Agronegócio

Importações de leite em pó geram apreensão nos produtores de MG

Produto tem sido importado de Argentina e Uruguai em volumes crescentes; Seapa e Cosud vão se reunir com Alckmin
Importações de leite em pó geram apreensão nos produtores de MG
Pecuária leiteira nesse meio de ano sofre ainda mais com custo da alimentação em período seco | Crédito: Adobe Stock

As crescentes importações de leite, principalmente em pó, vindas da Argentina e do Uruguai estão prejudicando severamente a pecuária leiteira de Minas Gerais e do Brasil. Com a maior oferta do produto, os preços no campo estão em queda.

Representantes da cadeia produtiva em conjunto com entidades do governo estadual irão elaborar um documento solicitando ações do governo federal para resolver a situação. A previsão é entregar o documento até o fim deste mês ao vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.

De acordo com o presidente da Comissão de Pecuária de Leite do Sistema Faemg/Senar, Jonadan Ma, os volumes importados estão batendo recordes e já representam cerca de 10% da produção nacional de leite.

“A situação está totalmente extrapolada. Desde agosto do ano passado, as importações vêm aumentando em ritmo acelerado. Agora, em 2023, elas estão batendo recordes mês após mês. Somente nos primeiros 21 dias de junho, foram importadas mais de 28 mil toneladas, um aumento de 150% em relação a junho de 2022. Os meses anteriores também mantiveram esse ritmo exacerbado”, apontou.

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Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, em maio, as importações somaram mais de 208,8 litros em equivalente leite, altas de 42% frente a abril e de expressivos 219% em relação a maio de 2022. As compras realizadas entre janeiro e maio deste ano estão três vezes maiores que as registradas no mesmo período de 2022.

Com o ingresso do leite importado maior a cada mês, Ma ressalta que as importações já representam cerca de 10% da produção nacional.

“É como se entrasse um novo competidor no mercado que produzisse 10% do leite do Brasil. É muita coisa. Isso desregula o mercado interno tanto dos produtores como da industria”.

Ainda segundo Ma, as importações são feitas tanto pelas indústrias como pelo comércio varejista e fabricantes de foods services. O produto entra no Brasil com preços mais competitivos que os da produção nacional. Isso ocorre, segundo Ma, pelos subsídios concedidos pelos governos aos produtores da Argentina e do Uruguai.

Já no mercado brasileiro, os produtores seguem trabalhando com o custo Brasil, que é bem mais elevado. Agora, no meio do ano, a situação complica-se ainda mais. Com o período seco e sem pastagens, os custos com a alimentação do gado ficam ainda mais elevados.

“Na Argentina e Uruguai, de onde vem 90% das importações, as condições de produção são muito mais favoráveis e existe subsídio para produzir leite. Isso permite que eles tenham um leite muito mais barato que o brasileiro. O custo Brasil é mais alto por diversos fatores como a alimentação, medicamentos e produtos importados. Além disso, a logística tem custo muito mais elevado”.

Com o grande volume de leite importado disponibilizado no mercado interno, os preços pagos aos produtores estão em queda. A retração acontece na época de maior custo da produção, o que pode trazer grandes prejuízos para a produção nacional.

De acordo com os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o preço do leite, na média Brasil, foi de R$ 2,72 por litro em maio, queda de 6,2% frente a de abril e 2,2% menor que a de maio de 2022, em termos reais.Em Minas Gerais, o valor médio foi de R$ 2,76, o que representa uma queda de 5,63% frente a abril.

“A importação desenfreada gera muitos problemas, desde o desestímulo à produção nacional até a ociosidade na indústria. Além disso, a dependência da importação é prejudicial. Hoje, o dólar está baixo, mas pode subir a qualquer hora, elevando os preços. Isso vai desestruturar toda a cadeia do leite. Os preços muito baixos vão forçar o produtor a sair da atividade”, explicou Jonadan Ma. .

Ainda segundo Ma, mesmo com o aumento das importações, a queda de preços não tem chegado ao consumidor. “O consumidor não está aproveitando porque o varejo está mantendo o preço e não houve redução. A população está pagando caro e alguém está ganhando muito. O atacado e varejo estão com margem muito grande”, disse.

Para o representante da Faemg, o governo federal não tem dado atenção adequada ao problema enfrentado pelo setor. A solicitação é que seja implantado algum mecanismo de equivalência, como são impostos quando o Brasil exporta para a Argentina e para o Uruguai.

“Queremos que o governo coloque o mesmo nível de equivalência que os vizinhos colocam para os nossos produtos. Quando o Brasil quer exportar, tem muita restrição. Que sejam colocadas limitações para o leite importado. Não estamos proibindo, mas que haja equivalência nas tratativas, principalmente, em relação à questão dos nossos produtos que vão para lá, que são muitos como os requisitos sanitários, de rotulagem, entre outros. Que sejam estabelecidos os mesmos critérios”.

O governo de Minas Gerais, estado que é o maior Estado produtor de leite do País, através da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), em conjunto com o Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud), vai entregar ao vice-presidente Geraldo Alckmin um documento solicitando ações para conter as importações de leite em excesso.

De acordo com o subsecretário de Política e Economia Agropecuária da Seapa, Caio Coimbra, o Cosud tem agenda com Alckmin para falar sobre as importações.

“As proposições estão voltadas para o estabelecimento de cotas de importações. Qualquer negociação bilateral ou em bloco é feita em cotas. A conversa com Geraldo Alckmin, a princípio, vai mostrar que as importações estão muito exageradas, prejudicando a cadeia. A gente quer, através de cotas, que a importação ocorra em um volume que não prejudique tanto a cadeia leiteira”.

Ainda segundo Caio, os secretários de Agricultura do Cosud farão um documento que deve ser entregue ao governo federal até o fim de julho.

“Vamos tentar o pleito junto ao Geraldo Alckmin porque ele é o executivo nacional que tem mais sensibilidade ao agro. Ainda em julho, o documento deve ser entregue. Esperamos que após a entrega do documento, o pleito seja atendido quase de imediato”, disse Coimbra.

O estabelecimento ágil de cotas para a importação de leite será importante para os produtos: “Se até meados de agosto a gente tiver uma solução, o produtor terá uma folga financeira ainda na entressafra, que vai até outubro/novembro, com a retomada das chuvas e recomposição das pastagens”.

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