Agronegócio

Importação de fertilizantes pode diminuir com pesquisa minerária

Importação de fertilizantes pode diminuir com pesquisa minerária
O risco de desabastecimento de fertilizantes preocupa os produtores rurais para o plantio da safra 2022/23 no País | Crédito: Agrobeloni/Divulgação

A guerra entre Rússia e Ucrânia tem deixado os produtores rurais de Minas Gerais e do Brasil preocupados em relação à manutenção do fornecimento e custos dos fertilizantes para a produção agropecuária. A desorganização da cadeia logística de exportação já fez com que o governo da Rússia recomendasse aos fabricantes que suspendessem os embarques. E essa possibilidade de desabastecimento e da disparada dos preços internacionais dos fertilizantes traz de volta à tona a necessidade já conhecida de o Brasil investir em pesquisas e apoiar iniciativas para reduzir a dependência pelo insumo importado.

Fomentar estudos que busquem novos minerais capazes de atender à demanda é um dos principais caminhos. Um dos potenciais é o uso do pó de basalto como um remineralizador de solo, projeto que é desenvolvido pela Prefeitura de Uberlândia. Outra alternativa para os produtores é fazer a análise de solo e, com base nos dados,  buscar formas de usar menos fertilizantes, aproveitando a reserva do solo. Cerca de 35% dos fertilizantes importados por Minas Gerais são de origem russa, em especial os nitrogenados e potássicos.

O diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, explica que, até o momento, os estoques nacionais de fertilizantes são suficientes para a produção da segunda e da terceira safras. Mas existe grande preocupação em relação à safra 2022/23. Além disso, com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, os preços, que já estavam em patamares elevados, avançaram ainda mais. 

Estudo feito pela CNA mostrou que logo no início do conflito, os fertilizantes, que já vinham em tendência de alta, valorizaram-se ainda mais. Os derivativos de ureia com vencimento para maio subiram cerca de US$ 165 por tonelada, para US$ 780 por tonelada. Internamente a tonelada de ureia atingiu US$ 642 (preço internado no Porto Paranaguá). 

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


“De imediato, as safras estão sem problemas, mas os preços devem aumentar substancialmente até meados do ano. A preocupação maior dos produtores é para a safra que se inicia em setembro deste ano, a 2022/23. Nesta safra, produtores, normalmente, começam a comprar o insumo no primeiro trimestre, mas este ano foi diferente. Com as expectativas dos preços caírem a partir de abril, muitos produtores não compraram. Por isso, há uma preocupação muito grande. No momento, não se tem um cenário concreto de como vai se desenhar os preços dos produtos e, principalmente, a entrega”, diz. 

Soluções “caseiras” 

Bruno Lucchi explica que diante da alta dos preços e de uma possível falta de fertilizantes, o produtor rural pode adotar técnicas para minimizar os problemas. “O produtor pode pegar orientação agronômica, com base na análise do solo, e avaliar as áreas que tiveram maior fertilidade nos últimos anos, se ela se mantém, para fazer uma adubação de equilíbrio e conseguir ter produtividade média. Mas tudo vai depender da relação de troca que ele tem com o preço do produto, vai depender também das fertilidades e da disponibilidade do produto na época. É um cenário ainda incerto e é preciso acompanhar as variáveis para tomar as melhores decisões”.   

Para  Lucchi, é fundamental discutir políticas públicas para tornar o agronegócio brasileiro menos dependente das importações. Uma das iniciativas, que deve ser lançada em breve, é o Plano Nacional de Fertilizantes, que vem sendo desenhado pelo governo federal. 

“O Plano Nacional de Fertilizantes, na verdade, não vai resolver o problema no curto prazo, será preciso buscar outros fornecedores. Porém, a gente não pode perder a chance de discutir uma importante política pública que visa a tornar o agro brasileiro menos dependente da importação de fertilizantes”, avalia. 

Ainda segundo Lucchi, hoje, importamos mais de 85% dos fertilizantes, o que coloca o País em situação muito vulnerável, como agora e com a crise da Covid-19. “O plano visa a ter um diagnóstico claro das minas que temos no Brasil, revisar a regulamentação brasileira para uma legislação mais moderna e que consiga fazer a extração em equilíbrio com o meio ambiente,  buscar políticas de financiamento, principalmente, com investimentos internacionais para ter parque industrial mais moderno e revisar as questões tributárias, que afetam muito. Se conseguirmos reduzir a dependência de 85% para menos da metade, o Brasil ficará em outro patamar em relação à competitividade e dependência de fertilizante importado”, explica.

Pesquisa geológica pode ajudar a ampliar opções 

O  Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) ressaltou que é preciso políticas públicas que ampliem o investimento em pesquisa geológica, focado na descoberta de depósitos de fosfato e, principalmente, potássio. Estudos de outros minerais que possam ajudar a reduzir a dependência também são importantes. 

Para que os estudos e a exploração avancem, o que demandará tempo, também é necessário políticas de licenciamentos mais ágeis e segurança jurídica para que os projetos possam avançar em tempo hábil.  

O diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Ibram, Julio Cesar Nery Ferreira, explica que é preciso apoio e financiamento para a realização de pesquisas que permitam conhecer o potencial geológico brasileiro e avançar nas opções utilizadas hoje. 

“Na questão dos fertilizantes, a nossa dependência externa é muito alta. O governo vem discutindo este assunto desde o ano passado, com o objetivo de desenvolver o Plano Nacional dos Fertilizantes e avançar em busca de solução e equacionamento para conseguir reduzir a dependência do potássio”, destaca.

Ainda segundo Ferreira, no Brasil existe uma opção que está sendo desenvolvida que é baseada em rochagem, na qual se pega a rocha a céu aberto, faz a moagem e lança material no solo.

“É um processo com menor velocidade de absorção, mas também é um processo que fica mais tempo disponível no solo. É um produto mais barato e de grande disponibilidade no Brasil. Por isso, a discussão sobre o plano é importante, porque existem diversas opções que podem ser analisadas. Mas, para isso, é preciso de investimento no plano geológico do Brasil, o território ainda tem uma cobertura de pesquisas muito baixa,  menos de 30%. Temos que desenvolver as pesquisas e também o financiamento para pequenas e médias empresas. A rochagem, por exemplo, é muito importante para pequenas e médias empresas”.

Entre os exemplos de rochagem, Ferreira citou o pó de basalto, cujo projeto é desenvolvido pela Prefeitura de Uberlândia em parceria com empresas privadas. Além do basalto, em Dores do Indaiá e Patos de Minas existe a opção do verdete, uma rocha potássica.   

No que se refere às oportunidades já existentes no Brasil para reduzir a dependência da importação, segundo o Ibram, também  há o Projeto Silvinita, no Amazonas. Mas a implementação, que vem sendo buscada há vários anos, ainda enfrenta desafios para seu licenciamento, que poderiam ser equacionados no plano interno nacional, por meio de sua priorização como elemento estratégico para a soberania nacional.

Pó de basalto tem resultados positivos, mas depende de aprovação

Pensando na redução da dependência da importação de insumos e no desenvolvimento de uma agricultura sustentável, saudável e com menos defensivos agrícolas, a Prefeitura de Uberlândia vem investindo, desde 2019, em estudos e aplicações do pó de basalto. O produto, em testes, já apresentou resultados positivos na agricultura, incluindo hortifrútis, café e grãos, mas ainda depende de aprovação no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para registro.

No ano passado, a prefeitura lançou o marco fundamental do primeiro Polo Agromineral Verde do Brasil, iniciativa que quer transformar Uberlândia em referência nacional na produção e distribuição dos remineralizadores de solo no País. De acordo com o prefeito de Uberlândia, Odelmo Leão, o município é rico em basalto e a ideia é fomentar a exploração do mineral, a pesquisa e a comercialização do produto que é uma alternativa para a agricultura. 

“Já apresentamos, no início do ano, os documentos para o registro do produto junto ao Mapa e acreditamos que sairá rapidamente. Fizemos testes  com o pó de basalto em Tocantins, Goiás e Minas Gerais e os resultados são muito positivos. O basalto contém potássio, silício, magnésio, cálcio, cobre, manganês, zinco, entre outros, o que leva várias vantagens para a planta. É um produto que vem auxiliar o agro do Brasil. Logicamente, integrando aos demais. Mas, em momento de escassez, o produtor terá uma opção para utilizar em momentos graves, como a falta de produto para a  importação”, afirma. 

Além do basalto, há na região outras rochas, como micaxisto e gnaisse, com potencial para serem utilizadas como remineralizadores ou até em produto composto (blend). No caso do micaxisto, mineral encontrado abaixo do basalto, há maior concentração de  potássio que no basalto.


O desafio da Segurança Energética
O desafio da Segurança Energética

O que é Segurança Energética?

São medidas adotadas para evitar a falta do abastecimento de energia, provocada por fatores como a escassez hídrica e até mesmo dificuldades inerentes aos tipos de fornecimento. Associada a essas medidas está a segurança na disponibilidade de energia adequada, de qualidade e a preços acessíveis.

Quais os próximos eventos sobre Segurança Energética?

“O desafio da Segurança Energética” é um evento on-line gratuito que ocorrerá no dia 16 de março de 2022, a partir das 10h, com transmissão via plataforma Youtube. Na ocasião, profissionais qualificados e renomados do setor discutirão sobre os caminhos a serem percorridos para garantir o fornecimento de energia elétrica seguro.

A Sociedade Mineira de Engenheiros (SME) é a instituição realizadora do evento, que tem correalização do jornal Diário do Comércio — veículo de imprensa de Minas Gerais quase centenário e especializado em economia, gestão e negócios.

Evento sobre energia elétrica
Arte: Diário do Comércio
Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas