Exportações da soja de Minas para China sobem 185% em setembro após crise com EUA

A tensão comercial entre China e Estados Unidos (EUA) está gerando um impacto positivo e significativo nas exportações de soja de Minas Gerais. Dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa) revelam um crescimento de 185% no valor das exportações de soja do Estado para o gigante asiático em setembro de 2025, na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Com a China suspendendo as importações dos Estados Unidos pela primeira vez desde 2018, o Brasil – e Minas – se consolidaram como principais fornecedores de soja para o maior comprador mundial da commodity.
O movimento no Estado acompanha a tendência nacional. Conforme dados da Administração Geral de Alfândegas da China, as importações de soja brasileira cresceram 30% em setembro, somando 10,96 milhões de toneladas, o equivalente a 85% de toda a soja importada pelos chineses. No mesmo período, os embarques dos EUA caíram de 1,7 milhão de toneladas para zero.
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Boom das exportações da soja mineira
Em setembro de 2025, as vendas de soja mineira para a China somaram US$ 163,88 milhões, um aumento maciço em relação aos US$ 57,48 milhões registrados em setembro de 2024. Este crescimento, que impulsiona a recuperação da balança comercial do grão no Estado, é visto como uma oportunidade relevante.
A assessora técnica da Superintendência de Inovação e Economia Agrícola da Seapa, Manoela Oliveira, confirma a influência direta do cenário internacional. “O crescimento é muito grande. Isso é influenciado por essa questão da China com os Estados Unidos, porque a China privilegia o Brasil em relação a essa tensão que está ocorrendo no momento”, afirmou.
De acordo com a Seapa, o Estado exportou US$ 2,1 bilhões em soja para a China neste ano, o equivalente a 81% de toda a soja embarcada por Minas Gerais, seguida por Tailândia (4%), Irã (2%), Japão (1,5%) e Coreia do Sul (1%). Embora o valor total exportado tenha sido ligeiramente menor do que em 2024, o desempenho recente mostra recuperação.
“Essa exportação vem se recuperando e é natural que os embarques aumentem no segundo semestre, quando a safra já foi colhida e as negociações são finalizadas”, explica Manoela Oliveira.
Minas Gerais, quinto maior exportador de soja do País, é responsável por 6% de toda a commodity exportada pelo Brasil. Além disso, é o segundo produto mais exportado do agronegócio mineiro, representando 18% das vendas externas do setor, atrás apenas do café.
Oportunidade de ouro com riscos à vista

Para o Presidente da Associação de Produtores de Soja, Milho, Sorgo e outros grãos agrícolas de Minas Gerais (Aprosoja-MG), Fábio de Salles Meirelles Filho, o aumento das exportações é uma resposta natural à busca chinesa por segurança alimentar em meio a conflitos.
“Os países que se preocupam com a segurança alimentar não vão aguardar desenrolar políticos, questões políticas internacionais para garantir seu abastecimento. Então a gente vê como uma forma natural e positiva esse aumento em relação às exportações”, avaliou.
Apesar do otimismo, a alta concentração na China, que representa 81% das exportações estaduais do grão, acende um sinal de alerta entre os produtores. “A partir do momento que você está na mão de um único mercado, é realmente um risco muito grande para nós”, pondera o presidente da Aprosoja-MG.
Os esforços, segundo Meirelles Filho, devem se concentrar em “diversificar o mercado” e “processar o produto” localmente, exportando óleo e farelo com maior valor agregado.
“Temos esse ponto de atenção para um direcionamento, vamos dizer, quase exclusivo. Porém, a China é o principal consumidor da soja no mundo, então, qualquer compra da China, tem essa grandiosidade. Isso fica como um desafio para que a gente possa tentar diversificar mais os destinos para soja”, explica Manoela Oliveira.
Cenário a longo prazo ainda é incerto
A tendência, segundo a Seapa, é de que os números elevados se mantenham enquanto perdurar a tensão entre China e EUA. Contudo, qualquer mudança nas negociações entre as potências pode afetar o desempenho brasileiro, especialmente porque os Estados Unidos estão em época de colheita, com grande oferta de soja no mercado.
Apesar da incerteza, Minas Gerais demonstra capacidade de resposta. “Nós temos o produto e temos como aumentar a quantidade que esse mercado necessita em número de soja e de milho”, assegurou Meirelles Filho que vê no conflito “muitas oportunidades, algumas positivas”, desde que o setor saiba “operar essa oportunidade”.
Os próximos meses serão cruciais para definir se o boom observado em setembro é um cenário temporário ou o início de uma nova e mais robusta era para a soja mineira no mercado global.
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