Estado se destaca na agricultura sustentável

“A agricultura é parte da solução e não dos problemas que causam as mudanças climáticas”. A frase, mencionada durante a 26º Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26) pelo presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Celso Moretti, reflete parte das discussões apresentadas no evento e que se relacionam à busca pela sustentabilidade na agricultura e à necessidade de ações que resultem na neutralização ou redução de carbono no setor.
Com participação significativa na COP 26, realizada em Glasgow, na Escócia, e que teve as atividades finalizadas no último 12 de novembro, Minas Gerais teve destaque, principalmente, após a formalização do acordo que inclui o Estado na campanha global Race to Zero, ou Corrida para o Zero, em tradução para o português.
A assinatura do protocolo de interesses, que ocorreu em junho de 2021, condecorou Minas Gerais, à época, como o primeiro governo subnacional da América do Sul e do Caribe a se juntar ao movimento que tem como objetivo zerar emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050 por meio de ações de descarbonização.
Ainda que o Estado tenha se destacado em meio à participação no movimento, vale lembrar que o Brasil esteve em evidência pela cobrança internacional devido aos constantes registros de desmatamento e queimadas em seus principais biomas e que são vitais no que diz respeito aos esforços mundiais para a redução do efeito estufa.
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Práticas do Estado
O olhar para o futuro e, no caso, o alcance às metas do Race to Zero e demais acordos ou planos de desenvolvimento sustentável, exige engajamento local imediato e constante.
Em Minas Gerais, de acordo com o superintendente de Desenvolvimento Agropecuário da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Denilson Oliveira, além do Race to Zero, destacam-se as iniciativas do Plano Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC).
Criada em 2010, a iniciativa do governo federal estabeleceu, por exemplo, ações de fomento à recuperação de pastagens degradadas e à ampliação do tratamento de resíduos animais. Em seis programas, entre os dois citados anteriormente, o Plano ABC se debruçou sobre a partilha de tecnologias que permitam que os produtores rurais aproveitem a área da propriedade, de forma sustentável, de melhoria à infiltração da água no solo, além de questões relacionadas ao acesso ao crédito.
De acordo com o superintendente de Desenvolvimento Agropecuário da Seapa, o Grupo Gestor do Plano ABC de Minas Gerais, formado por diversas instituições do setor, garantiu a implantação das seis tecnologias presentes no escopo do plano nacional. “No caso da recuperação de pastagens degradadas, dos 15 milhões de hectares que o Brasil se comprometeu a recuperar, Minas assumiu o compromisso de participar com 2 milhões de hectares, o que corresponde a 13,3% da meta nacional”, destacou Oliveira.
No entanto, o superintendente ressalta que em função dos recursos captados para a realização do programa específico de recuperação de pastagens degradadas, apenas um quarto da área foi recuperada. Em contraponto, Oliveira salienta que o Plano ABC resultou em capacitações sobre as temáticas previstas no escopo, sendo que, entre 2010 e 2020, 45.773 (46,34%) pessoas com propriedades em Minas Gerais participaram das agendas ocorridas no Brasil, em um total de 98.766 pessoas capacitadas em todo o País.
Para a gerente de meio ambiente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg), Ana Paula Mello, “o setor agropecuário brasileiro é o que mais oferece oportunidades de remoção do carbono e de alcance de metas” que se relacionam à agricultura sustentável.
No que diz respeito ao Plano ABC, Mello avalia que o Estado avançou na última década (2010-2020), mas que para a década atual é necessário definir novas metas que irão pautar o setor, considerando o Acordo de Paris e as metas definidas nacionalmente. A especialista destaca, ainda, que as iniciativas são relevantes para o meio ambiente e também para o próprio produtor rural.
“Nós temos (em Minas Gerais) uma produção que tem tudo para alcançar níveis de excelência e sustentabilidade. Mas para o produtor rural é uma questão também de melhoria de produtividade e de infiltração do solo, intensificação da produção, oportunidades de renda e fixação do produtor e de sua família no campo. Fatores que ajudam a manter o homem no campo em condições de dignidade”, afirma Mello.
O ponto de atenção para a gerente de meio ambiente do Sistema Faemg está na quantidade de propriedades rurais existentes no Estado, que, conforme dados do Cadastro Ambiental Rural, são quase um milhão, o que impõe o desafio de implantação de tecnologias em larga escala, além da manutenção de diálogo próximo com os produtores.
“A tecnologia existe. Mas falta mais integração de ações, tendo em vista que o Estado e a iniciativa privada precisam caminhar juntos. A política pública é do Estado, mas é na iniciativa privada que as coisas acontecem. Então precisamos de uma soma de esforços, porque temos um belo potencial de alcance de metas e de trazer transformação na nossa agricultura”, avalia a gerente de meio ambiente do Sistema Faemg.

Alimentos carbono neutro
Exemplo de negócio que alinhou as práticas de descarbonização é a Nuu Alimentos. Com fábrica em Patos de Minas, a empresa de palitos de tapioca, pizza de pão de queijo e pães de queijo zerou a emissão de carbono em 2021, por meio de parceria para a preservação da floresta amazônica.
Segundo a fundadora e CEO da Nuu Alimentos, Renata Gontijo, a ideia de zerar as emissões de carbono ocorreu após o nascimento de suas filhas gêmeas. “Eu que precisava construir um negócio que deixaria um futuro melhor para elas. As mudanças climáticas já estão aí, a geração delas será a primeira grande afetada pelo aquecimento global. Sabemos que a indústria de alimentos é parte desse problema, mas nosso propósito é entender como podemos ser parte da solução”, afirma Gontijo.
A partir desse propósito, a Nuu Alimentos conta hoje com empresas Way Carbon e do Amigos do Clima e calculou a “pegada de carbono da empresa”, considerando desde os gases emitidos pela pecuária leiteira até o forno onde o pão de queijo é finalizado na casa do consumidor. O total foi de 585 toneladas de gases até o final de 2021, que já foram compensados na preservação da Floresta Amazônica em Paragominas, no Pará.
Para levantar a estrutura da fábrica recentemente inaugurada em Patos de Minas nos moldes sustentáveis, a mineira investiu R$ 3,5 milhões. A nova sede conta com 210 placas de energia fotovoltaica (210 módulos de 445 wp – 93,45kWp, economia de aproximadamente R$ 11.000/mês de energia), captação de água de chuva de 10.000 litros e piso de concregrama para absorção de água, fossa filtro para tratamento de efluentes, janelas de vidro para utilização de luz natural, telha termoacústica para manter a temperatura 8 graus abaixo da área externa e composteira em terra para resíduos orgânicos, além de ter 100% de compensação de embalagens pelo selo Eu Reciclo.
Bunge anuncia meta a ser cumprida até 2030
São Paulo – A trading e processadora de produtos agrícolas Bunge anunciou ontem meta de reduzir em 25% emissões de gases de efeito estufa até 2030, em comparação a níveis de 2020, além de uma diminuição de 12% nas emissões indiretas (escopo 3). Segundo a Bunge, o compromisso da empresa de ter cadeias de suprimentos livres de desmatamento até 2025 é fator importante para atingir as metas de redução de emissões.
A divulgação vem após uma declaração conjunta da Bunge e de outros líderes do agronegócio na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26) para acelerar a ação da indústria no combate às mudanças climáticas.
A empresa buscará fazer melhorias em suas operações globais, promovendo a descarbonização por meio do apoio a práticas agrícolas regenerativas. Também quer aprimorar o transporte e a logística para atingir essas metas.
“A expectativa é que uma parte substancial da redução de emissões dentro de suas cadeias de suprimentos seja impulsionada pelo compromisso da Bunge de alcançar cadeias de suprimentos livres de desmatamento até 2025 –o prazo mais curto do setor”, destacou a empresa em nota.
As novas metas climáticas foram validadas pela iniciativa Science Based Targets Initiative. (Reuters)
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