Laticínios mineiros podem exportar para a China

O anúncio da habilitação de 24 laticínios brasileiros, sendo cinco em Minas Gerais, para a exportação de produtos lácteos para a China foi bem avaliado pelo setor produtivo do Estado. A expectativa é de que os chineses importem das plantas mineiras queijos, leite condensado, manteiga e leite em pó.
A exportação dos produtos será favorável para o Estado, porém, é preciso avançar na produção, uma vez que o País segue importando leite em pó do Mercosul. A confirmação do negócio foi feita pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
De acordo com as informações divulgadas pelo Mapa, com a abertura do mercado, a estimativa do setor produtivo de lácteos é exportar US$ 4,5 milhões em produtos lácteos ao ano para os chineses. A certificação estava acordada com o país asiático desde 2007, mas não havia nenhuma planta brasileira habilitada a exportar. Os chineses são os maiores importadores do mundo de lácteos.
Das plantas aptas a exportarem para a China, cinco estão em Minas, sendo três da Itambé Alimentos e duas do Laticínio Tirolez. As fábricas da Itambé estão localizadas em Sete Lagoas (leite em pó), Guanhães (leite em pó e manteiga) e em Uberlândia (leite em pó). As unidades dos Laticínios Tirolez estão em Tiros (queijo) e Arapuá (manteiga).
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Desafios – Para o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Alvim, a permissão para exportar lácteos para a China é um avanço muito importante e requerido pelo setor há muitos anos, mas um dos desafios será ampliar a produção interna de leite.
“Liberar o mercado chinês é uma grande conquista. Aliás, esta era uma tentativa de muitos anos. É um avanço enorme para o setor do leite, e ter 24 indústrias habilitadas no País e capacitadas para exportar para China é um avanço ainda maior. Agora, nós precisamos ter leite. O Brasil está importando o produto do Mercosul, embora o volume tenha caído. Se o Brasil começar a exportar leite na demanda que a China tem, que é sempre muito grande em tudo, o País ficará desabastecido”, explicou.
Ainda segundo Alvim, a expectativa é começar logo as exportações e a tendência é de que os volumes aumentem com o tempo. Mas será preciso planejamento para atender à demanda. A projeção é de que o Brasil, assim como em outros produtos do agronegócio, torne-se um grande exportador de lácteos.
“Acho que este é um processo que deu um start, abrimos o mercado e temos indústrias credenciadas a exportar e vamos começar certamente. O Brasil já estava exportando algum queijo e vamos ampliar essa exportação para a China. Também vamos começar a exportar, provavelmente, leite condensado e leite em pó. Mas nada que abasteça a China. Esse é um processo que felizmente terá início e, certamente, vai crescer com o tempo. O Brasil tem vocação para ser um grande produtor de leite: já é exportador e o maior de vários produtos do agronegócio. Provavelmente, seremos do leite também, mas isso demanda tempo. Você não aumenta a produção de uma hora para outra e uma vaca demora três anos entre o nascimento e o início da produção de leite. Vai demandar tempo, mas vamos abraçar esta oportunidade e conseguir atender à demanda, nem que seja parcialmente”, destacou.
Além de diversificar a pauta exportadora e embarcar produtos com maior valor agregado, a tendência é de que os preços pagos aos produtores de leite no mercado interno fiquem mais estáveis.
“As exportações de produtos para a China irá contribuir para a formação de preços para o produtor. Agora, não vamos esquecer que, para exportar, precisamos ter competitividade, que significa competir com produtores e exportadores externos. Então, não vamos achar que vamos vender leite mais caro porque vamos exportar. Não é bem assim, precisamos ter juízo, entender como é o mercado, como funciona, identificar os maiores players do mercado e, assim, vamos avançando”.
Indústrias precisarão reduzir custos
Para o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios de Minas Gerais (Silemg), Celso Moreira, a abertura do mercado chinês e a habilitação de plantas mineiras são importantes para toda a cadeia láctea. Porém, é preciso avançar nos processos para reduzir os custos e se tornar competitivo em relação a outros países como a Nova Zelândia e a Austrália, que são grandes produtores e já exportam produtos para a China.
“A abertura do mercado chinês para derivados do leite é muito importante e digna de ser comemorada. O setor vem trabalhando e tentando estabelecer a regra de comercialização com a China há muito anos. As negociações foram simples devido ao código sanitário chinês a ser superado e a burocracia do Brasil. Agora, precisamos ficar aptos, do ponto de vista concorrencial, para realizar a comercialização com o mercado chinês. Serão necessários ajustes em toda a cadeia produtiva do leite para reduzir custos para concorrer com a Nova Zelândia e com a Austrália, que já são parceiros comerciais da China, estão sintonizados com as regras chinesas e têm vantagens geográficas mais favoráveis que o Brasil”, explicou Moreira.
Líder em produção – Ainda segundo o representante do Silemg, a produção nacional de leite gira em torno de 33 bilhões de litros ao ano, sendo que Minas Gerais é o maior produtor, com um volume de 9 bilhões de litros ao ano. Devido à crise econômica e ao comprometimento da renda da população, a produção de leite está estagnada e a retomada do crescimento depende das exportações.
“Tivemos queda de produção de leite a partir de 2014, isso porque o consumo está diretamente proporcional à renda. Hoje a produção está estável e equilibrada com o consumo. O leite produzido no Brasil é vendido no Brasil, o volume exportado é muito pequeno. Para ampliar a produção não temos outra alternativa a não ser atuar no mercado externo, e a China é uma grande oportunidade”, disse Moreira.
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