Agronegócio

Número de cavalos mortos e intoxicados por ração pode superar 200 em Minas Gerais

Levantamento extraoficial é feito por advogada representante de parte de criadores; laudos do Mapa já haviam confirmado substância tóxica em produto fabricado pela Nutratta Nutrição Animal
Número de cavalos mortos e intoxicados por ração pode superar 200 em Minas Gerais
Mapa confirma morte de 284 equídeos em quatro Estados; subnotificação pode estar acontecendo | Foto: Reprodução Adobe Stock

Os casos de equídeos mortos ou intoxicados suspeitos de ligação ao consumo de ração da empresa Nutratta Nutrição Animal podem superar de forma significativa as estimativas divulgadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). De acordo com o Mapa, são 284 equídeos mortos em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas após o consumo de rações da marca. Porém, levantamento extraoficial – feito por um grupo de criadores – aponta para quase 1.000 mortes de cavalos no País.

Em Minas Gerais, os casos de morte – dados extraoficiais – somam 71. Entre animais em tratamento, observação, prenhezes e embriões são mais 141, somando, então, 212 afetados no Estado. O Mapa não divulgou dados regionais.

A diferença entre os números do Mapa e dos criadores, segundo a advogada Alessandra Silva Nunes Agarussi, responsável pelo levantamento e representante de parte dos produtores, acontece pela falta de notificações dos casos pelos criadores ao Mapa. A advogada reforça que é preciso que os criadores que perderam animais após o consumo da ração notifiquem ao órgão federal. 

“Eu considero a denúncia ao Mapa, através da ouvidoria do Fala.BR, muito importante, por oficializar a morte do animal a um órgão federal. Essa notificação é uma prova judicial. O Mapa permite, inclusive, que o criador carregue documentos na página da ouvidoria. Porém, hoje, os casos têm sido subnotificados”, alerta Alessandra Agarussi.

Os dados levantados pela advogada, com base em informações repassadas por criadores, somam 788 equídeos mortos; 11 prenhezes perdidas; 33 embriões absorvidos e 512 animais em tratamento e outros 409 em observação. Ao todo, são 1.753 animais afetados. Além de Minas, os casos foram relatados em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Alagoas, Rio Grande do Norte, Bahia e Santa Catarina.

Considerando somente os números captados junto a criadores mineiros, foram 71 mortes, quatro prenhezes, dois embriões, 79 equídeos em tratamento e 56 em observação. Os casos suspeitos de ligação ao consumo de ração da empresa Nutratta Nutrição Animal estão distribuídos em 19 cidades em várias regiões do Estado. Entre elas estão Uberlândia; Pedro Leopoldo, Jequeri, Guaranésia, Canápolis, Mariana, Muzambinho, entre outras. 

A advogada explica que para os criadores que tiveram perdas é importante reunir documentos para a tomada de decisões – desde notas fiscais da compra de ração até laudos veterinários. “Na esfera criminal, está sendo instaurada investigação para saber se houve cometimento de crime. Particularmente, eu entendo que sim. Houve crime ao consumidor e ambiental”, reitera.

O número de animais afetados em Minas Gerais e no Brasil pode ser ainda maior, uma vez que, segundo a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), os danos em cavalos que consumiram ração contaminada podem aparecer até seis meses após a exposição ao alimento.

Por isso, a notificação dos casos ao Mapa também é defendida pela presidente da ABCCMM e presidente da Comissão Nacional de Equideocultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Cristiana Gutierrez. Segundo ela, ainda não é possível mensurar a real extensão do problema. 

“É preciso que os criadores comuniquem as perdas ao Mapa. Não sabemos ainda a real extensão do problema porque os sintomas podem aparecer até seis meses pós-consumo”, confirmou.

Como adiantado durante coletiva na Exposição Nacional do Mangalarga Marchador, na semana passada, no Parque da Gameleira, na Capital, a ABCCMM está acompanhando os casos de mortes de cavalos após consumo da ração da Nutratta. A presidente explicou que a associação apresentou um ofício à Procuradoria-Geral de Justiça, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), para que medidas cabíveis sejam acertadas. Ela ressaltou que a situação afeta diretamente Minas Gerais, mas que o número exato de vítimas ainda é desconhecido.

“Nós tivemos muitos criadores prejudicados e com perdas de animais. Não temos um levantamento preciso, não somos órgão de inspeção, então, o que temos feito é apoiar os associados no sentido de pedir  providências. É uma tragédia realmente para todas as raças”, confirmou, na semana passada.

Os prejuízos para a raça são considerados altos, inclusive com a perda da genética.

“Para a raça é um prejuízo enorme assim como para o criador, para a genética e também nos esportes. Entre os animais mortos, tem garanhões condominiados e de alto valor zootécnico. O que mais nos assusta é que a gente não sabe a extensão real do problema”, alertou a presidente da ABCCMM.

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