Agronegócio

Lotes brasileiros de carne bovina são impedidos de entrar na China

Lotes brasileiros de carne bovina são impedidos de entrar na China
Caso embargo não seja retirado, carregamentos de carne podem ser redirecionados a outros destinos | Crédito: Paulo Whitaker/Reuters

São Paulo – Os primeiros lotes de carne bovina brasileira enviados à China após um embargo anunciado há mais de 50 dias chegaram ao destino e foram impedidos de entrar, frustrando exportadores que estavam confiantes de que poderiam ingressar com produtos certificados antes da suspensão por casos atípicos da doença “vaca louca”, conforme fontes e analistas ouvidos pela Reuters.

Parte da indústria ainda acreditava que o embargo cairia enquanto as cargas estivessem sendo transportadas, e agora sofre o impacto de maiores custos logísticos. Se uma liberação não for breve, é possível que novos contêineres se acumulem nos portos chineses, uma vez que o Brasil exportou volumes recordes em setembro, sendo mais da metade à China.

O embargo foi estabelecido após o Ministério da Agricultura brasileiro confirmar, no dia 4 de setembro, a ocorrência de dois casos atípicos da doença Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como “vaca louca”, que desencadeou a suspensão automática de exportações da proteína à China em cumprimento a um protocolo para a situação.

Caso o embargo não seja retirado, os carregamentos podem ser redirecionados a outros mercados. Este risco havia sido antecipado em reportagem da Reuters publicada no mês passado.

Notícias circularam no mercado de que um lote de Tocantins havia sido liberado no porto de Xangai, na véspera. Procurado, o Ministério da Agricultura disse à Reuters que não tinha informações sobre o assunto.

Ontem a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, reforçou em entrevista à TV CNN Brasil que a pasta não possui informações oficiais relacionadas ao tema e ressaltou que a China não liberou a entrada de nenhum contêiner brasileiro da proteína bovina após o embargo.

A ministra ainda disse que o Brasil segue em contato com as autoridades chinesas, mas não há nada definido, e espera que as exportações sejam restabelecidas o mais rápido possível. Questionada, a alfândega da China não respondeu de imediato a um pedido de comentários.

“Algumas cargas minhas foram produzidas em agosto, certificadas antes da suspensão, mas saíram depois do dia 4, e quando chegaram lá o importador fala que não pode fazer o desembaraço”, disse um exportador à Reuters na condição de anonimato.

Ele afirmou que enviou, ao todo, 22 contêineres com destino à China nestas condições, com 27,5 toneladas de carne em cada, totalizando cerca de 600 toneladas. Os primeiros lotes começaram a chegar no dia 11 de outubro e há desembarques previstos até o dia 29.

“A carga que já chegou está lá parada. Os contratos de exportação costumam deixar permanecer no pátio sem custo entre 11 e 14 dias, dependendo da companhia marítima. A partir disso, começa a ser cobrada uma diária que nós já vamos começar a pagar”, disse ele.

Segundo o executivo, autoridades do Ministério da Agricultura estão, primeiramente, tentando solucionar a questão das cargas rejeitadas pelos chineses, além de negociar o fim do embargo.

Por isso, ele disse que pretende aguardar mais um pouco antes de redirecionar os lotes, na expectativa de que haja uma solução que permita a entrada da carne na China.

“Muitas empresas continuaram com os embarques porque imaginaram que a suspensão seria retirada antes da chegada das cargas, o que não aconteceu… A gente acredita que vai resolver, só não sabemos em quanto tempo, vai chegar uma hora que não vai compensar ficar no pátio. A questão agora é financeira”.

Na visão da Minerva Foods, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, a demora acima do esperado na retomada de compras pela China tem como “pano de fundo” questões que extrapolam o acordo sanitário entre os dois países e incluem “ruído político” e estoques de proteína maiores no país asiático, disse um executivo da empresa em evento ontem.

A expectativa inicial era de que o fim dos embargos ocorresse em cerca de 15 dias, como em 2019, quando o Brasil registrou casos atípicos da EEB.

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