Agronegócio

Intoxicação: entidade de cavalos Mangalarga teme que problema seja ainda maior

Associação pede que criadores manifestem casos ao Mapa. Sintomas podem aparecer até seis meses após consumo de ração
Intoxicação: entidade de cavalos Mangalarga teme que problema seja ainda maior
Foto: Divulgação/ABCCMM

Os sintomas de intoxicação e, por consequência, os danos em cavalos que consumiram ração contaminada podem aparecer até seis meses após a exposição ao alimento, segundo a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM).

Por isso, o número de animais mortos pode ultrapassar os 284 óbitos de equinos confirmados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas, nesta quarta-feira (23).

A afirmação foi feita pela presidente da ABCCMM, Cristiana Gutierrez, ao Diário do Comércio, também nesta quarta, durante evento da 42ª Exposição Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador, que ocorre na Gameleira, em Belo Horizonte.

“É preciso que os criadores comuniquem as perdas ao Mapa. Não sabemos ainda a real extensão do problema porque os sintomas podem aparecer até seis meses pós-consumo”, declarou Cristiana Gutierrez, que também é presidente da Comissão Nacional de Equideocultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Número de óbitos em Minas ainda não foi divulgado

A presidente também relatou que a ABCCMM acompanha a situação de perto e que a entidade apresentou um ofício à Procuradoria-Geral de Justiça, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), para que medidas cabíveis sejam acertadas.

Ela lembrou que a situação afeta diretamente Minas Gerais com diversos casos, mas que o número exato de vítimas animais ainda é desconhecido.

“Nós tivemos muitos criadores prejudicados e com perdas de animais. Não temos um levantamento preciso, não somos órgão de inspeção. Então, o que temos feito é apoiar os associados no sentido de pedir providências”, explicou ao Diário do Comércio.

Produção de ração segue interditada

Nesta quarta, o Mapa informou que o número de cavalos mortos após o consumo de rações da empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda subiu para 284. A pasta também pontuou que a decisão judicial que permitia, de forma parcial, a retomada da produção e comercialização de rações não destinadas a equídeos foi revogada.

Com isso, volta a valer a suspensão cautelar imposta pelo Mapa, que proíbe a fabricação de rações para todas as espécies animais.

A interdição segue vigente até que a empresa comprove a correção de todas as irregularidades apontadas pela fiscalização, o que ainda não ocorreu, de acordo com o ministério.

Substância tóxica presente na ração

As investigações conduzidas pelo Mapa indicam que a contaminação teve origem em falhas no controle de matérias-primas com a presença de resíduos de plantas do gênero Crotalaria, que contêm alcaloides pirrolizidínicos como a monocrotalina, uma substância hepatotóxica e proibida na formulação de rações.

Conforme a pasta, a substância altera o DNA celular e causa danos ao fígado dos animais, com efeitos que variam conforme a dose, o tempo de exposição e as condições clínicas dos equinos.

O ministério ainda aguarda o resultado de análises de outros lotes de ração e de matérias-primas utilizadas na produção. A pasta afirmou que seguirá apurando o caso e que manterá a sociedade informada.

Entenda o caso

O Mapa recebeu, em 26 de maio, uma denúncia via plataforma Fala.BR relatando mortes de cavalos no interior de São Paulo. Quatro dias depois, fiscais estiveram em uma propriedade em Elias Fausto (SP) e identificaram suspeita de contaminação na ração fornecida aos animais.

Inspeções realizadas entre os dias 2 e 4 de junho na fábrica da Nutratta revelaram falhas nos processos de produção e controle de qualidade. Novas denúncias foram registradas e, em todos os casos investigados, os equinos que adoeceram ou morreram consumiram produtos da empresa. Já os animais que não ingeriram a ração permaneceram saudáveis, mesmo quando alojados nos mesmos ambientes.

Em 25 de junho, laudos laboratoriais confirmaram a presença de monocrotalina nos produtos. A partir disso, o Ministério determinou a suspensão imediata do consumo das rações da Nutratta, instaurou processo administrativo, manteve a interdição e iniciou o recolhimento dos lotes contaminados.

O que diz a Nutratta

O Diário do Comércio entrou em contato com a Nutratta sobre o assunto e aguarda retorno.

Quando houve o recolhimento dos lotes de rações pelo Mapa, a empresa se pronunciou sobre o caso. Na época, a empresa informou que estava realizando investigações de campo para esclarecer os fatos e que estava colaborando integralmente com os trabalhos da pasta.

“A Nutratta está tratando os fatos com extrema seriedade e se solidariza com todos os criadores que foram impactados nesse momento difícil”, declarou a empresa na época.

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