Mulheres no agronegócio: presença ganha força

O protagonismo das mulheres no agronegócio tem crescido nos últimos anos. No Brasil, são quase 1 milhão de estabelecimentos rurais dirigidos por elas. Em Minas Gerais a atuação também é crescente e relevante. Conforme o Observatório das Mulheres Rurais do Brasil, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no Estado, são quase 87 mil estabelecimentos rurais comandados pelas mulheres.
Em Minas Gerais, para estimular e fortalecer a atuação das mulheres nos negócios rurais, o Sistema Faemg Senar conta com a Comissão Faemg Mulher. De acordo com a presidente da comissão e pecuarista, Lilian Laughton, as integrantes do grupo atuam em variadas regiões do Estado.
“A comissão conta com 10 integrantes em regiões diferentes do Estado. Em cada região, a integrante atua incentivando a formação de núcleos de mulheres nos sindicatos rurais locais e na capacitação dessas mulheres de acordo com a necessidade de cada região”.
Desenvolvimento no agronegócio
Com o auxílio, cada vez mais mulheres estão atuando na atividade agrícola e pecuária de Minas Gerais. Os resultados são positivos. “Essas mulheres vêm assumindo papéis de liderança na gestão das propriedades rurais, utilizando suas habilidades de organização e administração, para aumentar a eficiência e a rentabilidade das atividades agrícolas”.
Lilian explica que a presença feminina traz uma diversidade de abordagens, perspectivas e habilidades, enriquecendo o setor agrícola e impulsionando a inovação e o desenvolvimento sustentável.
“Essas tendências refletem não apenas em uma mudança na composição demográfica do agronegócio, mas também um reconhecimento crescente do papel fundamental das mulheres na sustentabilidade no desenvolvimento do setor agrícola em Minas Gerais”.
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Mulheres em atividades diversas
Conforme os dados do Observatório das Mulheres Rurais do Brasil, a atuação das mulheres no agronegócio é pulverizada. Nos 30 milhões de hectares em nível nacional e no 3 milhões em Minas Gerais, as mulheres administram propriedades voltadas para a pecuária e criação de outros animais. Há também a presença delas na produção de lavouras temporárias e permanentes, na horticultura e floricultura, na produção florestal nativa e plantada. Elas também estão presentes na aquicultura, produção de sementes e mudas e também na pesca.
Mulher a frente do premiado Azeite Monasto
No Estado, além das atividades tradicionais, como os grãos, o café e os queijos, as mulheres estão se despontando também na produção de azeite. A capacidade de olhar os detalhes, entender a natureza e administrar várias funções são diferenciais que a advogada, Rosana Chiavassa, possui e que vem contribuindo para que a produção do Azeite Monasto seja um sucesso, inclusive com a conquista de diversos prêmios internacionais.

Rosana, que é advogada em São Paulo, iniciou a produção em 2019, apaixonada pelas oliveiras, ela resolveu empreender. Assim, adquiriu a fazenda Santa Helena, em Maria da Fé. A propriedade tinha um olival pronto, com cerca de 20 anos.
“Nunca tive qualquer proximidade com o agronegócio, tinha com o campo. Entrei no mundo do agro pelo romantismo de ter um olival. Tinha uma oliveira no escritório desde 2010, mas enxergar uma produção é totalmente diferente de ter um vaso. Sou advogada, workaholic, trabalho sem parar. Me encantei e, romanticamente, fui atrás de uma propriedade. Fui agraciada pela propriedade ter as oliveiras com quase 20 anos. Isso facilitou muito para eu ter o azeite”,
Conforme Rosana, apesar da propriedade contar com as oliveiras, o trabalho foi grande para colocar a produção em ordem. “As árvores estavam plantadas erradas, por falta de conhecimento do que tinha naquela época, o plantio foi feito imitando os europeus, mas, as nossas condições climáticas e de solo são muito diferentes. Foi preciso arrancar quase 2 mil plantas para arejar e ter o espaçamento correto”.

Azeite premiado
A primeira colheita das azeitonas ocorreu 10 meses após a compra da propriedade, mas ainda eram necessárias intervenções para o cultivo deslanchar. Olhando as oliveiras e achando as árvores tristes, mesmo em um período chuvoso, Rosana deu um toque feminino na produção, colocando música clássica para as oliveiras.
“Foi difícil. Na primeira colheita, as oliveiras estavam judiadas e tristes, Então, tive a ideia de colocar música para trazer alegria. Assim, começou o aperfeiçoamento da proposta de recuperação, de música, de entrar na mata, de cuidar da mata, mapear e cuidar dos funcionários”.
A produção sustentável, em todos os pilares, aliada aos cuidados agronômicos e ambiente agradável contribuíram para a produção do Azeite Monasto, que já possui oito premiações internacionais. Este ano, a produção do azeite deve chegar a 2,2 mil litros e a expectativa é participar de vários concursos.
O Monasto também se diferencia por ter sido o primeiro azeite extravirgem certificado em Minas Gerais. A certificação foi concedida pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).

Força da mulher
No Dia Internacional das Mulheres, Rosana ressalta que apesar dos avanços na atuação das mulheres, os desafios ainda são grandes para se alcançar a igualdade. “No Dia Internacional das Mulheres de 2024 falo que já conquistamos muitas coisas. Hoje, temos mulheres em cargos de liderança, assumindo negócios, mas ainda há muitas dificuldades. Que as mulheres busquem pelo empoderamento, que lutem para serem economicamente independentes, que se unam, que trabalhem em conjunto”.
Mulheres no agronegócio do café
A Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer), desde 2015, promove o Programa Elas no Café. De acordo com a cooperativa, o objetivo é ampliar a participação feminina no agronegócio café. Por meio de workshops, visitas técnicas, eventos e uma série audiovisual, o programa capacita e inspira mulheres em todas as etapas da cadeia produtiva do café.
Além de promover o conhecimento e a profissionalização, a iniciativa reconhece o importante papel das profissionais na cafeicultura, incentivando a inovação, a qualidade e a sustentabilidade.
Conforme a gerente de Cafés Especiais da Expocacer e idealizadora do programa, Sandra Moraes, o Elas no Café valoriza e estimula a crescente participação e representatividade feminina na cafeicultura e tem inspirado as mulheres a se dedicarem à cadeia produtiva do grão de forma a impactar o negócio da família.
Desde 2018, o número de cooperadas mulheres aumentou de 53 para 116, incluindo esposas, filhas e netas de cooperados. “Através do programa, oferecemos capacitação, facilitamos a troca de conhecimentos e proporcionamos experiências enriquecedoras. Além disso, comercializamos os cafés produzidos, destacando sempre a importância do trabalho feminino em todas as etapas, desde a lavoura até a xícara”, disse.

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