Agronegócio

Nova geração de mulheres levam mais inovação e sustentabilidade ao campo

Mineiras foram vencedoras de premiação, parceria entre Abag e Bayer e que aconteceu durante CNMA, em São Paulo; honraria destaca contribuições nas fazendas e na sociedade
Nova geração de mulheres levam mais inovação e sustentabilidade ao campo
Naiara Kasmim foi a 1ª em Média Propriedade | Foto: Divulgação CNMA

Mais do que ter o trabalho reconhecido, servir como referência para as futuras gerações é uma das maiores recompensas para as vencedoras do Prêmio Mulheres do Agro, realizado em São Paulo, em outubro. A honraria é fruto da parceria entre a Bayer e a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e, desde 2018, dá visibilidade às mulheres do setor em todo o Brasil, destacando suas contribuições no campo e na sociedade por meio das boas práticas agrícolas e a busca pela sustentabilidade. A premiação aconteceu durante a décima edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA).

As histórias agraciadas confirmam os resultados obtidos pela pesquisa “Produtoras rurais e a inovação no campo”, realizada pela Quiddity – consultoria de pesquisa especializada em estudos estratégicos de mercado e opinião pública – em parceria com a Bayer. O estudo lança luz sobre o papel das mulheres na modernização sustentável do agronegócio brasileiro. Aponta também que a inovação pode emergir de soluções criativas, como a valorização de resíduos que, ao invés de serem descartados, geram novas fontes de renda.

De maneira geral, mais de 80% dos entrevistados reconhecem que as mulheres possuem um importante papel no setor, agregando mais criatividade e propondo novas ideias, além de serem questionadoras.

De acordo com a sócia e diretora geral da Quiddity, Rebeca Gharibian, as mulheres têm a sensibilidade de perguntar: ‘e se for diferente?’

“As mulheres têm coragem de transformar essa pergunta em ação. Onde muitos veem descarte, elas enxergam possibilidade. Onde há problema, elas constroem solução. Sempre com um olhar de futuro e de resultados. O olhar da mulher é muito complementar ao do homem. Ela tem um interesse por sustentabilidade maior, tem esse cuidado que é inato. Ela é mais atenciosa aos detalhes, a pesquisa mostra isso. Então, a partir do momento que a mulher ocupa esse espaço no agro e pode levar esse olhar fresco, provocativo, passamos a ter um agro que, provavelmente, caminha para um lugar ainda mais sustentável do que ele é hoje”, explicou Rebeca Gharibian.

As produtoras mineiras tiveram destaque com premiações em todas as categorias. Vencedora na área de Ciência e Pesquisa, Dalilla Carvalho vê no prêmio um reconhecimento de sua carreira e uma fonte de inspiração para que outras mulheres persigam seus sonhos.

Dalila Carvalho
Dalilla Carvalho venceu em Ciência e Pesquisa | Foto: | Foto: Divulgação CNMA

“Esse prêmio significa muito porque traz toda a minha carreira, tudo que eu lutei para conseguir, o que eu tenho hoje. Eu gostaria que esse prêmio fosse inspirador para todas as meninas, todas as mulheres a sonharem alto, e que com o amor, com a dedicação que a gente faz, tudo é possível”, afirmou Dalilla Carvalho.

Ela se destaca por pesquisas voltadas ao manejo sustentável de doenças em plantas, com foco no uso de produtos naturais e biológicos. Sua atuação vai além do campo científico: coordena projetos que promovem inovação tecnológica, sustentabilidade ambiental e segurança alimentar, especialmente na cafeicultura e fruticultura do Sul de Minas, aproximando a pesquisa das demandas reais da agricultura e da formação de novos profissionais.

Apesar do engajamento e da influência crescente da mulher no agro ser reconhecida por 93% dos entrevistados, a pesquisa também aponta para a necessidade de ampliar seu espaço em cargos de liderança. Daí a importância de redes femininas para conectar histórias, inspirar ideias e impulsioná-las a buscarem mais espaço e a aplicarem a criatividade na busca de inovação e sustentabilidade.

O levantamento revela que 89% das produtoras rurais afirmam que eventos voltados a elas, como o Congresso Nacional das Mulheres do Agro, fortalecem conexões e impulsionam outras mulheres a ampliar sua atuação. Para 78% das respondentes da pesquisa, proporcionar mais visibilidade à atuação feminina no setor também contribui para o aumento da participação de mulheres no setor.

Juliana Basso, pecuarista de gado e leite e produtora de café, milho, semente e soja em Presidente Olegário, no Alto Paranaíba, vê o prêmio como uma forma de amplificar as vozes das mulheres na agricultura, incentivando-as a acreditar em seu potencial e a ocupar cargos de liderança. Ela ficou em terceiro lugar na categoria Grande Propriedade.

Juliana Basso
Juliana Basso: Grande Propriedade | Foto: Arquivo / Juliana Basso

Na Fazenda Três Pontas, está à frente do setor de gado jovem, sendo responsável direta pela criação e manejo das bezerras, com foco em bem-estar animal, sustentabilidade e alta produtividade. A propriedade, pertencente à família desde 1976, fornece diariamente 30 mil litros de leite. Ela lidera uma equipe majoritariamente feminina. A propriedade se destaca por suas práticas ambientais, como agricultura regenerativa, compostagem, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), plantio direto e gestão de resíduos, onde os dejetos são tratados e reutilizados como fertilizante e a casca do café vira cama para as vacas. Esse compromisso com a sustentabilidade é reforçado pela certificação Regenagri e pela instalação pioneira do sistema carrossel de ordenha na América Latina.

“Mais do que uma conquista pessoal, vejo esse prêmio como uma forma de dar voz a tantas mulheres que assim como eu acreditam no Agro, cuidam da terra e constroem um futuro mais sustentável. Quero usar essa conquista para inspirar outras mulheres a acreditarem no seu potencial, a se envolverem mais nas decisões, a ocuparem seus espaços com confiança, mostrar que é possível, sim, unir sensibilidade, força, técnica e amor pelo que fazemos, porque quando uma mulher do agro é reconhecida, todas nós avançamos juntas”, destacou Juliana Basso.

Busca por conhecimento marca trajetória de produtoras

Na categoria Pequena Propriedade, Fabiane Kiyoko Shimokomaki, produtora de café em Monte Carmelo, também no Alto Paranaíba, ficou em segundo lugar. Ela é engenheira agrônoma e gestora da Fazenda Santa Bárbara. Assumiu a gestão da propriedade há seis anos, após um processo de sucessão, e, desde então, mantém o compromisso de modernizar a produção, preparar a fazenda para novos mercados e dar continuidade ao legado deixado pelo pai.

Fabiane Kiyoko
Fabiane Kyioko: Pequena Propriedade | Foto: Arquivo / Fabiane Kiyoko

Entre as principais ações implementadas, a engenheira renovou metade da área de cultivo de café, modernizou maquinários, conquistou certificações e promoveu inúmeras práticas sustentáveis, como o uso de energia solar e práticas regenerativas no manejo do solo. Além disso, a propriedade adota logística reversa de embalagens, preservação de nascentes e uso de defensivos biológicos, reduzindo impactos ambientais e garantindo certificações como a Rainforest Alliance.

A produtora enfatizou que o prêmio valida sua trajetória e trabalho árduo, servindo de inspiração para outros, principalmente no que diz respeito à sucessão familiar na agricultura.

“O prêmio valoriza tudo o que estudei, me preparei, o meu esforço. Quando eu iniciei, tinham pouquíssimas mulheres, mas hoje, eu acredito, existem mais mulheres no agro ajudando, construindo a sua história, acredito que nós somos um movimento. A partir do momento que a gente se movimenta, outras pessoas se inspiram e esse movimento vai crescendo”, reforçou Fabiane Kiyoko Shimokomaki.

A busca por conhecimento tem se tornado peça fundamental para que suas ideias ganhem força e, em pouco tempo, tragam resultados surpreendentes no dia a dia do campo. Por isso, mais da metade das mulheres entrevistadas afirmam buscar capacitação de forma constante (51%) ou quando sentem necessidade (22%) por meio de cursos, palestras e eventos, não só para se manterem atualizadas e ganhar mais preparo, mas também para obter novas ideias e conseguir levá-las adiante na propriedade, mobilizando os que estão no seu entorno.

Na categoria Média Propriedade, Rhaíssa Martins Gustin – produtora de gado e leite em Monte Alegre de Minas, no Triângulo Mineiro – ficou em 3º lugar. Ela atua diretamente nas áreas de áreas de RH, contabilidade, estoque, protocolos sanitários e monitoramento de saúde via tecnologia. Desde que assumiu o posto, liderou avanços em sanidade animal, reduzindo a mortalidade de bezerras de 30% para 5% e antecipando a idade do primeiro parto de 31 para 25 meses. Sua gestão é baseada em dados, protocolos e planejamento estratégico com horizonte de até 10 anos.

Hoje, ela realiza o sonho de infância de cuidar de bovinos, ao passo que representa uma nova geração de lideranças femininas no agro, aliando rigor técnico, inovação e bem-estar animal em todas as etapas do negócio. A veterinária de formação vê o prêmio como um símbolo de reconhecimento pela sustentabilidade, gestão e igualdade de gênero no agronegócio, com o objetivo de inspirar mulheres jovens a fazer a diferença.

“A tecnologia tem um papel fundamental na nossa busca por sustentabilidade. Com as ferramentas certas, conseguimos aumentar a eficiência produtiva do rebanho e ao mesmo tempo melhorar a qualidade do leite. Também adotamos o uso de energia renovável e sistemas mais automatizados, que tornam o trabalho da equipe cada vez mais leve e mais seguro. Além disso, conseguimos produzir também mais alimentos com menor impacto ambiental”, explicou Rhaíssa Gustin.

Rhaíssa Gustin
Rhaíssa Gustin: 3º lugar em Média Propriedade | Foto: Divulgação CMMA

Na categoria Média Propriedade, mais uma mineira levou o prêmio. A primeira colocação coube à produtora de café e pecuarista em Varginha, no Sul de Minas, Naiara Kasmin de Oliveira. Representante da terceira geração à frente da propriedade fundada em 1958, assumiu as responsabilidades, gradualmente, como “sombra do pai”. Com visão empreendedora, a produtora triplicou a produção de leite e implantou melhorias na infraestrutura e no manejo, incluindo práticas sustentáveis. Também fortaleceu o laticínio da fazenda, que já fornece leite pasteurizado há mais de 35 anos, e agora está implementando uma queijaria para expandir a linha de derivados.

Naiara Kasmin
Naiara Kasmim foi a 1ª em Média Propriedade | Foto: Divulgação CNMA

“Esse prêmio reforça que o trabalho que estamos fazendo, está no caminho certo. Isso inspira as pessoas que estão à nossa volta. A gente faz parte de um grupo de mulheres, a gente está sempre falando sobre sucessão, agricultura regenerativa, sustentabilidade e gestão. A gestão no agro é o que mais pesa hoje. A gente tem que ter os números todos bem escritos, bem acompanhados, porque tudo é muito instável. Então, para permanecer no campo, a gente tem que fazer aquilo como um negócio”, pontuou Naiara de Oliveira.

O posicionamento da produtora de café condiz com os dados da pesquisa que constatou que as cinco práticas mais adotadas em suas propriedades são rotação de culturas (89%); preservação de áreas nativas (87%); plantio direto (82%); uso de bioinsumos (80%) e práticas de agricultura regenerativa (80%). Já dentre as iniciativas que as entrevistadas gostariam ainda de implementar, destacam-se a adoção de novas tecnologias, como softwares de gestão para aumento de produtividade (33%), tecnologias para mapeamento de solo (29%) e uso eficiente de água e energia renovável, ambas com 27%.

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