Agronegócio

Pesquisa da UFLA aposta em espécies nativas para reduzir dependência de eucalipto e pinus

Projeto financiado pela Fapemig busca melhorar geneticamente árvores brasileiras e ampliar opções produtivas para o setor florestal
Pesquisa da UFLA aposta em espécies nativas para reduzir dependência de eucalipto e pinus
Foto: Divulgação / FUNDECC

A Universidade Federal de Lavras (UFLA) está desenvolvendo uma pesquisa voltada ao melhoramento genético de espécies florestais nativas, para oferecer alternativas economicamente viáveis ao cultivo de eucalipto e pinus. Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e administrado pela Fundação de Desenvolvimento Científico e Cultural (Fundecc), o projeto pretende ampliar a competitividade das nativas no mercado florestal brasileiro, que é dominado por espécies exóticas.

Segundo o coordenador do projeto, professor Lucas Amaral de Melo, o trabalho tem foco em transformar o potencial genético das árvores brasileiras em resultados produtivos. “Nosso objetivo é gerar dados consistentes que permitam ao produtor rural adotar espécies nativas com segurança e retorno econômico”, explica.

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Pesquisa acompanha o ciclo das mudas e seleciona as mais adaptadas

No viveiro da UFLA, o estudo acompanha o desenvolvimento de milhares de mudas originadas de mais de 80 árvores matrizes, entre elas o ipê-felpudo (Zeyheria tuberculosa). As sementes são coletadas e identificadas individualmente, o que permite observar diferenças de germinação e crescimento entre as progênies. Essas variações servem de base para a seleção genética das plantas mais promissoras.

A Fundecc é responsável pela gestão administrativa e financeira dos recursos, assegurando a execução das etapas de campo e a manutenção das estruturas de pesquisa.

Geminação

A germinação é considerada um dos maiores entraves para o avanço das espécies nativas em escala comercial. De acordo com o professor Lucas Amaral, cada árvore apresenta características próprias que exigem adaptações técnicas.

Com o louro-pardo (Cordia trichotoma), os pesquisadores identificaram que a prática de secar e armazenar sementes era ineficiente, pois o sucesso da germinação dependia do ponto exato de maturação. A solução foi realizar a semeadura logo após a coleta. Já o ipê-felpudo apresentou germinação uniforme em cerca de 30 dias, demonstrando boa adaptação às condições de viveiro.

“O método de trabalho é rigoroso: primeiro observamos e testamos, depois conduzimos experimentos formais para comprovar as hipóteses. Só assim o conhecimento deixa de ser empírico e passa a ser científico”, explica o pesquisador.

Espécies com diferentes potenciais econômicos

A iniciativa abrange espécies com usos diversos. O ipê-felpudo, o louro-pardo e o vinhático são estudados pela qualidade da madeira; a sapucaia é avaliada pelo potencial de sua amêndoa, semelhante à castanha-do-Brasil; e a candeia, da qual se extrai o alfa-bisabolol usado na indústria de cosméticos, integra uma parceria com a empresa Cirtroleo, voltada à pesquisa aplicada e transferência de conhecimento para o setor produtivo.

Além do retorno econômico, o projeto destaca o papel ambiental das nativas na restauração de ecossistemas e na captura de carbono. Espécies adaptadas a cada região contribuem para o sequestro de CO₂ e fortalecem a conservação genética da flora brasileira. “Quando cultivamos e replicamos espécies nativas, promovemos também sua conservação. É uma forma de unir produção e preservação”, afirma o coordenador.

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