Agronegócio

É hora de investir no agronegócio?

Especialistas do mercado financeiro falam sobre oportunidades e riscos para quem deseja apostar no setor
É hora de investir no agronegócio?
Os riscos e as oportunidades dos papéis do agronegócio | Crédito: Inae Riveras/ Reuters

O setor do agronegócio é um dos principais mercados no desenvolvimento econômico nacional. Juntas, as atividades agrícolas e pecuárias representam 1/4 do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Neste sábado, 25, é celebrado o Dia do Agronegócio, e o DIÁRIO DO COMÉRCIO destaca o quão resiliente esse setor se mostrou diante de crises e do cenário pandêmico ocorrido nos últimos anos.

O agro está associado aos diversos segmentos produtivos do país, como alimentação e biocombustíveis, por exemplo, trazendo matéria-prima e tecnologia necessárias para o funcionamento de cada um dos setores.

Pensar em investir no agronegócio, é ao mesmo tempo entender que este setor é um mecanismo fundamental de empregabilidade e também de exportações. Somente para as negociações com o comércio internacional, o agronegócio abocanha sozinho aproximadamente 40% de todo o montante exportado pelos portos brasileiros.

Pegar carona nesse crescimento pode ser uma ótima alternativa para quem quer apostar em ações na Bolsa. O analista Luis Novaes, da Terra Investimentos, um player do mercado financeiro que existe há mais de 20 anos, explica que há atrativas possibilidades para diversificar os investimentos. “Na bolsa, temos diversas empresas que, de alguma forma, estão inseridas no agronegócio, como as indústrias de sementes, dentre elas a 3tentos – com a ação TTEN3 -, as indústrias de fertilizantes, entre elas, a Heringer – com a ação FHER3 – e as indústrias de produção de grãos, como é o caso da SLC Agrícola – com a ação SLCE3”.

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“No caso das indústrias de proteínas, o Grupo JBS possui a sua ação JBSS3. No segmento de indústrias de alimentos, temos a M. Dias Branco com a ação MDIA3, e nas de bebidas há a companhia Ambev com a ação ABEV3”, elenca Novaes destacando ainda empresas como a São Martinho, especializada na industrialização proveniente da cana-de-açúcar, com a ação SMTO3, assim como no segmento de etanol, constando a Raízen, com a sua ação RAIZ4.

Indústrias de proteína estão entre as mais buscadas para aplicações no agronegócio

Luis Novaes explica que dentre as preferências do mercado, estão as empresas de proteínas. “Praticamente a JBS, Marfrig e BRF e as empresas de etanol, como a Raízen e a Ultrapar são as que mais se destacam”, revela. Segundo ele, isso se deve ao desconto que essas empresas tiveram ao longo dos últimos meses, abrindo possibilidades de ganhos significativos a médio e longo prazos.

“Apesar da perspectiva desafiadora para a operação de carnes no exterior, nos próximos anos devemos ter um cenário mais favorável que permitiria a valorização dos frigoríficos”, sugere o analista da Terra Investimentos.

O CEO e fundador da Belo Investment Research, Paulino Oliveira lembra que os juros estão aumentando no Brasil e no mundo. Nos Estados Unidos o aumento de juros tem sido uma alternativa para o controle da inflação. No Brasil, os juros têm aumentado, mas não conseguiu voltar os preços para próximo da meta.

“Não conseguimos voltar no ritmo que gostaríamos. E, se avaliarmos que quando temos aumento de juros, aumenta a taxa de descontos do valuation das empresas, vamos ter uma queda na expectativa de queda de bolsa, como um resultado quase que imediato para a busca de ativos de renda fixa mais atraentes. A compensação deles é diretamente maior”, observa.

Oliveira avalia que ações mais pontuais como a Guerra na Ucrânia, a visita surpresa do presidente Biden à Ucrânia, assim como a política interna de armamento nuclear, provocam aumento de tensões na bolsa e em todo o mercado, o que pode ser arriscado. “Rússia e Ucrânia são dois grandes produtores mundiais de grãos. Em decorrência desses acontecimentos, é de se esperar futuras oportunidades no Brasil com relação ao setor de trigo e de outros cereais que normalmente viriam desses países”.

Vaca louca pode apresentar problema no curto prazo

Ele sugere que no curto prazo, investir em ações pode apresentar incertezas. “Tivemos agora o caso da ‘Vaca louca’ no Brasil, que é uma doença que atinge o sistema nervoso bovino, e que afetou principalmente a empresa Minerva, provocando nessa quinta-feira a queda de 8% na bolsa”, diz.

Paulino relembra que quando se teve pela última vez casos de Vaca louca, mais precisamente em 2021, a China tinha estoques reforçados, e que esses estoques duraram 3,5 meses até fazerem o bloqueio de exportações. “Desta vez, estamos sem pedidos de exportação para a China em função desse caso recente no País. Esperar essa resolução a curto prazo pode ser bem problemático. Teria que esperar mais para termos maior clareza e entender o efeito, se será um caso isolado ou se terá magnitude. Ainda é cedo mensurar”, acredita.

Leia em: Ministério da Agricultura investiga suspeita de vaca louca

Para Luis Novaes, as apostas em ações de empresas de etanol, podem ser boas sugestões, levando em consideração as políticas brasileiras de favorecimento à gasolina que devem cessar nos próximos meses. “Ao cessar, elas devem tornar o ambiente mais competitivo para os combustíveis à base vegetal e isso poderia apoiar a valorização de empresas produtoras”, acredita.

Atualmente, os preços de uma série de commodities agrícolas se encontram em queda, mas segundo Novaes, o Brasil poderia se beneficiar com exportações nos próximos anos. “Acredito que isso possa acontecer diante da forte produção local e do impulso na demanda após a retomada econômica da China. Sem contar as flutuações no câmbio que poderia favorecer o setor”, prevê.

Fiagro é uma opção de patrimônio pouco conhecida

Chamados de Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais, os Fiagros são alternativas de investimentos recentes e que acompanham o desempenho do agronegócio. A principal característica desse fundo é que os recursos captados são investidos no próprio setor, assim como na cadeia produtiva agroindustrial. Contudo, os rendimentos distribuídos pelo fundo ficam sujeitos à incidência do Imposto de Renda (IR), com uma alíquota de 15%.

Os Fiagros iniciaram este ano com alta nas emissões. Em balanço, três ofertas públicas foram realizadas apenas em janeiro do qual resultou num valor, cuja ordem é de R$ 1,1 bilhão. A soma é o segundo maior volume mensal desde o lançamento do produto, em 2021. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Segundo a entidade, do montante, 90,79% foram direcionados às pessoas físicas, 8,12% foram comprados por outros fundos de investimento. Já o volume restante ficou dividido entre investidores institucionais e intermediários ligados às ofertas.

A forma de patrimônio surgiu com o intuito de ser um mecanismo de captação de recursos no mercado de capitais destinado ao financiamento de atividades produtivas, obras e outros investimentos somente ligados à esfera agroindustrial. Atualmente, o patrimônio líquido dos Fiagros está em constante crescimento. No ano passado, o fundo encerrou dezembro com R$ 10,3 bilhões. Entrelinhas, os Fiagros já contam com 184 mil contas registradas em 2022. Porém, somente em janeiro deste ano, o aumento foi de 13 mil contas criadas.

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