Ministério prevê “luta difícil” por recursos para o Plano Safra

São Paulo – Com pouco mais de um mês no cargo, o ministro da Agricultura do Brasil, Marcos Montes, prevê uma “luta difícil” pela frente para conseguir recursos do Tesouro ao Plano Safra 2022/23 que possam garantir maiores financiamentos e juros abaixo de dois dígitos, enquanto inicia nesta semana uma viagem ao Norte da África e Oriente Médio na chamada “diplomacia dos fertilizantes”.
Se no plano externo a ideia é “peregrinar” juntamente com o setor privado para “abrir portas” para maiores importações de fertilizantes, em um ambiente de custos crescentes e oferta escassa, no interno o ministro buscará formas de ampliar os financiamentos no âmbito do plano governamental para a próxima safra, que exigiria R$ 300 bilhões.
Em entrevista à Reuters, ele explicou que este é o montante estimado para fazer frente a demandas da agropecuária.
“Precisamos bater nesses R$ 300 bilhões, vamos tentar…”, disse ele, em entrevista por teleconferência na noite de segunda-feira.
No plano anterior, a oferta total de financiamentos prevista foi de R$ 251 bilhões, enquanto as operações com juros mais baixos, subsidiados pelo Tesouro, chegaram a ser suspensas neste ano devido à alta demanda – apenas na semana passada o Congresso deu aval a um crédito adicional para destravar tais empréstimos.
Segundo o ministro, que assumiu o posto em substituição à Tereza Cristina, que deixou o cargo para concorrer ao Senado, considerando que o Tesouro destinou R$ 13 bilhões para a chamada “equalização” de juros em 2021/22, a nova safra, com plantio a partir de setembro, precisaria de equivalentes R$ 20 bilhões.
“Para acompanhar a mesma situação do ano passado, é uma luta difícil, temos o ajuste fiscal, tem que cortar de algum lugar, ninguém quer que corte, mas (a agropecuária) é um setor importantíssimo para o País, e o presidente Jair Bolsonaro tem recomendado que o plano seja robusto”, afirmou.
Montes, ex-secretário-executivo da Agricultura, disse que após o “destravamento” do Plano Safra 2021/22, com a aprovação de um crédito extraordinário de R$ 868 milhões na semana passada, o foco se voltou agora para as discussões do futuro programa, cujos valores começam a ser debatidos.
Na segunda-feira, o ministro manteve reuniões com representantes de mais de cem cooperativas, antes de falar com a Reuters, e ainda se encontraria com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, para tratar do apoio do banco de fomento ao Plano Safra.
Ele disse que o ministério está “pronto” a discutir o Plano Safra com o mais alto nível do governo, como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com a Frente Parlamentar Agropecuária. Ele afirmou ainda que a Caixa Econômica Federal quer participar mais do financiamento da agricultura.
Um dos desafios é o juro, que varia de acordo com a modalidade de financiamento. No plano anterior, quando a Selic estava em 4,25% na época do anúncio, os pequenos produtores tiveram taxas no mesmo patamar nos programas de custeio e comercialização.
Mas a atual Selic em 11,75%, com viés de alta na reunião do Copom nesta semana, faz com que o ministro persiga uma taxa abaixo de dois dígitos para o Plano Safra.
Ele lembrou ainda que, se o plano for muito ousado em termos de juros mais baixos, acaba perdendo em volume de recursos.
“Os juros, quando joga tudo dentro de uma caixa só, é tudo muito relativo… quanto mais baixo, menos recurso você tem. Se o juro for mais alargado, atende mais gente”, disse, lembrando que as taxas de mercado estão se aproximando de 20% ao ano.
“Espero um equilíbrio, gostaria que fosse abaixo dos dois dígitos, essa é a expectativa que nós temos”.
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