futuro, voltado ao debate sobre o desenvolvimento sustentável, com foco em inovação, tecnologia e pesquisa. No Fórum, estava à frente do Projeto Biomas Tropicais.
Alysson Paolinelli também foi presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Desde 2022, era presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho).
O ex-ministro foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz por dois anos consecutivos, em 2021 e 2022, como reconhecimento de uma carreira voltada para produções sustentáveis e modernas, tendo participação singular no desenvolvimento de políticas para alavancar o desenvolvimento da agricultura do país e melhorar a qualidade nutricional da vida de milhões de brasileiros.
Velório
O velório do professor, engenheiro agrônomo e ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli, está sendo no Palácio da Liberdade, até às 9h30 de hoje. O enterro, reservado para familiares, será às 11h, no Cemitério Parque da Colina, na Capital. O Estado decretou três dias de luto pela morte de Paolinelli.
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