Agronegócio

Juros altos, endividamento e atrasos provocam queda na demanda pelo crédito rural em Minas

Em Minas Gerais, nos primeiros dois meses da safra 2025/26, baixa nas contratações foi de 24%, terminando período com R$ 8,28 bilhões
Juros altos, endividamento e atrasos provocam queda na demanda pelo crédito rural em Minas
Na linha de custeio, por exemplo, foram liberados R$ 3,59 bilhões para a agricultura, 10,6% a menos, de acordo com a Seapa Foto: Inae Riveras / Reuters

Os juros mais altos combinados com a indisponibilidade de recursos e o maior endividamento do produtor rural estão interferindo de forma negativa na demanda pelo crédito rural em Minas Gerais. Nos primeiros dois meses da safra 2025/26 houve queda de 24% nas contratações, que encerraram o período em R$ 8,28 bilhões. A queda também foi observada em nível nacional, 35%, com o desembolso de R$ 66,6 bilhões. Minas Gerais respondeu por 12% da demanda pelo crédito disponibilizado no Plano Safra 2025/2026.

Entre julho e agosto, o número de contratos aprovados somou 39.622, volume que ficou estável em relação ao mesmo período da safra passada. Conforme a assessora técnica do Sistema Faemg Senar, Aline Veloso, vários fatores estão interferindo no acesso do produtor rural ao crédito concedido pelo governo federal.

“Os juros mais altos neste plano agrícola, a indisponibilidade de recursos nas instituições financeiras – dada a demora, em julho, da publicação da portaria autorizativa para equalização das taxas de juros pelas instituições financeiras credenciadas a operar – e o aumento do custo de produção para diversas atividades produtivas, podem ter levado os produtores a demandarem menor crédito”.

Aline ressalta ainda que outro ponto muito importante a ser considerado é o aumento do endividamento do produtor rural, que pode ter comprometido a possibilidade de acesso ao novo crédito.

“O endividamento pode ter comprometido a situação do produtor rural ao buscar o crédito, uma vez que há uma avaliação financeira. É importante ter uma atenção especial para uma possível apresentação de mais garantias pelo produtor, isso também pode ter levado o produtor, já tendo garantias comprometidas em outros Planos Safras, a diminuir o apetite pelo crédito nesse início do ano agrícola”.

Queda em todas as linhas do crédito rural

Conforme os dados da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), entre as linhas, as contratações do crédito rural para o custeio somaram R$ 6,12 bilhões, queda de 11%. Para a agricultura, foram liberados R$ 3,59 bilhões, 10,6% a menos. Na pecuária a queda chegou a 10,9%, somando 2,53 bilhões. Ao todo, os contratos aprovados somaram 20.446 unidades, resultando, então, em uma queda de 9%.

Entre os produtos, a maior parte dos recursos do crédito de custeio destinado para a agricultura foi aplicado no café, R$ 1,3 bilhão, seguido pela soja, R$ 608,95 milhões, milho, R$ 186,95 milhões, e cana-de-açúcar, com R$ 54,45 milhões. No caso da pecuária, a produção de bovinos demandou R$ 1,14 bilhão, seguido pela produção de suínos, com R$ 61,14 milhões, e avicultura, com R$ 40,03 milhões.

Assim como na linha de custeio, os desembolsos para investimentos e comercialização também recuaram. No caso dos recursos totais para investimentos a queda foi de 41% e somou R$ 1,29 bilhão contratados, ante os R$ 2,19 bilhões desembolsados no mesmo período da safra passada. Para a agricultura, foram demandados R$ 800 milhões, retração de 42%. Para a pecuária houve a destinação de R$ 480 milhões,40% a menos.

“A queda na linha de investimento nos leva a considerar que os produtores estão mais receosos em carregar uma taxa de juros mais alta ao longo do tempo, dado que contratos de investimento são de longo prazo. A principal causa é o aumento da taxa Selic que diminui essa capacidade de investimento dos produtores”, explicou Aline.

A linha de comercialização também registrou redução nas liberações. No Estado, os desembolsos chegaram a R$ 430 milhões, queda de 65%. Na agricultura houve queda de 72% no valor com a contratação de R$ 350 milhões. Nesta linha, a pecuária apresentou resultados positivos, com um desembolso 291% maior que o registrado em julho de 2024 e somando R$ 90 milhões.

“No caso da pecuária, o aumento pode ser justificado pela demanda de produtores para terem um fôlego no desenvolvimento das suas atividades produtivas, agregando maior valor à produção”.

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