Falta de mão de obra é o principal gargalo da cadeia do café

Com o objetivo de identificar os principais gargalos que afetam a cadeia produtiva do café em Minas Gerais, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) elaborou o estudo “Diagnóstico Estratégico da Cadeia Produtiva Agroindustrial do Café em Minas Gerais”. No estudo, que ouviu os diversos elos da cadeia, foi identificado que um dos maiores desafios é a mão de obra para atuar na atividade, do campo ao varejo. A logística, a segurança, a tributação e a fiscalização também foram citadas como desafios.
O estudo foi apresentado, ontem, em Belo Horizonte, durante o Workshop – Ações para Melhoria da Competitividade da Cadeia Produtiva do Café em Minas Gerais. O evento foi promovido pelo Governo de Minas, por meio da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), e pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).
De acordo com o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Thales Fernandes, o diagnóstico para a cadeia do café é de suma importância para o Estado. O café é o principal produto do agronegócio de Minas Gerais, então, tem sido fundamental para o crescimento do Produto Interno Bruto de Minas.
“Minas é o maior produtor de café. No último trimestre, fechado em junho, o crescimento de 4,4% do PIB de Minas foi puxado pelo café, resultado da alta de 23% na safra. Então, pela importância, não podemos deixar de acompanhar essa cadeia e a sua competitividade. Discutimos, durante o workshop, a qualidade da mão de obra, a respeito dos cafés especiais e a denominação de origem. Também discutimos a certificação e a agregação de valor aos cafés especiais, que já caíram no gosto do consumidor”, explicou.
Gargalos da cadeia do café
Durante o workshop, foi apresentado o resultado preliminar do estudo “Diagnóstico Estratégico da Cadeia Produtiva Agroindustrial do Café em Minas Gerais”. Conforme o secretário, foram identificados desafios que precisam ser solucionados para melhorar a competitividade do setor. Os dados servirão de base para políticas públicas que visem às soluções.
O estudo foi elaborado pelo UFV com recursos provenientes do acordo de reparação do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que vitimou 272 pessoas.
O coordenador do projeto e professor adjunto da UFV, Gustavo Bastos Braga, explicou que para o levantamento foram considerados os principais gargalos apontados por todos os agentes da cadeia, desde a produção ao varejo.
A pesquisa, que foi feita em todas as regiões produtoras do Estado, apontou, então, a mão de obra como o principal desafio na atividade.
“A falta de mão de obra não se restringe somente à produção ou à colheita, que é o período que mais demanda a mão de obra. Mas, isso perpassa a produção. Nos demais elos também foram relatadas dificuldades. Percebemos que é um gargalo desde a produção no campo, passando pelo processamento, prova, pelo serviço de embalagem e de comercialização”.
Ainda segundo Braga, a falta de mão de obra também impacta no uso das tecnologias. Apesar dos produtores serem abertos a novas tecnologias e investirem, a falta de pessoal prejudica o uso. Além disso, por ser escassa, também aumenta o custo da produção.
“Muitos têm acesso à tecnologia, mas não tem quem opere. Isso traz, como consequência, o aumento no custo da produção porque o profissional escasso acaba tendo o preço elevado. Na rede de insumos, há dificuldades de encontrar agrônomos e prestar assistência ao produtor”.

Logística e segurança também impactam
Outro ponto que interfere de forma negativa no desempenho do setor é a logística. A reclamação está em torno da má conservação das rodovias e das estradas para o escoamento da safra. Além disso, a cadeia também enfrenta problemas nos desembaraços aduaneiros devido à burocracia. O ponto é importante por impactar nas exportações.
Conforme o estudo, também foi identificada grande preocupação da cadeia no que se refere à segurança. Além de invasões de propriedades, inclusive, produtivas, há um aumento dos roubos de sacas de cafés, insumos, máquinas, entre outros.
No que se refere à tributação e fiscalização há uma insatisfação da cadeia cafeeira em relação ao Fundo Estadual do Café (Fecafé). No estudo, foi identificado que a cadeia está insatisfeita com o funcionamento do Fundo. Além disso, há uma insatisfação quanto à fiscalização, que foi considerada insuficiente frente aos não pagadores.
Falta organização das Identificações Geográficas
Pensando na cafeicultura do futuro, a desorganização das Identificações Geográficas podem trazer prejuízos ao setor. Conforme Braga, as IGs são importantes para agregar valor ao café, mas é preciso ter uma gestão das conquistas. A IG diferencia o produto da região, como exclusivo da localidade e com características únicas.
Com o crescimento das conquistas, que são alcançadas com a organização dos produtores locais, já existem cidades cujas produções de café estão incluídas em duas IGs diferentes. É o caso de Itamogi e São Sebastião do Paraíso, que estão, ao mesmo tempo, nas IGs da Região da Alta Mogiana e da Região Sudoeste de Minas.
“As Identificações Geográficas agregam valor ao café. Hoje, a organização para buscar a IG é feita regionalmente e vem de baixo para cima, não é imposto e não tem políticas que definem as indicações. Hoje, não tem coordenação no Estado e está virando uma bagunça. Há regiões se sobrepondo. Se o selo diferencia o café pela região, então como a cidade está em duas regiões? Isso desagrega valor, que teoricamente teria exclusividade”, disse Braga.
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