Juros e indisponibilidade de recursos derrubam desembolsos
O aumento das taxas de juros das linhas de financiamento do crédito rural e a indisponibilidade de valores nas entidades bancárias têm provocado queda na demanda pelos recursos do Plano Safra 2025/26. Nos primeiros cinco meses da safra 2025/26, os desembolsos do crédito rural para Minas Gerais recuaram 16%, atingindo R$ 24,3 bilhões. Com o resultado, a participação de Minas Gerais no total nacional foi de 15% em 2025, uma vez que, em nível nacional, as contratações dos recursos somaram R$ 159,6 bilhões, queda de 31%
No total, Minas Gerais registrou 125.238 contratos de crédito rural entre julho e novembro de 2025, um aumento de 2% em comparação com os 122.429 contratos do mesmo período de 2024. Na atividade agrícola, o valor desembolsado diminuiu 17%, saindo de R$ 19,79 bilhões em 2024 para R$ 16,50 bilhões em 2025. Nos primeiros cinco meses da safra, o valor destinado à pecuária reduziu 15%, somando R$ 7,53 bilhões.
Conforme a assessora técnica do Sistema Faemg Senar, Aline Veloso, vários fatores têm desestimulado a busca pelo crédito rural. “O que temos observado nesse período do Plano Safra 2025/26 é a diminuição, mês a mês, da aplicação do crédito rural oficial, muito pelo aumento das taxas de juros das linhas de financiamento e pela indisponibilidade desses recursos. O apetite fica restrito e comprometido, dado que o produtor não quer carregar a taxa de juros nos contratos de investimento e, por isso, tem buscado, por exemplo, consórcios para adquirir máquinas e equipamentos e também a utilização de capital próprio”.
Diante dos desafios enfrentados pelos produtores rurais em relação ao acesso ao crédito, o capital privado tem sido um importante complemento para o financiamento do campo: “Temos observado a aplicação do crédito privado no setor produtivo e para a agroindustrialização, bem como a prática de barter”.
Ainda de acordo com Aline Veloso, um ponto importante de destaque nesse ano de 2025 é a vigência, desde janeiro, da Resolução 4966 do Conselho Monetário Nacional que mudou o modo como as instituições financeiras fazem o provisionamento de perdas das suas carteiras: “Nesse ano, o setor está com sua saúde financeira debilitada e isso tem criado ainda mais dificuldade para o produtor acessar o crédito, além da apresentação de mais garantias às instituições financeiras”.
As dificuldades enfrentadas pelos produtores ao longo das últimas safras – como condições climáticas desfavoráveis, oscilações de preços das commodities – também têm aumentado a inadimplência no campo. Dados do Banco Central, a inadimplência do crédito rural está em 11,4%, maior da série histórica desde que começou a ser medida em 2011. Por isso, segundo a assessora, o setor precisa de atenção.
“É preciso entendimento pelo governo de que atenção especial ao setor produtivo é fundamental para continuarmos a produzir, com juros mais adequados e disponibilidade efetiva do crédito, bem como orçamento para o seguro rural, diante das implicações das adversidades climáticas”, analisou.
Desembolsos do crédito rural caem nas principais linhas do Plano Safra 2025
Nos cinco primeiros meses da safra 2025/26, Minas Gerais registrou queda de 12% nos recursos liberados do crédito rural para o custeio das safras. Ao todo, foram liberados R$ 15,02 bilhões, ante os R$ 17,12 bilhões registrados em igual período de 2024 . A participação de Minas Gerais no custeio nacional foi de 16% em valor.
No custeio agrícola, houve uma redução de 13% no valor, saindo de R$ 10,8 bilhões para R$ 9,46 bilhões. Na pecuária, o valor chegou a R$ 5,56 bilhões, queda de 12%.
Em novembro de 2025, o café representou a maior parcela do valor de custeio para a lavoura em Minas Gerais, com R$ 735,42 milhões contratados e 61% de participação. Em seguida, vieram o alho com R$ 81,60 milhões (14%), soja, R$ 80,50 milhões, e milho, R$ 72,67 milhões. Na pecuária a maior demanda foi em bovinos, R$ 656 milhões, seguido por suíno, R$ 12,36 milhões, e avicultura, R$ 14,86 milhões.
Assim como na linha de custeio, a demanda na de comercialização também recuou. Em Minas Gerais o valor total de crédito para comercialização das safras diminuiu 18% e chegou a R$ 3,15 bilhões. Os produtores também buscaram menos recursos para investir, uma vez que foram liberados R$ 4,38 bilhões, queda de 31%
O valor total para industrialização, no entanto, apresentou um aumento de 13%, passando de R$ 1,31 bilhão em 2024 para R$ 1,48 bilhão em 2025.
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