Prejuízos do setor sucroenergético já superam R$ 180 milhões por causa de incêndios

Os incêndios que têm ocorrido em Minas Gerais já impactam o setor sucroenergético do Estado, que contabiliza prejuízos que podem ultrapassar os R$ 180 milhões, número que pode ser ainda maior com o passar dos dias, por conta da estiagem que vem castigando a cana-de açúcar.
Apenas na região do Triângulo Mineiro, responsável por 78% da produção de cana do Estado, foram queimados aproximadamente 45 mil hectares de plantações sendo que 30 mil hectares ainda haveria colheita, correspondendo a cerca de 2 milhões de toneladas.
O alerta foi feito pelo presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig Bioenergia), Mário Campos, que acredita que o prejuízo pode ser ainda maior. “Nós fizemos o levantamento até o final da última semana e chegamos a um número ainda preliminar, porque nesta semana ainda continuamos recebendo relatos de muito mais ocorrências de incêndios nos canaviais na região do Triângulo”, projeta.
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Diante desse cenário, o dirigente acredita que haverá um impacto para a próxima safra. “Colhemos 70% da safra do Estado e Minas Gerais é o segundo maior produtor de cana do Brasil. Mas, para o próximo ano, além do efeito da seca desse ano, já era esperada uma queda da produtividade, com menos cana por causa da seca. Agora, com os incêndios, com certeza, teremos ainda mais perdas nos canaviais. Então, a perspectiva para a safra que vem é de uma redução da produção de cana e, consequentemente, uma baixa na produção de açúcar e de etanol”, avalia.
De acordo com Campos, dos 45 mil hectares de cana afetados com incêndios até então, 30 mil hectares eram áreas que ainda não houve colheita. “Os outros 15 mil hectares eram de área de palhada, ou seja, já tinha sido realizada a colheita nos meses anteriores, ainda tinha palha, mas, em muitas dessas áreas, a cana já tinha brotado e aí ocorreu o incêndio”, explica.
Conforme o dirigente, se a cana já tinha broto, ele se perdeu, então é necessário esperar para ver como ficou a brotação. “O momento é de avaliar se vai ser necessário fazer algum tipo de replantio, o que é muito caro. Replantar cana não é uma atividade anual, é uma atividade de cinco, seis, ou até sete safras. Hoje, o replantio custa entre R$ 13 mil e R$ 14 mil por hectare. Então, é um efeito muito pesado no bolso produtor rural e para as usinas que também plantam cana”, considera.
Campos explica ainda que, na área de cana queimada, é necessário moer o mais rápido possível, senão ela perde toda a sua característica. “Não conseguimos cristalizar a sacarose, ou seja, não conseguimos fazer açúcar. O etanol ainda se consegue produzir, por isso, neste momento vemos um mix um pouco mais elevado para etanol dessas canas que entraram nas usinas. O produtor tem compromissos no mercado de açúcar e boa parte dele seria exportado. O fato de ter impacto na produção de açúcar é muito ruim para todo o setor”, diz.

Foto: Willian Dias/ALMG
Audiência debate incêndios e reflexos na produção de cana
Para debater os impactos dos incêndios rurais no agronegócio de Minas Gerais, a Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) promoveu uma audiência pública na última quarta-feira (11).
O encontro abordou as consequências dos incêndios, especialmente para o setor sucroenergético, uma vez que o Estado é o segundo maior produtor de cana-de-açúcar do País.
O presidente da Comissão e requerente da reunião, deputado Raul Belém (Cidadania), destacou que vivemos algo inédito em termos climáticos. “Nunca passamos por uma estiagem tão severa e tantos danos provocados por incêndios, daí a necessidade de reavaliar, permanentemente, a capacidade do Estado de enfrentá-los. O setor produtivo não é culpado pelos incêndios e, na prática, é mais uma vítima do fogo”, destacou.
Na ocasião, o presidente da Siamig Bioenergia, Mário Campos, defendeu uma limpeza mais eficiente das faixas de domínio das rodovias, “pois muitas delas cortam áreas com plantações, matas ou vegetação seca” e alertou sobre “a necessidade de uma ação mais eficaz da Cemig na manutenção preventiva contra incêndios, com a substituição de estruturas antigas, como postes de madeira”, disse.
O dirigente também apontou a necessidade de reestruturação do programa Previncêndio, com medidas como a disponibilização exclusiva de aeronaves de combate a incêndios nas regiões mais vulneráveis durante o período crítico, de julho a setembro.
Além disso, Campos também cobrou mais investimentos em infraestrutura e pessoal do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar Ambiental, mesmo enfatizando a infraestrutura de combate a incêndios que as empresas do setor sucroenergético já possuem.
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