Agronegócio

Presidente eleito da Faemg defende sustentabilidade e mais ações no interior

Presidente eleito da Faemg defende sustentabilidade e mais ações no interior
Crédito: Ignácio Costa/Faemg

“Menos BH e mais interior” é um dos lemas que vão nortear a gestão de Antônio Pitangui de Salvo, que tomará posse nesta terça-feira (16) como presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg), para o mandato 2021/2025. Toninho de Salvo, como é conhecido, substitui Roberto Simões, que esteve no cargo por 16 anos.

Nascido em Belo Horizonte, Salvo é engenheiro agrônomo, formado pela Universidade Federal de Viçosa, e a quarta geração de produtores rurais de sua família, proprietário das fazendas Mundo Novo e Canoas, na cidade de Curvelo, na região Central de Minas. Casado, pai de dois filhos, o pecuarista é filho do ex-presidente da Faemg e da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), Antônio Ernesto de Salvo, já falecido.

No currículo, além da ampla experiência com a pecuária, o engenheiro agrônomo traz as presidências da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Carne Bovina do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da CNA, e do Sindicato dos Produtores Rurais de Curvelo (onde ocupou o cargo de presidente por quase três mandatos), além de uma das vice-presidências da Faemg.

Trabalha com sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) há 12 anos, mantendo suas propriedades no protocolo Carne Carbono Neutro (CCN).

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A posse de Antônio de Salvo está marcada para 20h, no auditório do ExpoMinas. Em entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, ele fala um pouco dos planos e desafios do agronegócio. Elogia a gestão de Roberto Simões e mostra sua visão sobre temas como sustentabilidade, crise hídrica e o recente embargo chinês à carne brasileira.

O senhor assume a presidência da entidade mais representativa do setor rural em Minas Gerais. Qual é a sua principal pauta?

Representar e defender legitimamente os produtores rurais mineiros, com transparência e presença em todo o interior de Minas Gerais.

Na sua opinião, quais os principais desafios do setor hoje?

Que os sistemas Faemg, Senar, Inaes e sindicatos sejam o porta-voz dos produtores dentro do nosso agro mineiro.

Quais são os projetos prioritários para o Sistema Faemg em sua gestão?

Aproximação com sindicatos rurais e, consequentemente, com os produtores rurais. Nosso lema é “Menos BH, mais interior”.

Como o senhor avalia o trabalho desenvolvido na entidade por Roberto Simões?

Excelente, o sistema (Faemg) tem muito respeito não só em Minas Gerais, mas em todo o Brasil.

Como trabalhar de forma eficiente produção rural e meio ambiente?

Trabalhamos em nossas atividades sempre de maneira sustentável. Ninguém respeita mais o meio ambiente do que nós, produtores rurais. Se comparados com os demais produtores de produtos agrícolas do mundo, nós (agro brasileiro) somos tão sustentáveis que não precisamos nem de subsídios, como os países maiores produtores do mundo, nossos concorrentes, têm. Se você pegar a União Europeia, ela tem subsídio em quase todas as cadeias produtoras. Nós, além disso, preservamos 63,3% do nosso território. Então, talvez esse seja o nosso problema. Nós preservamos tanto que agora querem que a gente mantenha tudo preservado. Então, ok, paguem por nós o nosso passivo ambiental todo, que a gente preserva até mais. Mas sem pagar, nós vamos continuar utilizando as nossas áreas já centenariamente abertas, mantendo-as produtivas, como estamos fazendo, e usando, exatamente, tecnologia, inovação e gestão.

Historicamente, a seca atingia com mais intensidade a região Norte do Estado. Hoje, longos períodos de estiagem atingem diversas outras regiões, como o Leste e o Sul de Minas. Qual é, na sua opinião, o caminho que o produtor rural deve trilhar para elevar a produtividade e a produção nesse cenário climático que se mostra cada vez mais preocupante?

Com gestão, inovação e tecnologia para vencer as adversidades climáticas existentes.

Segundo especialistas, como mostra a última reportagem com o tema água do projeto #JuntosPorMinas do DIÁRIO DO COMÉRCIO, a gestão dos recursos hídricos tem deixado a desejar, e a longa estiagem que vivemos recentemente foi anunciada já em 2013. Como o senhor vê essa questão?

Tirando “São Pedro”, somos nós, o agro, o único segmento produtivo que produz água. Estamos fazendo a nossa parte, de maneira sustentável, crescente e com muita eficiência. Nós estamos saindo de uma seca, de um período cíclico histórico. Mas isso é normal. Se você for ali na mina de Morro Velho, que mede chuvas desde 1897, verá, nitidamente, que isso já aconteceu no passado. E também há relatos de centenas de anos atrás de secas e de chuvas. Eu não considero que isso seja um fato específico de aquecimento ou de resfriamento ou qualquer outra coisa em termos globais. Acho que estamos saindo de uma fase de déficit hídrico. Então, avaliar o poder público neste momento, é difícil. Precisa de uma facilidade de utilização dos recursos hídricos dentro do nosso Brasil, que possui o maior recurso hídrico do mundo. Então, é ter competência, juízo e desvincular isso ideologicamente das coisas, para que a gente possa continuar avançando nos locais onde necessitar irrigação e preservar nascentes. A atuação do poder público nesse ponto tem que ser feita tecnicamente, por pessoas conhecedoras dos reais sintomas dos nossos recursos hídricos.

Como o senhor vê a postura do governo federal em relação ao agronegócio? Tem contribuído?

Tem contribuído muito bem. Temos uma equipe no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) comandada pela ministra Tereza Cristina, conhecedora dos nossos problemas. Além disso, a ministra é muito atuante e acessível.

E como o senhor vê a postura do governo do Estado em relação ao agronegócio?

Também contribui. A secretária (de Agricultura, Pecuária e Abastecimento) Ana Valentini tem nos apoiado bastante. Além disso, o governador Romeu Zema é bastante sensível às causas e necessidades do nosso agro mineiro.

O caso da manutenção do embargo chinês, que começou em setembro, à carne bovina brasileira, em razão de casos atípicos de vaca louca mostra que, mesmo as autoridades dos estados (MG e SP) esclarecendo que não há riscos, o país asiático ainda segue reticente e comprando menos carne brasileira. O que falta, seja da parte das autoridades brasileiras, seja dos produtores ou do governo da China, para que esta questão se resolva?

Tudo foi devidamente esclarecido. Falta vontade do governo chinês em comprar carne brasileira.

O senhor é da área de genética animal. Quais têm sido os principais avanços e desafios desse segmento do agro?

Transferir todo o avanço genético e de gestão para os nossos produtores mineiros. Isso é um grande desafio. A assistência técnica e gerencial que tanto a nossa Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) e o nosso Senar têm feito são importantes para que a gente consiga fazer essa transferência do avanço genético e de gestão.

Falando especificamente em Minas Gerais, acha que é possível diversificar ainda mais o agronegócio no nosso Estado? Em quais áreas o senhor vê mais potenciais?

Cada vez mais o agro mineiro se diversifica, como, por exemplo, a produção de uvas e a produção de azeite, que não eram produtos típicos das nossas Minas Gerais. Nós temos, sem dúvidas, a maior diversidade em produtos agrícolas em todo o Brasil. Vamos diversificar mais na medida em que as culturas atuais fiquem pouco viáveis. Nós tínhamos, por exemplo, o café em São Paulo, e isso foi mudando para cana-de-açúcar. Nós estamos vendo, também no caso do café, mas, especificamente, em Minas, uma mudança em algumas áreas, depois das geadas deste ano, para outras culturas. E quem tem topografia também está diversificando para soja, para milho ou algodão. Então, a diversificação é econômica. À medida em que o produtor vê que aquele produto não é mais tão lucrativo como foi num passado recente, ele diversifica. Mas nós, mineiros, na realidade, temos a maior diversidade de produtos comparado com os demais estados brasileiros.

Qual o balanço que o senhor faz do agronegócio em 2021?

Ano difícil, devido à continuidade da pandemia. Mas estamos avançando de maneira sustentável, qualificada, equilibrada e produtiva.

E quais as expectativas para o próximo ano?

Acreditamos em Minas e no Brasil e nas potencialidades dos nossos produtores rurais. Vamos seguir em frente, produzindo alimento, fibras e energia, para melhorarmos a vida do cidadão brasileiro.

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