Agronegócio

MG tem 5 das 8 cidades mais premiadas do maior concurso de queijo da América; confira quais

Itanhandu se destaca na Expoqueijo 2025 com quatro medalhas de ouro e reforça liderança de Minas na produção de queijos artesanais premiados
MG tem 5 das 8 cidades mais premiadas do maior concurso de queijo da América; confira quais
Foto: Divulgação / Laticínio Pérola da Serra

Minas Gerais mais uma vez reafirmou sua posição de destaque no cenário queijeiro nacional e internacional. Na edição 2025 da Expoqueijo, uma das maiores vitrines mundiais de queijos artesanais, cidades mineiras conquistaram posições de liderança entre os premiados com medalha de ouro — reconhecimento máximo do evento.

A cidade de Itanhandu, no Sul de Minas, foi uma das grandes vencedoras, conquistando quatro primeiros lugares, mesmo número de Autazes (AM), com queijos de excelência produzidos na região da Serra da Mantiqueira. Sacramento, Piumhi, Manga e Alagoa também figuraram entre as cidades mineiras premiadas com o primeiro lugar, com dois títulos cada.

Veja as cidades mais premiadas com medalha de ouro na Expoqueijo 2025:

  • Itanhandu (MG): 4 primeiros lugares
  • Autazes (AM): 4 primeiros lugares
  • Sacramento (MG): 2 primeiros lugares
  • Piumhi (MG): 2 primeiros lugares
  • Manga (MG): 2 primeiros lugares
  • Alagoa (MG): 2 primeiros lugares
  • Lajeado Grande (SC): 2 primeiros lugares
  • Brasília (DF): 2 primeiros lugares

Queijaria de Itanhandu leva dois ouros 

A queijaria Pérola da Serra, uma dos protagonistas da vitória de Itanhandu, é comandada pelo médico veterinário Carlos Alberto Cunha e sua família. A marca recebeu duas medalhas de ouro, com os queijos flor de leite (mussarela italiana feita com leite de búfala) e pedra da mina (tipo parmesão). 

“A Expoqueijo é a Copa do Mundo do queijo. Ser premiado nesse concurso é um orgulho. A gente faz o queijo para o cliente, com o mesmo cuidado e qualidade que vai para o concurso”, diz Carlos.

Ele relata que a produção começou após conhecer um criador de búfalas em Oliveira e se encantar com a espécie. “Disseram que búfala era selvagem, mas trouxemos pra cá e deu certo. Aprendemos com um professor italiano, e hoje somos referência na produção de queijos de búfala no Sul de Minas”, conta. A família possui selo Arte e comercializa para diversos estados.

Queijo Flor de Leite, da fazenda Laticínio Pérola da Serra, vencedor da Expoqueijo 2025
Foto: Divulgação / Laticínio Pérola da Serra

Carlos Alberto acrescenta que as premiações também ajudam a educar o consumidor. “Quando um queijo ganha medalha, quem está dizendo que ele é bom não somos nós, são os jurados. Isso desperta interesse e confiança.”

Além do reconhecimento na Expoqueijo, a Pérola da Serra também foi eleita a melhor queijaria de Minas Gerais no Prêmio Queijo Brasil, em Blumenau. “Recebemos três ouros e uma prata. É um orgulho imenso ver nossa dedicação recompensada”, diz Carlos.

Um pecorino mineiro entre os melhores do mundo

Outro destaque da cidade foi “pecorino mineiro” do produtor Luiz Antônio Guimarães, conhecido como Mestre Queijeiro Tuca. Ele foi premiado com medalha de ouro por seu queijo, feito com leite de ovelha. “Eu esperava algum bom resultado, mas não a medalha de ouro. Foi uma surpresa muito grande. Ganhamos até dos queijos italianos”, contou.

Com formação em Tecnologia de Alimentos e especializações em instituições renomadas no Brasil e na Europa, Tuca contou que a tradição familiar foi o ponto de partida para a queijaria. “A gente começou há 14 anos com minha esposa. Hoje vendemos para todo o Brasil e estamos nos preparando para exportar”, afirma.

Ele explica que o queijo é feito com leite de ovelha e segue receita tradicional italiana adaptada ao terroir da Serra da Mantiqueira. “O nosso queijo tem denominação de origem e é produzido artesanalmente. A gente segue a receita do parmesão, mas com o toque mineiro e ingredientes locais. Esse reconhecimento mostra que estamos no caminho certo”, afirma.

Após a premiação, a procura pelos produtos disparou. “Hoje temos fila de espera com mais de 45 pedidos. A Expoqueijo, pra mim, é o torneio mais difícil e mais importante do mundo. E ganhar uma medalha aqui muda tudo”, revela Tuca.

Queijo Pecorino Mineiro Almeida Guimarães, da fazenda Recanto Santa Maria, vencedor da Expoqueijo 2025
Foto: Divulgação / Recanto Santa Maria

Ineditismo – Vale ressaltar que, pela primeira vez, o Brasil conquistou o Prêmio Super Ouro da ExpoQueijo Brasil. O vencedor da edição 2025 foi o Queijo Pedra do Segredo, produzido pela Queijaria Pedra do Segredo, de Alagoa, no Sul de Minas.

O produto concorreu na categoria queijo de leite cru, casca lisa e/ou lavada, com ou sem aquecimento, acima de 180 dias de maturação, e obteve a maior pontuação entre as mil amostras inscritas por 16 países.

Reconhecimento que valoriza e impulsiona

O presidente da Associação dos Produtores de Queijo Artesanal Mantiqueira de Minas (Apromam), Carlos Henrique Lamim, destacou o impacto da premiação para a região. 

“Esse tipo de reconhecimento acelera o posicionamento dos queijos da Mantiqueira como produtos de excelência. Já temos casos de produtores que vendiam queijo a R$ 35 o quilo e hoje comercializam a R$ 60 ou R$ 65, agregando valor e profissionalizando o setor.”

Segundo ele, o apoio técnico de instituições como Sebrae, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MG) tem sido decisivo para transformar pequenos produtores em empresários rurais com renda digna e futuro no campo. 

“Antes tínhamos produtores sobrevivendo. Hoje temos empreendedores rurais que mandam os filhos para a faculdade”, completou.

Minas é tradição, inovação e excelência

Para a assessora técnica da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Letícia Fonseca Ferreira, a tradição mineira é um dos pilares da excelência. “O modo de fazer, o tipo de pastagem, os microclimas e as bactérias específicas de cada região dão ao queijo mineiro um sabor único, com identidade própria”, relata.

Segundo ela, a Seapa apoia diretamente o reconhecimento dessas regiões. “Itanhandu faz parte da denominação de origem Mantiqueira de Minas. O processo envolve estudo de campo, análise do clima e da produção, e a criação oficial das regiões queijeiras. São 16 regiões produtoras reconhecidas oficialmente. É uma riqueza enorme”. 

A assessora técnica afirma ainda que o impacto econômico da produção de queijos artesanais é enorme. “Tem cidades que sobrevivem disso. É uma forma de manter os jovens no campo, evitar o êxodo rural e fortalecer a economia local”, explica. 

Ela reforça também que os prêmios valorizam o produto, mas o que garante a comercialização interestadual ou até internacional são os selos de inspeção como o Arte, o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI) e o Selo de Inspeção Federal (SIF). 

“A medalha agrega valor, mas o selo garante segurança jurídica para comercializar no Brasil ou exportar. Por isso incentivamos a regularização”, diz.

Selo Arte e mercados ampliados

A conquista de medalhas na Expoqueijo não apenas aumenta a visibilidade dos queijos mineiros, mas também abre portas para novos mercados. Com o selo Arte, os produtores podem vender para outros estados. E aqueles com certificação do Ministério da Agricultura podem até exportar. 

“É uma chancela de qualidade. Quando o consumidor vê uma medalha no rótulo, ele sabe que está levando um produto diferenciado”, diz Letícia Ferreira.

Minas mostra, mais uma vez, que tradição, cuidado artesanal e inovação podem caminhar juntos para transformar o campo em um negócio competitivo e de prestígio global. Com Itanhandu e outras cidades premiadas liderando esse movimento, o estado se consolida cada vez mais como a capital do queijo artesanal do Brasil — e, por que não, do mundo.

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