Agronegócio

Preço pago ao produtor registra recorde no País em março

Preço pago ao produtor registra recorde no País em março
Aumento da oferta e queda no consumo de leite e derivados foram responsáveis | Foto: Eduardo Seidl/Palácio Piratini

Rio de Janeiro – Com o impacto do aumento dos custos no campo, o preço médio do leite pago aos produtores bateu recorde no País em março, indicam dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Segundo analistas, o efeito da alta não se esgota no estágio inicial da cadeia produtiva. O avanço também reduz margens de lucro na indústria e volta a pressionar o bolso dos consumidores nas cidades.

Em março, o preço do litro de leite pago aos produtores foi de R$ 2,2104 na média do Brasil, conforme o Cepea. Trata-se do maior valor para o mês na série histórica da instituição, iniciada em 2005, em termos reais – ou seja, com o desconto da inflação.

O preço é 4,1% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. O valor pago é relativo ao leite captado no mês anterior – neste caso, fevereiro.

De acordo com o Cepea, o aumento não se traduz em ganhos elevados para os produtores. É que, segundo o centro de estudos, o avanço decorre principalmente da alta dos custos, que vem limitando investimentos na atividade e, consequentemente, o potencial de oferta.

De janeiro para fevereiro, o Índice de Captação Leiteira do Cepea refletiu esse cenário. Houve baixa de 0,63% na oferta do produto.

“A gente observa alta nos custos para produtores, indústria e consumidor. Ninguém está ganhando dinheiro com isso”, afirma a pesquisadora do Cepea Natália Grigol, que acompanha o setor.

Os custos de produção de leite e derivados ganharam força na pandemia com a valorização de commodities como milho e soja, lembra a pesquisadora. Os grãos são usados como insumos para a alimentação animal.

Se não bastasse isso, o setor também foi afetado pelos reflexos do clima adverso nos últimos meses.

A região Sudeste teve episódios de chuva em excesso, enquanto o Sul passou a amargar período de seca. Os fenômenos extremos castigaram diferentes plantações, incluindo pastagens e milho.

“É uma pressão de custos em um contexto de consumo muito delicado”, afirma Grigol, em referência ao fato de a inflação alta e a renda baixa desafiar o crescimento da demanda por lácteos no País.

Os gastos também ficaram maiores do lado de fora das propriedades rurais. Os custos com transporte de leite para a indústria, por exemplo, são impactados pela disparada dos combustíveis.

Nas fábricas, houve ainda pressões vindas da alta da energia elétrica e do avanço dos preços das embalagens.

“Uma série de fatores vem impactando. Os aumentos de soja, milho, petróleo e energia elétrica significam muito na produção de leite e derivados”, diz Cláudio Meirelles, presidente da Cooperativa de Barra Mansa, no estado do Rio de Janeiro.

Segundo ele, indústrias do setor vêm operando a venda de leite com margens “no vermelho” em razão dos custos elevados.

“O consumidor está endividado. Ele não tem mais espaço para grandes aumentos”, afirma Meirelles.

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