Elas inovam e fazem a diferença no Agronegócio

Formada em administração de empresas, Daniele Alkmin Carvalho Mohallem foi convidada pelo pai para trabalhar uma vez por semana na fazenda da família com o objetivo de conhecer os processos produtivos do café e planejar a sucessão familiar.
A experiência fez com que Daniele se apaixonasse pela cafeicultura, principalmente, pela produção de cafés especiais. Daniele saiu da empresa de engenharia onde trabalhava já havia 10 anos e hoje é sócia-fundadora da Agrorigem – The Coffee ID, startup que comercializa café especial com o mundo.
Daniele é um exemplo de mulher que lidera e inova no campo. A participação das mulheres no agronegócio, aliás, vem crescendo em Minas Gerais e no País, fato a ser ressaltado neste 8 de março, quando internacionalmente se comemora o Dia da Mulher. Considerado um dos setores econômicos mais importantes da economia mineira e do Brasil, o agronegócio vem evoluindo e as mulheres têm contribuído para isso.
Se antes a participação e a liderança eram concentradas em profissionais masculinos, hoje as mulheres estão ampliando a participação, se capacitando, empreendendo e levando inovações importantes para o desenvolvimento dos negócios familiares e do setor.
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Em Minas Gerais, são vários os exemplos e estão em todas as culturas, como no café, na produção de grãos, cachaça, queijos, entre outras.
No município de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais, Daniele Alkmin vem fazendo a diferença na cafeicultura. Após o convite do pai, Carlos Henrique Moreira Carvalho, para conhecer a produção, o café se tornou uma paixão.
“Em 2015, comecei a ir para a fazenda com meu pai e me apaixonei pelo café. No início, não sabia o que era o café especial, mas, em uma feira em Atlanta, nos Estados Unidos, tive minha imersão no café especial e comecei a fazer muitos cursos. Especializei-me em Q-Graders (um avaliador de cafés especiais), fiz curso de barista, de torra, neurociência da percepção do sabor, química de torra, entre outros”.
Com a formação voltada para os cafés especiais, em 2016, Daniele começou a trabalhar a exportação direta do café especial produzido na fazenda. Os embarques foram para o Canadá, Estados Unidos e Austrália. A partir de 2018, cafés especiais de outros produtores também começaram a ser exportados.
Agrorigem
Em 2019, junto com os sócios Guilherme Cassemiro e o pai, Carlos Henrique Moreira Carvalho, Daniele criou a Agrorigem, incubada no Inatel, em Santa Rita do Sapucaí, considerada polo em tecnologia e inovação. A startup foi financiada pelo NovoAgro Venture, fundo de investimentos que tem como objetivo aproximar investidores das startups que possam criar e implementar soluções no campo. O NovoAgro foi criado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg).
Através da Agrorigem – The Coffee ID é feita a venda de cafés especiais direto dos produtores para o mundo. “Hoje, com a Agrorigem, nós abrimos mercados no mundo para os produtores de cafés especiais. São cafés fantásticos que conseguimos agregar valor e trazer sustentabilidade econômica para os produtores. Hoje, exportamos cafés de 127 cafeicultores das principais regiões, como o Sul de Minas e o Cerrado”, diz a empreendedora no agronegócio.
Negócio familiar leva advogada de volta ao campo

Pensando na continuidade dos negócios familiares, a advogada Érica Vieira Lopes Rosa, após anos advogando fora de João Pinheiro, no Noroeste de Minas, voltou para a fazenda onde é produzida a cachaça Pinheirinha.
O retorno foi motivado pela saudade da família e também para auxiliar o pai, Josmar Lopes Rosa, na produção. Lopes sempre teve o desejo de formar sucessores e não herdeiros para os negócios.
Administrando os negócios, Érica, junto com o pai e o irmão, que é o engenheiro químico da produção, ampliou o volume e qualidade da cachaça Pinheirinha. Hoje, a produção gira em torno de 1.000 litros de cachaça por dia. A bebida é comercializada no mercado local e no Noroeste de Minas.
“Hoje, me dedico à administração dos negócios e também acompanho a safra. Quando se trabalha no agronegócio, é importante ter noção de todos os processos, desde o campo, maquinário até o administrativo. Com o trabalho em conjunto, conseguimos profissionalizar nossa produção, investimos em maquinário, ampliamos os alambiques e o volume”, explicou.
Para obter sucesso nos negócios, Érica se capacitou, fazendo diversos cursos nas áreas de gestão administrativa, de pessoas, de negócios, entre outros.
Engenheira reativa fazenda e constrói queijaria
A participação das mulheres nos processos produtivos também vem crescendo na produção do Queijo Minas Artesanal (QMA). A produção de queijos sempre fez parte da tradição da família da engenheira civil Francielle Cristina Leite, que retomou a produção e vem ganhando mercado e agregando valor à produção de leite com o queijo Pedacin da Serra.
Após o pai ter se afastado da produção de leite, devido aos baixos preços do mercado, Francielle, que é a quinta geração a trabalhar com o queijo, investiu na reativação da fazenda da família, que fica em Medeiros, na Região do Queijo Canastra.

Dentre os investimentos feitos está a queijaria, que foi planejada e construída dentro das normas exigidas pela legislação e já está em processo para certificação. O processo produtivo foi modernizado. A princípio, a produção girava em torno de dez queijos por dia e, hoje, está próxima a 25 unidades diárias.
“Em conversa com meu tio, João Carlos Leite, que é da Aprocan, ele me incentivou a reativar a fazenda. Conversei com meu pai e meu marido e decidimos reativar a fazenda. Fizemos um financiamento para investir e meu pai entrou com gado. Fiz muitos cursos e começamos a produzir em abril de 2020. Os resultados têm sido positivos e estamos crescendo. Em pouco tempo, dobramos a produção e estamos atendendo a vários mercados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Santa Catarina e Bahia”, conta Francielle.

Avanço em participação feminina no Estado se dá de forma profissional
O aumento da participação das mulheres no agronegócio de Minas Gerais tem acontecido de forma mais profissionalizada. Nos cursos de capacitação, a presença de líderes é cada vez maior. Elas atuam em todas as áreas, incluindo a gestão, manutenção e produção.
De acordo com a gerente de Formação Profissional Rural e Promoção Social do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Minas), Liziana Maria Rodrigues, as mulheres têm papel relevante nas questões organizacionais e de gestão das propriedades rurais, sendo, muitas vezes, as responsáveis pela coleta, controle e monitoramento de dados.
“Em muitas propriedades atendidas pelos programas do Senar Minas, as mulheres fazem a gestão e o controle dos balanços. Elas, geralmente, têm mais paciência, cuidado e organização”, destaca.

Ainda segundo Liziana, o interesse das mulheres pelos setores dentro da produção é geral e elas participam dos mais diversos cursos oferecidos.
“Notamos que as mulheres se interessam por todos os setores, sem distinção. As produtoras rurais estão procurando se orientar em relação a todos os processos, aprender a fazer todos os procedimentos. Temos cursos de tratores e manutenção de máquinas e equipamentos e contamos com a participação de mulheres, que apresentam desempenho tão bom quanto o público masculino. Elas se destacam por serem mais cuidadosas e detalhistas nos processos”, conta.
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