Agronegócio

Safra de café deve ter queda de 32,6% em MG

Safra de café deve ter queda de 32,6% em MG
Crédito:Amanda Perobelli / Reuters

Minas Gerais vai colher menos café em 2021. Após uma safra recorde em 2020, a bienalidade negativa e a falta de chuvas interferiram no rendimento dos cafeeiros e a previsão é de uma safra 32,6% menor. Ao todo, o Estado deve colher em torno de 23,3 milhões de sacas de 60 quilos do grão.

O volume representa 47,7% do total no Brasil, que pode chegar a 48,8 milhões de sacas, uma redução de 22,6%. Os dados são do 2º Levantamento da Safra 2021 de café, divulgado, ontem, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Conforme os dados, a área em produção no Estado também ficou menor (-4,7%) e somou 992,4 mil hectares. A bienalidade negativa combinada com as condições climáticas desfavoráveis fizeram com que a produtividade média caísse 29,3%, com rendimento estimado em 23,5 sacas por hectare, ante as 33,3 sacas registradas na temporada anterior. 

Em Minas, a maior produção é de café arábica. Para este ano, a previsão é de uma safra 33% menor e 22,9 milhões de sacas da espécie. A produtividade média das lavouras, 23,4 sacas por hectare, está 29,6% inferior.

Já a produção do café conilon foi estimada em 348,5 mil sacas, variação positiva de 12,5% frente à safra anterior. A espécie é mais resistente ao estresse hídrico e, por isso, a produtividade tende a crescer 3,1%, com rendimento médio de 35,1 sacas por hectare. 

De acordo com o gerente de Acompanhamento de Safras da Conab, Maurício Ferreira Lopes, o segundo levantamento da safra de café vem mostrando, mais uma vez, a tendência de queda na produção.

“O café é uma das produções mais importantes tanto na formação do valor bruto da produção como na geração de empregos e renda no campo. Neste ano, estamos passando por um momento de baixas precipitações e altas temperaturas. Os problemas climáticos vêm sendo enfrentados desde o final de 2020 e têm impacto negativo na produção do café em 2021.  Essa condição tem prejudicado a produtividade, principalmente, do café arábica, que é mais suscetível ao estresse climático”, disse Lopes. 

Colheita

Os dados da Conab mostram que a colheita no Estado já foi iniciada e o processo tende a ser acelerado pelos cafeicultores. Diante das oscilações climáticas, há grande receio por parte dos cafeicultores em relação aos efeitos adversos do clima sobre as lavouras. A maior preocupação dos produtores é a persistência do estresse hídrico em fases mais críticas como no enchimento de grãos e na maturação, podendo gerar frutos com baixo rendimento e qualidade.

Com a produção menor, a tendência é de preços firmes para o grão. De acordo com a superintendência de Inteligência e Gestão da Oferta da Conab, a maior parte da safra passada já foi comercializada e os estoques estão mais justos.

“Mais de 90% da última safra já foi comercializada, o que associado ao grande volume exportado contribui para os estoques reduzidos. Em relação à expectativa, ela, por enquanto, é positiva para o setor cafeeiro, dada uma recuperação do consumo e câmbio favorável às exportações”.

A analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Alves Gomes, destaca que o levantamento da Conab é compatível com o que está acontecendo nas lavouras mineiras. Ela ainda explica que a falta de chuva pode favorecer a colheita e a preparação dos grãos, porém, pode ser prejudicial para a safra 2022.

“A perda na safra já é um dado consolidado. No decorrer da colheita, poderemos avaliar melhor e quantificar as perdas. Nossa preocupação também é sobre a safra de 2022. O clima é um problema que nos deixa muito preocupados. A falta de chuvas vai favorecer a colheita, que tende a ser mais rápida. Mas o tempo seco prejudica a safra que está por vir. Estamos notando um desenvolvimento dos ramos abaixo do esperado, o que nos preocupa”. 

Ainda segundo Ana Carolina, apesar das perdas, o mercado está favorável para o grão, com demanda e preços elevados. “Agora é hora do cafeicultor trabalhar as margens. É preciso traçar as estratégias e o planejamento da safra para que ele possa comercializar aproveitando o momento de bons preços e mercado aquecido. É importante fazer uma boa colheita e um bom trabalho pós-colheita, para ter cafés de qualidade, agregar valor e ter uma remuneração que compense o alto custo de produção”, explicou.

Chapadas de Minas surgem na contramão 

Minas Gerais possui quatro grandes regiões produtoras de café. Na safra 2021, as três mais representativas foram afetadas pela falta de chuvas, o que, combinado com a bienalidade negativa, contribuiu para uma queda no volume de café a ser colhido. Neste ano, apenas na região das Chapadas de Minas será registrada alta na produção.

No Estado, a maior região produtora é o Sul de Minas. De acordo com a Conab, a estimativa de produção para esta safra é de 12,19 milhões de sacas de café beneficiado, sinalizando redução de 36,3% em comparação ao resultado colhido na temporada passada. A área em produção ficou 11% menor e somando 479,3 mil hectares. A produtividade média caiu 28,5% e a estimativa é colher 25,5 sacas por hectare. 

Na região do Cerrado mineiro, a produção esperada está em 4,3 milhões de sacas de café, o que aponta para uma redução de 28,2% em relação a 2020. A região enfrenta condições climáticas adversas ao longo do ciclo, com escassez de precipitações e temperaturas elevadas, devendo impactar no potencial produtivo da cultura. A produtividade média, 22,9 sacas por hectare, retraiu 25,9%. 

Na região da Zona da Mata, a expectativa é de produção na ordem de 5,92 milhões de sacas de café beneficiado, representando decréscimo de 32,6% em comparação à temporada passada. O rendimento médio por hectare caiu 35,2% e está estimado em 20,1 sacas por hectare. 

Já na região produtiva Chapada de Minas, que engloba as regiões Norte de Minas, Jequitinhonha e Mucuri, a estimativa é de uma produção total de 911,1 mil sacas de café beneficiado, volume 29,6% superior. Esta é a única região produtora do Estado que prevê aumento no resultado final em comparação a 2020. 

De acordo com a Conab, boa parte da produção é de café do tipo conilon, espécie que sofre menos efeitos fisiológicos em relação à bienalidade. Além disso, a região apresenta indicativo de incremento na área em produção de 19,1% e somando 29,8 mil hectares, o que impacta positivamente a previsão do volume colhido. A produtividade média esperada é de 30,5 sacas por hectare, alta de 8,8%.

Em meio a renegociações, indústria teme calotes

Nova York/São Paulo/Londres – Produtores de café do Brasil, maior fornecedor global da commodity, estão tentando renegociar contratos de venda com exportadores e operadores a preços mais altos, gerando na indústria temores de calotes generalizados, segundo profissionais do mercado.

Os agricultores e seus representantes querem agora valores mais elevados do que aqueles que haviam aceitado há alguns meses – ou até mesmo um ano -, afirmando que os preços do café dispararam porque o tempo mais seco que o normal deve causar uma forte redução na safra do País. Outros têm pedido para adiar embarques para o ano que vem.

“Produtores que venderam café entre R$ 450 e R$ 650 agora estão em busca de preços spot de R$ 800 (a saca de 60 kg)”, disse um operador de uma trading global na Holanda. “Acho que os defaults vão ser um grande problema”.

As tradings internacionais de commodities podem ter grandes prejuízos no caso de pagarem mais por café agora do que o valor que negociaram meses atrás para venda às torrefadoras.

Em um cenário ainda pior, poderão ser obrigadas a comprar café caro no mercado físico se os produtores não entregarem o produto.

Os calotes ainda não ocorreram porque a colheita está apenas começando, mas é provável que venham a acontecer nos próximos meses, disseram fontes. “Tivemos produtores ou seus advogados ligando, pedindo uma renegociação. Dissemos que não podemos alterar os termos agora”, afirmou o chefe de uma trading internacional no Brasil.

“Se um produtor decidir pelo default, será um prejuízo de cerca de R$ 200 (US$ 37,60) por saca. É muito”, acrescentou.

Calotes são raros no setor cafeeiro, embora operadores tenham citado alguns casos em 2014, última vez em que uma grave geada afetou o Brasil e os preços do café dispararam.

Os negócios dos exportadores de café são realizados em milhares de sacas – ou seja, os prejuízos podem se estender para a casa dos milhões.

Os contratos futuros do café arábica subiram quase 30% desde o início de abril, tendo alcançado uma máxima de quatro anos na semana passada, diante de ofertas cada vez mais apertadas e da recuperação de demanda pós-Covid-19.

“Nós acreditamos que haverá default entre os produtores, mas esperamos que seja em um número pequeno”, disse Sergio Hazan, presidente da Comexim, uma das maiores exportadoras do Brasil.

Hazan afirmou que a Comexim não recebeu pedidos de renegociação, principalmente porque a companhia possui volume limitado de contratos para entrega futura, mas disse estar ciente de que esses pedidos foram feitos a outros participantes do mercado.

Corretoras de menor porte do Brasil receberam pedidos de renegociação, mas disseram que os agricultores pensariam duas vezes antes de entrar em default por temores de um possível boicote dos compradores no futuro.

Recomendação O diretor da Associação dos Cafeicultores do Brasil (Sincal) Marco Antonio Jacob disse que a entidade tem recomendado, desde o ano passado, que aqueles produtores que venderam volumes excessivos devem procurar os compradores para renegociar o acordo, diante da quebra de safra.

“Se não vai colher, renegocia, faz o washout. Temos falado que procurem seus compradores e renegociem as suas vendas… O produtor tem que honrar com aquilo que vendeu. Não estamos recomendando ruptura de contrato, não é isso”.
(Reuters)

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