Mecanização em pequenas áreas garante menor custo
A produção do abacaxi demanda cuidados constantes desde o plantio até a colheita. No Triângulo Mineiro, uma das dificuldades enfrentadas é a oferta de mão de obra, que é escassa e cara.
O gargalo que é enfrentado por muitos agricultores serviu de estímulo para o produtor rural Wagner Guidi, que ao enfrentar dificuldades nos tratos com a cultura, decidiu desenvolver máquinas e equipamentos que permitissem a mecanização da cultura.
Guidi fundou a Motoagro, que tem sede em Frutal, e já desenvolveu diversas máquinas voltadas para o abacaxi e também para outras produções como o café e a cana-de-açúcar.
“Comecei a plantar abacaxi em 1984, mas depois de alguns anos, parei devido à falta de retorno. Por volta de 1997 e 1998, plantei novamente. A área era pequena e eu tinha apenas um funcionário. O trabalho era muito grande e decidi desenvolver uma moto para pulverizar o abacaxi”, conta o agricultor/inventor.
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A moto para a pulverização deu certo e por agilizar os trabalhos na cultura atraiu a atenção dos vizinhos. “Meus vizinhos que enfrentavam o mesmo problema começaram a pedir para que eu fabricasse para eles também. Então, comecei a trabalhar no barracão da fazenda”.

A primeira máquina desenvolvida – o Trator Motoagro – agilizou os processos da cultura. Com ela, os produtores de abacaxi mecanizaram a pulverização, a adubação e passaram a fazer as podas.
“Com o tempo, fui melhorando os implementos. Para o abacaxi, consegui desenvolver também as plantadoras para as mudas, a PMA 1500 e a PMA 1800. A máquina conta com uma caixa para transportar as mudas, com adubadeira e pulverizador. Ela foi desenvolvida para agilizar e padronizar o plantio de mudas, com profundidade e distância corretas, sendo de 30 centímetros até 50 centímetros. A máquina conta com um sistema de compressão das mudas no solo, não deixando bolha de ar”, explica.
Também foi desenvolvido um cultivador. O implemento, segundo Guidi, é acoplado ao Trator Motoagro 220, e é usado na lavoura de abacaxi para a eliminação de ervas daninhas e nivelamento do solo. Com essas ações de combate às ervas daninhas, é possível retardar o uso de herbicidas.
O trabalho de Guidi fez diferença na região e ajudou os produtores a otimizarem os tratos e a reduzirem os custos, que são importantes para a continuidade da produção de abacaxi na região.
“A oferta de mão de obra é pequena na região, o trabalho é pesado e demanda muito tempo, gerando custos altos. Se não fossem as máquinas, muitos produtores já teriam parado. Hoje, o produtor consegue ter rentabilidade porque as máquinas agilizam o processo e substituem de 10 a 12 pessoas no trabalho. Em muitas das plantações de abacaxi da região, o produtor trabalha sozinho ou com a família, sem as máquinas, não sobreviveria na atividade”.
Plantação tem 38 mil plantas em 15 hectares de terra
Há cerca de 25 anos, o produtor rural Romes Silva Faria produz abacaxis no município de Frutal. Em um espaço arrendado de 15 hectares, estão em cultivo 38 mil plantas. Hoje, a produção é desenvolvida juntamente com o filho, Felipe Faria, e mais um funcionário.
“Comecei a plantar abacaxi há muito tempo, cerca de 25 anos atrás. Escolhi a fruta por ser uma cultura que podemos desenvolver em áreas pequenas e que traz resultados financeiros bons. Hoje, temos uma área pequena de 15 hectares e 38 mil plantas. Então, conseguimos manter. A produção é dia e noite, é árdua, mas prazerosa”, conta Faria.
Com a cultura irrigada e com o manejo bem aplicado, ao ano, a produção gira em torno de 500 mil pés e são feitas duas colheitas: uma em junho/julho e outra, em dezembro/janeiro.
O plantio escalonado do abacaxi permite que haja duas colheitas anuais, uma vez que o ciclo de cada planta é de 18 meses. Manter a atividade é desafiador, a produção, segundo Faria, enfrenta gargalos, como o clima, doenças, variações de preços no mercado e a venda é feita por atravessadores.
“Ao ano, são cerca de 500 mil pés e a perda gira em torno de 20%. Então, comercializamos uma média de 400 mil frutas. Por não termos uma oferta constante, dependendo do atravessador para colocar nosso produto no mercado”.
Entre os outros desafios, Faria destaca o maior aparecimento de pragas: “A fusariose é complicada e está querendo acabar com a gente. Mas sou apaixonado pela cultura e mesmo com todas as dificuldades, a gente vai insistindo. Temos muitos desafios, dependemos muito da natureza e é normal ter os contratempos”.
A assistência técnica, segundo Faria, ajudou a melhorar os resultados e estimulou os investimentos na mecanização: “O acompanhamento técnico é muito importante. Com ele, vamos renovando as técnicas e melhorando a produção. Antes, nosso trabalho era todo braçal, mas agora, estamos mecanizando”.
A mecanização da cultura é vista como uma importante forma de reduzir os custos, agilizar os serviços e reduzir o uso da mão de obra. “O custo com a mão de obra é muito elevado e com a mecanização estamos evoluindo. Os equipamentos que usamos foram desenvolvidos na cidade e ajudam demais”.

A máquina utilizada pelo produtor aplica fertilizantes, defensivos e faz podas, gerando uma grande economia de tempo e de mão de obra.
“Para pulverizar nossa área, sem o trator levaríamos 12 dias, com um gasto de R$ 1.200 em média. Mas, hoje, fazemos o mesmo serviço em meio dia e gastando em torno de R$ 200. A mecanização barateia muito o custo da lavoura”, finaliza o produtor.
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