Agronegócio

Em meio a perdas, suinocultura pede socorro

Em meio a perdas, suinocultura pede socorro
Foto: Rodolfo Buhrer/Reuters

Os custos de produção elevados e o aumento da oferta de carne suína no mercado têm afetado drasticamente a produção em Minas Gerais e no País. No Estado, a cada suíno vendido para o abate, é registrado um prejuízo médio de R$ 200 por animal comercializado.

Com o cenário desfavorável, muitos suinocultores têm abandonado a atividade e, por isso, é esperada queda na produção dos animais em 2023, após dez anos consecutivos de crescimento. No País, a situação é equivalente e suinocultores de Santa Catarina vão protestar.

Segundo o médico veterinário e consultor de mercado da Asemg, Alvimar Jalles, a alta dos grãos e o dólar elevado têm impactado de forma significativa os custos da atividade, que tem a grande maioria dos insumos balizados pelo preço da moeda norte-americana. Entre os itens que mais têm pesado estão os cereais, farelo de soja, combustíveis, energia, medicamentos, vacinas, entre outros.

“Os custos em Minas Gerais, assim como no restante do Brasil, estão em torno de R$ 8 por quilo do suíno, enquanto o preço de venda gira em torno de R$ 6 o quilo. Neste cenário, temos, no mínimo, R$ 200 de prejuízo por animal comercializado”, explica.

Ainda segundo Jalles, a situação da suinocultura já era desfavorável em 2021, quando os resultados do setor empataram com 2020 e não geraram retorno financeiro para os produtores. “No ano passado, não foram gerados ganhos com a atividade e, desde o início de 2022, o produtor está acumulando prejuízos. É uma situação muito grave”, destaca.

Enquanto os custos de produção estão em alta, o preço do suíno não consegue reagir no mercado. Com os prejuízos acumulados, muitos produtores têm reduzido o rebanho ou abandonado a atividade, movimento que faz com que haja aumento repentino da oferta de carne suína no mercado, o que impede a elevação dos preços para o mercado final.

“Hoje, temos mais oferta que demanda. Nos últimos anos, a produção de suínos teve estímulos para crescer, estímulo este vindo do mercado externo. Mas, mesmo com as exportações em alta, os embarques não têm sido suficientes para ter um balanço entre o que foi produzido e o que é consumido”, disse Jalles.

Com os preços aquém do necessário, em Minas Gerais, assim como no Brasil, produtores têm abandonado a atividade. “2021 não foi de ganhos e quando entrou 2022 veio o prejuízo muito elevado de janeiro para cá. A solução, como qualquer outra atividade, é que estão havendo saídas e redução do setor. Vamos ter, depois de dez anos de crescimento, certamente, em 2023 diminuição da produção de carne suína. É uma crise enorme, a maior da suinocultura depois do Plano Real”, diz.

A solução da crise depende do mercado. A guerra entre Rússia e Ucrânia veio para complicar ainda mais a situação, com o conflito e incertezas de mercado, os preços dos insumos foram alavancados. Caso seja assinado acordo de paz, a estimativa é de que os preços recuem rapidamente.

“A solução será de mercado e passa pelo enxugamento doloroso na oferta. A guerra aumentou a pressão sobre os preços das commodities, que já sofriam interferência da seca de 2021, mas já estamos no teto. Qualquer solução do conflito entre Rússia e Ucrânia vai gerar queda nos preços”, afirma.

Protesto no Sul do País

Situação crítica também é vivida pelos produtores de suínos de Santa Catarina. A estimativa da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS) é de que o prejuízo atual do suinocultor independente passe dos R$ 300 por animal vendido. Hoje, o preço pago pelo quilo do suíno vivo é de R$ 5 e o custo de produção supera R$ 8.

Diante do prejuízo, no dia 29 de março, haverá um manifesto, no qual mais de 100 suínos já foram doados por suinocultores e a carne será distribuída para a população em Braço do Norte, município de Santa Catarina.

As lideranças do movimento vão tentar mobilizar outros estados para que abracem a causa e mobilizem protestos em suas regiões. Não está descartada uma grande mobilização em Brasília.

“Esperamos que todas as associações estaduais filiadas à Associação Brasileira de Criadores de Suínos se juntem a nós e promovam um ato semelhante. Apesar da suinocultura estar em um bom momento nas exportações, gerando riqueza para o Brasil, por outro lado o suinocultor está quebrando dentro da granja. A situação está insustentável. Todas as entidades da suinocultura brasileira estão convocadas para fazer esse movimento”, disse, em nota, o presidente da ACCS, Losivanio Luiz de Lorenzi.

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